(Trechos do Cordel)
A CANGACEIRA DADÁ
O cangaço nordestino
Hoje é apenas modismo
Não existe mais cangaço
Coronéis ou carrancismo,
Entre trapaças e engodos
Findaram matando todos
Chamando de banditismo.
Tempo do Coronelismo
Ainda hoje continua,
Gente marginalizada
É o que se ver pela rua,
E a falsa democracia
Ao grande dá regalia,
Ao pequeno senta a pua.
O cangaço continua
Apenas modificado
O cangaceiro de hoje
Anda todo engravatado,
Faz a lei, a regalia,
Sanciona a democracia
De acordo com o seu agrado.
O cangaço do passado
Era feito de assassino
Nas caatingas do Nordeste
Nasceu, cresceu, foi a pino,
Sempre em nosso tabuleiro
Mas nem todo cangaceiro
Tinha que ser nordestino.
O assunto a que me destino
Neste folheto contar
Retrata uma menina
De uma beleza sem par
Lá do Norte brasileiro
Seu nome, Sérgia Ribeiro,
Conhecida por Dadá.
Zona rural do Pará
Nasceu e por lá vivia
Em contato com nativos
Até que chegou o dia
Que o pai reúne o que é seu
Deixa a terra onde nasceu
E vem morar na Bahia.
No Nordeste chegaria
Onde era seu destino
E encontra alguns parentes
Dentre eles um menino
Loiro, bonito, um colosso,
Tinha pinta de bom moço
Mas tinha instinto ferino.
O seu nome era Cristino
Já um homem em formação
Convocado pelo Exército
Lá foi servir a Nação
Porém logo desertou
E na fuga se aliou
Ao bando de Lampião.
E ao chegar no sertão
Pensou logo em visitar
Os primos recém chegados
Daí conheceu Dadá,
Menina-moça, formosa,
E com dois dedim de prosa
Começaram a namorar.
Ela se deixou levar
Na conversa do bandido
Que carregou a menina
Tendo ela se arrependido
Mas não adiantou nada
Terminou sendo estuprada
Mesmo sem ter concedido.
Ficam no mato escondido
Com ela passando mal
Pois o seu defloramento
Quase que lhe foi fatal
Depois foi se acostumando
E permaneceu no bando
Amante do marginal.
Tornou-se ela afinal
Com aquela relação
Figura bem comentada
Nas caatingas do sertão
Mostrando soberania,
Antes dela, só Maria,
A mulher de Lampião.
Tiveram nessa união
Sete filhos nos brenhados
Por um ou outro parente
Tiveram que ser criados
Assim o casal de amantes
Foram inimigos antes
E terminaram casados.
A menina do passado
Tornou-se mulher bandida
Primeira a usar um rifle
E muito mais destemida
Do que muitos bandoleiros
Que mesmo ao ser cangaceiros
Temiam perder a vida.
Ela era desinibida,
Sabia ganhar dinheiro,
No cangaço ou fora dele
O que chegasse primeiro,
Na cura foi benzedeira
Chegou até ser parteira
De esposa de coiteiro.
Seu marido, o cangaceiro
Mas valente do sertão
E cabra de confiança
Do temível Lampião
Loiro, ligeiro e arisco
Apelidado Corisco,
Diabo Loiro e Alemão.
Com um ferimento na mão
Fica impossibilitado
De combater com o bando
Mas a mulher do seu lado
Tomou parte na ativa
E não só na defensiva,
Combatendo lado a lado.
Corisco considerado
O terror da bagaceira
Foi muitas vezes freiado
Pelas mãos da companheira
Que maneirava seus atos
Salvando muitos maltratos
E vidas na capoeira.
Nessa vida cangaceira
O apelido é que contava
Lampião, Corisco, Modesto,
Lamparina, Moita Brava,
Maria Bonita, Mormaço,
«Sussuarana do Cangaço»,
Assim Dadá se chamava.
O cangaço definhava
Pela falta de armamento
Cangaceiros sucumbiam
Mortos por fuzilamento
Com a morte de Lampião
A polícia do sertão
Reforça o destacamento.
Corisco, mais violento
Tentou vingar Lampião
Mas seu bando foi cercado
Piorando a situação
E o fim dessa derrocada
Foi cabeça decepada,
Corpos rolando no chão.
Escondidos no sertão
Corisco com sua amante
Mudam os trajes do cangaço
Pra roupas de retirantes
E viram agricultores
Tidos pelos arredores
Como simples sitiantes.
Mas a polícia que antes
Vinha em sua batida
Descobrem o esconderijo
E numa só investida
Roubam todos seus valores,
Matam os trabalhadores
E Corisco perde a vida.
Dadá, que saiu ferida,
Teve uma perna amputada
Mas escapou da chacina
E transferiu a morada
Pra Capital dos baianos
Onde viveu muitos anos
Com outro sendo casada.
