(Trechos do Cordel)
CORONÉIS, COITEIROS E VOLANTES





Nesse cenário de guerra
Desenrolou-se a história
De tipos bem diferentes
Que ficaram na memória
Dos relatos do cangaço
Que terminava em fracasso
De uns e de outros glória
       
Faço uma eliminatória
Da história dos coronéis  
Que mandava no interior
Desde o tempo do dez-réis
Que de uns eram coiteiros
E de outros cangaceiros
Inimigos infiéis.

Confiar em coronéis
Era andar na contra-mão
Cangaceiros eram usados
Conforme a ocasião
Hoje a alguns ajudavam
Amanhã não hesitavam
Em mudar de opinião.
       
       
Alguns de bom coração
Cangaceiros protegia
Davam armas, munições.
Acoitava e não traía
E além de protegê-los
Costumavam acolhê-los
Mesmo em suas moradias.
              
Mas também acontecia
De um coronel ou coiteiro
    Se achava conveniente
    Abrigava um cangaceiro
    Por interesses pessoais
E chamava os policiais
    Em troca de um bom dinheiro.

Coronéis interesseiros
Desde mil e novecentos
No nordeste tinha muitos
Cada qual mais avarentos
Toda história do cangaço
Vitórias, lutas, fracassos.
Neles teve fundamentos.
    
O Pernambuco era o centro
De todo coronelismo
 Muitos deles pereceram
 Sem conhecer o heroísmo
 Por causa de traição
Interrompiam a missão
Na fúria do banditismo.


    Dentro do coronelismo
Que em Pernambuco existia
Ângelo Gomes de Lima
Famoso Ângelo da Jia
Zezé Abílio afamado
Chico Martins seu cunhado
Nomes de soberania

Ainda lá existia
    O coronel Andrelino
    Barão lá do Pajeú
    Rico, avarento e mofino.
    Tio-avô de um cangaceiro
    Que influenciou por inteiro
    O capitão Vírgulino.
       
Pernambuco com destino
Ao solo paraibano
Tem José Pereira Lima
Um grande republicano
Lá de Princesa Isabel
Um político coronel
Rico, avarento e tirano.
    
No estado alagoano
    Ulisses Luna mandava
    Joaquim Resende podia
    Elísio Maia imperava
    Este último, que se prove.
    Mas até noventa e nove
    Era vivo e dominava.
       
Em Sergipe os que mandava
Chico Porfírio, o primeiro.
Além de mais duas potência
Um era Antonio Caixeiro
E na Fazenda Jacóca
Igual a casa de Noca
O coronel João Ribeiro.
    
No ceará milagreiro
    Só um coronel havia
    Que destacou-se de todos
    Por sua soberania
Firmeza e religião
    O Padre Cícero Romão
    Que em Juazeiro residia.

No Estado da Bahia
Havia Petrônio Reis
Famoso coronel Petro
Que muita injustiça fez
João de Sá em Jeremoabo
João Maria era um fardado
Que em Serra Negra tinha vez.
    
Mas além dos coronéis
    Que ajudavam cangaceiros
    Naquele tempo existia
    Os afamados “Coiteiros”
    Que forneciam alimentos
    Abrigo, roupa, armamentos
    E acoitava desordeiros.
        
Prá ser chamado um coiteiro
Quase nada precisava
Dando uma caneca d’água
A um bandido que passava
A policia perseguia
Quem a água fornecia
E a guerra começava.

Se um fazendeiro agradava
Por temer os cangaceiro
Se não fosse muito rico
Era feito prisioneiro
Muitas vezes castigado
Pelas forças torturado
Ou morto no seu terreiro.

Sempre existia coiteiro
De influência bem fort
Com exceção de um Estado
O Rio Grande do Norte
Quem cangaceiro ajudava
Nada ali justificativa
O seu destino era a morte.
           
Só Lampião teve sorte
De ter político ao seu lado
    O pai de um secretário
    De justiça do Estado
    Do Ceará de Mecejana
Antonio Joaquim Santana
    Era seu forte aliado.    

Paraíba o já citado
Coronel José Pereira
Pernambuco, Ângelo da Jia.
Gostava da cabroeira
Não é coisa do sertão
Em toda nossa Nação
Existe gente traiçoeira.
    
Forças anti-cangaceiras
    De vez em quando traíam
    As volantes policiais
A que eles pertenciam
Por motivo interesseiro
Ajudavam por dinheiro
Aos que eles perseguiam.

Mas nas forças existiam
Patriotas verdadeiros
Policiais numerosos
Muito mais que cangaceiros
Da luta nunca fugiram
Foi assim que conseguiram
Limpar o sertão inteiro.
    
Em campo oposto aos coiteiros
    As forças perseguidoras
    De diferentes origens
    Porém sempre lutadoras
    Dispostas a encontrar
    Onde fosse e liquidar
    As quadrilhas malfeitoras.