Findou homenageada
Na Câmara que concedeu
Um prêmio pela mulher
De coragem que venceu
Mas nunca teve esquecido
O seu primeiro marido
Nem do jeito que morreu.
Dadá não se convenceu
E a todos ela dizia
Que no dia do ataque
O que a polícia queria
Não era só lhes matar
Pois foram lá prá roubar
Tudo que eles possuia.
Outras crianças teria
Com quem ela se casou,
Mas os filhos com Corisco
Nenhum ela abandonou.
Desencarnou destes planos
Com setenta e oito anos
Num bairro de Salvador.
De um galego descendente de Holandesa com
Português e uma bisneta de Índia Panati, nas-
ceu José Medeiros de Lacerda, mais um des-
cendente das sete irmãs da Cacimba da Velha.
Aos 8 anos, já escrevia estórias do seu imagi-
nário, como O Aventureiro, descrevendo a saga
de um garoto criado entre as matas da Várzea
Comprida na Fazenda Passagem do Meio, de
seus avós maternos. Com 12 anos, extremamen-
te amante dos estudos, viu seu sonho desmoro-
nar-se. Só homem já feito conseguiu voltar às
salas de aula, de onde nunca mais saiu. Primeiro
como aluno, depois professor. O sangue de Tro-
peiro da Borborema herdado do pai, o fez percor-
rer o Brasil, de Roraima ao Paraná, carregando
seus sonhos, compondo seus poemas, idealizan-
do seus cordéis. No teatro foi ator, dançarino, co-
reógrafo, autor, na poesia um aprendiz, do Cordel
é professor. Em Santa Luzia, constituiu família, em
Patos concluiu seu curso de Letras na atual FIP.
Hoje se realiza vendo seus cordéis lidos, em todos
os Estados do Norte e Nordeste brasileiro. E mais
feliz fica, vendo várias escolas pelo Brasil a fora
vivenciando sua poesia em sala de aula. Seus cordéis
têm cunho educativo, informativo, histórico, nunca
usados como desabafos íntimos, válvulas de escape
diante das pressões existenciais. Hoje com mais de
180 folhetos escritos, faz da poesia sua terapia ocu-
pacional. Seus netos, e sua primeira bisnetinha lhes
proporcionam tudo que ainda lhe resta para se emo-
cionar, procurando dar-lhes o que ele não teve direito
em sua infância... Seus pais, de saudosa memória,
foram apenas o começo de sua história!!!...
Série Cangaceiros - Volume 21
Cordel Número 100 do Poeta
A CANGACEIRA DADÁ
O cangaço nordestino
Hoje é apenas modismo
Não existe mais cangaço
Coronéis ou carrancismo,
Entre trapaças e engodos
Findaram matando todos
Chamando de banditismo.
Tempo do Coronelismo
Ainda hoje continua,
Gente marginalizada
É o que se ver pela rua,
E a falsa democracia
Ao grande dá regalia,
Ao pequeno senta a pua.
O cangaço continua
Apenas modificado
O cangaceiro de hoje
Anda todo engravatado,
Faz a lei, a regalia,
Sanciona a democracia
De acordo com o seu agrado.
O cangaço do passado
Era feito de assassino
Nas caatingas do Nordeste
Nasceu, cresceu, foi a pino,
Sempre em nosso tabuleiro
Mas nem todo cangaceiro
Tinha que ser nordestino.
O assunto a que me destino
Neste folheto contar
Retrata uma menina
De uma beleza sem par
Lá do Norte brasileiro
Seu nome, Sérgia Ribeiro,
Conhecida por Dadá.
Zona rural do Pará
Nasceu e por lá vivia
Em contato com nativos
Até que chegou o dia
Que o pai reúne o que é seu
Deixa a terra onde nasceu
E vem morar na Bahia.
No Nordeste chegaria
Onde era seu destino
E encontra alguns parentes
Dentre eles um menino
Loiro, bonito, um colosso,
Tinha pinta de bom moço
Mas tinha instinto ferino.
O seu nome era Cristino
Já um homem em formação
Convocado pelo Exército
Lá foi servir a Nação
Porém logo desertou
E na fuga se aliou
Ao bando de Lampião.
E ao chegar no sertão
Pensou logo em visitar
Os primos recém chegados
Daí conheceu Dadá,
Menina-moça, formosa,
E com dois dedim de prosa
Começaram a namorar.
Ela se deixou levar
Na conversa do bandido
Que carregou a menina
Tendo ela se arrependido
Mas não adiantou nada
Terminou sendo estuprada
Mesmo sem ter concedido.
Ficam no mato escondido
Com ela passando mal
Pois o seu defloramento
Quase que lhe foi fatal
Depois foi se acostumando
E permaneceu no bando
Amante do marginal.
Tornou-se ela afinal
Com aquela relação
Figura bem comentada
Nas caatingas do sertão
Mostrando soberania,
Antes dela, só Maria,
A mulher de Lampião.