As fontes informadoras
Se infiltravam aos militantes
Passando para os quartéis
Informações importantes
Que atacavam os ladrões
Por isso essas guarnições
Eram chamadas volantes.
    
Mas forças intinerantes
    De grupos organizados
    Por coronéis que agiam
    Logo após ser atacados
    Lutavam prá se vingar
    Podendo assim atacar
    Cangaceiros ou soldados.

Nem só disso era formado
O tempo dos coronéis
Haviam outros indivíduos
Traidores infiéis
Que matavam cangaceiro
Prá ficar com seu dinheiro
Alforjes, armas, anéis.

Outros topavam o revés
    Dos caminhos traiçoeiros
    Rastejadores de abelhas
    Almocreves e redeiros
    Vaqueiros e lavradores
    Retirantes, caçadores.
    E os famosos boiadeiros.

A figura dos vaqueiros
Era o nosso panorama
Vestido em roupa de couro
Prá defender-se da rama
Chapéu, gibão, guarda-peito.
A folha seca era o leito
O cavalo a sua dama.
    
Sofriam terríveis dramas
    Era constante o terror
    Estavam sempre encontrando
    Cangaceiro malfeitor
    Prá roubar, fazer maldades.
    E outras atrocidades
    Coisas de perseguidor.

Essas cenas de horror
No sertão era constante
Pois atrás dos cangaceiros
Sempre vinha uma volante
Que a todos preocupava
E às vezes se comportava
Muito mais ignorante
    
Cangaceiros e volantes
    Muitas vezes obrigava
    Pais de família inocentes
    Gastar tudo que guardava
Para alimentar um bando
    Se um se negasse ao comando
    Eles próprios saqueava.


Se cangaceiro chegava
Fosse de pronto atendidos
Ali nada acontecia
E ficavam agradecidos
Onde um bando se arranchava
Aquela família estava
Totalmente protegidos.

Com a saída dos bandidos
    Logo chegava soldado
    Vendo que os residentes
    Haviam sido poupados
    Por alimentar um bando
    Já começava os desmandos
    O castigo era dobrado.

Mas se tivessem apanhado
Ou sofrido qualquer mal
Já faziam grande alarde
Com divulgação total
O que não acontecia
Se o castigo partia
Da força policial.

Era uso habitual
    Depois de participar
    De um grupo de cangaceiro
    Alguém querer  se isolar
    Ou formar nova trincheira
    Essa era boa maneira
    Das volantes despistar.   

Prá novo bando formar
Isso nunca foi problema
Os chefes até gostavam
Pois era um estratagema
Sabiam que já podia
C,ontar com eles se um dia
Tivessem maior dilema.
    
Baseado nesse esquema
    Era grande o movimento
    Dividindo, reagrupando.
    Aumentando o crescimento
    E assim nessa divisória
    Uns entraram prá história
    E outros pro esquecimento.

Por esse comportamento
Surgiram Lucas da Feira
O Jesuíno Brilhante
O malvado Cabeleira
O bravo Antonio Silvino
Tudo antes de Vírgulino
Com a sua cabroeira

    Toda vida cangaceira
    Surgiu fadada ao fracasso
    Mas deram muito trabalho
    Foi grande o estardaçalho
    Presos ou assassinados
    Seus nomes serão lembrados
    Na história do cangaço.

       PARTE DO POEMA
    A VOLTA DE VIRGULINO
 PRA CONSERTAR O SERTÃO
   (De José Honório da Silva)

Conta Caetano Veloso
Num verso espetacular:
"Minha mãe me deu ao mundo
De maneira singular
Me dizendo uma sentença
Pra eu sempre pedir licença
Mas nunca deixar de entrar"

E por isso eu peço à História
E aos guardiões da verdade
Permissão para escrever
Com natural liberdade
Solto no tempo e no espaço
Um tema sobre Cangaço
Justiça, Moralidade.

O tempo bom já se foi
Muita gente pensa assim
E se a vida era difícil
Por certo está mais ruim
Parece até que este mundo
Mergulha num caos profundo
Já decretando o seu fim.

Hoje em dia só se vê
Guerra, seqüestro, atentado
Miséria, fome, doença
Vulcão, enchente, tornado
Desemprego, violência
Corrupção, indecência
Se espalham por todo lado

Os jovens sem esperança
Que haja melhores dias
Se entregam logo às drogas
Às badernas e às orgias
Amparando-se em galeras
Se tornam vorazes feras
Fazendo selvagerias.

Políticos demagogos
Jurando santa inocência
Só se elegendo por serem
Uns ladrões de consciência
Mantendo o povo carente
E por isso dependente
Dos programas de assistência.

Também os capitalistas
Que lucram com a pobreza
Dão apoio a esses homens
Pensando só na riqueza
.................................................

Série Cangaceiros, Volume 19
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 06/08/2008
Reeditado em 09/08/2014
Código do texto: T1114918
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.