Tiveram nessa união
Sete filhos nos brenhados
Por um ou outro parente
Tiveram que ser criados
Assim o casal de amantes
Foram inimigos antes
E terminaram casados.
A menina do passado
Tornou-se mulher bandida
Primeira a usar um rifle
E muito mais destemida
Do que muitos bandoleiros
Que mesmo ao ser cangaceiros
Temiam perder a vida.
Ela era desinibida,
Sabia ganhar dinheiro,
No cangaço ou fora dele
O que chegasse primeiro,
Na cura foi benzedeira
Chegou até ser parteira
De esposa de coiteiro.
Seu marido, o cangaceiro
Mas valente do sertão
E cabra de confiança
Do temível Lampião
Loiro, ligeiro e arisco
Apelidado Corisco,
Diabo Loiro e Alemão.
Com um ferimento na mão
Fica impossibilitado
De combater com o bando
Mas a mulher do seu lado
Tomou parte na ativa
E não só na defensiva,
Combatendo lado a lado.
Corisco considerado
O terror da bagaceira
Foi muitas vezes freiado
Pelas mãos da companheira
Que maneirava seus atos
Salvando muitos maltratos
E vidas na capoeira.
Nessa vida cangaceira
O apelido é que contava
Lampião, Corisco, Modesto,
Lamparina, Moita Brava,
Maria Bonita, Mormaço,
«Sussuarana do Cangaço»,
Assim Dadá se chamava.
O cangaço definhava
Pela falta de armamento
Cangaceiros sucumbiam
Mortos por fuzilamento
Com a morte de Lampião
A polícia do sertão
Reforça o destacamento.
Corisco, mais violento
Tentou vingar Lampião
Mas seu bando foi cercado
Piorando a situação
E o fim dessa derrocada
Foi cabeça decepada,
Corpos rolando no chão.
Escondidos no sertão
Corisco com sua amante
Mudam os trajes do cangaço
Pra roupas de retirantes
E viram agricultores
Tidos pelos arredores
Como simples sitiantes.
Mas a polícia que antes
Vinha em sua batida
Descobrem o esconderijo
E numa só investida
Roubam todos seus valores,
Matam os trabalhadores
E Corisco perde a vida.
Dadá, que saiu ferida,
Teve uma perna amputada
Mas escapou da chacina
E transferiu a morada
Pra Capital dos baianos
Onde viveu muitos anos
Com outro sendo casada.
Findou homenageada
Na Câmara que concedeu
Um prêmio pela mulher
De coragem que venceu
Mas nunca teve esquecido
O seu primeiro marido
Nem do jeito que morreu.
Dadá não se convenceu
E a todos ela dizia
Que no dia do ataque
O que a polícia queria
Não era só lhes matar
Pois foram lá prá roubar
Tudo que eles possuia.
Outras crianças teria
Com quem ela se casou,
Mas os filhos com Corisco
Nenhum ela abandonou.
Desencarnou destes planos
Com setenta e oito anos
Num bairro de Salvador.
De um galego descendente de Holandesa com
Português e uma bisneta de Índia Panati, nas-
ceu José Medeiros de Lacerda, mais um des-
cendente das sete irmãs da Cacimba da Velha.
Aos 8 anos, já escrevia estórias do seu imagi-
nário, como O Aventureiro, descrevendo a saga
de um garoto criado entre as matas da Várzea
Comprida na Fazenda Passagem do Meio, de
seus avós maternos. Com 12 anos, extremamen-
te amante dos estudos, viu seu sonho desmoro-
nar-se. Só homem já feito conseguiu voltar às
salas de aula, de onde nunca mais saiu. Primeiro
como aluno, depois professor. O sangue de Tro-
peiro da Borborema herdado do pai, o fez percor-
rer o Brasil, de Roraima ao Paraná, carregando
seus sonhos, compondo seus poemas, idealizan-
do seus cordéis. No teatro foi ator, dançarino, co-
reógrafo, autor, na poesia um aprendiz, do Cordel
é professor. Em Santa Luzia, constituiu família, em
Patos concluiu seu curso de Letras na atual FIP.
Hoje se realiza vendo seus cordéis lidos, em todos
os Estados do Norte e Nordeste brasileiro. E mais
feliz fica, vendo várias escolas pelo Brasil a fora
vivenciando sua poesia em sala de aula. Seus cordéis
têm cunho educativo, informativo, histórico, nunca
usados como desabafos íntimos, válvulas de escape
diante das pressões existenciais. Hoje com mais de
180 folhetos escritos, faz da poesia sua terapia ocu-
pacional. Seus netos, e sua primeira bisnetinha lhes
proporcionam tudo que ainda lhe resta para se emo-
cionar, procurando dar-lhes o que ele não teve direito
em sua infância... Seus pais, de saudosa memória,
foram apenas o começo de sua história!!!...
Série Cangaceiros - Volume 21
Cordel Número 100 do Poeta