(Trechos do Cordel)
CORISCO, O DIABO LOIRO
CANGACEIROS XV
O DIABO LOIRO
A história do cangaço
Ninguém consegue acabar
Quando se conta uma história
Sempre há outra prá contar
Marcando um tempo passado
No presente registrado
Na cultura popular.
É preciso cultivar
Histórias que já passaram
Desfechos, sagas, vitórias,
Se venceram ou fracassaram
Quem nunca saiu dos trilhos
Quem vislumbrou tantos brilhos
Ou a brilhar se ofuscaram.
Nossos poetas levaram
A história muito a sério
Com enfeites, com figuras,
Cada um a seu critério,
Mais vale ser registrado
Do que ver nosso passado
Terminar no cemitério.
Gangaço levado a sério
É o resgate da história
Dessa luta nordestina
Sem futuro, sem vitória
Que tornou-se uma atração
Nos festejos de São João
Denegrindo sua memória.
Nordeste já foi história
Com Antonio Conselheiro
No seco solo baiano
Doutrinando um povo ordeiro
Vítima da fúria insana
Da força republicana
Do Exército Brasileiro.
Do período cangaceiro
Muitos nomes são lembrados
Uns heróis, outros bandidos,
Alguns pouco comentados
Com exóticos apelidos
Nomes jamais esquecidos
Outros bastante adorados.
Um dos nomes mais lembrados
Do cangaço nordestino,
Nascido nas Alagoas,
Amigo de Virgulino,
No vale do São Francisco
Apelidado CORISCO
Mas o nome era Cristino.
Um perigoso assassino
Foi moldado no sertão
Cristino G. Silva Cleto
De Salgado do Melão
Em Matinha de Água Branca
Mais firme que alavanca,
Mais feroz que Lampião.
Não se tem exatidão
Do ano que ele nasceu
Sabe-se que em vinte e oito
Muito jovem, conheceu
Sérgia, mulher de seus planos
Com apenas treze anos
Daí tudo aconteceu.
Sérgia também se envolveu
Com o cangaceiro Cristino
Sendo estuprada por ele
Assumindo seu destino
Passou a ser sua amada
E a mulher mais comentada
No cangaço nordestino.
Se eu digo Sérgia e Cristino
Falo em Corisco e Dadá
Mas não é da mulher dele
Que eu pretendo falar
O assunto é o cangaceiro
Dos chefes o derradeiro
Até o cangaço acabar.
A companheira Dadá
Afirma com exatidão
Que Corisco também era
Diabo Louro, Alemão,
Tido como violento,
Bandido sangüinolento
Mas tinha bom coração.
Mesmo sem ter certidão
Que ao ser humano compete
No dia 10 de agosto
Mil, novecentos e sete
Noite fria, chuva fina,
Sua mãe, Dona Firmina
Deu luz a esse pivete.
Nada em casa lhe compete
Com tudo ele se aborrece
Por isso aos catorze anos
De casa desaparece
Atrás da felicidade
Só topa dificuldade
E volta quando adoece.
Em vinte e quatro acontece
Do Exército lhe chamar
Segue para Aracaju
Afim de se apresentar
Se mete em rebelião
E foge como um ladrão
Do serviço militar.
Um dia estando a dançar
Num baile de interior
Chama uma jovem pra dança
Porém ela recusou
Ele insiste com a donzela
Mas vem um parente dela
E a Cristino esmurrou.
Se retira com furor
Vai à casa do patrão
Pega uma espingarda
E volta na ocasião
Furioso e decidido
Mata o que havia lhe agredido
E foge pelo sertão.
O morto na confusão
Era cabra protegido
Do coronel da cidade
Por isso foi perseguido;
Se assim era o regime
Esse seu primeiro crime
Fez nascer mais um bandido.
Algum tempo foragido
Vagando pelo sertão
Um coronel fazendeiro
Dá-lhe apoio e proteção;
Por gozar de bom conceito
Dias depois é aceito
No bando de Lampião.
Firme determinação
Foi Cristino demonstrando
Num subgrupo que tinha
Jararaca no comando
Atento, afoito e arisco,
Com pouco tempo Corisco
Já tinha seu próprio bando.
Anos vinte começando
Até o ano trinta e quatro
O bando de Lampião
Se desdobrou pelo mato
Adotando outro regime
Uns mais afeitos ao crime
Outros melhores no assalto.
Os novos grupos, de fato,
Lampião fazia o plano
Distribuía a Corisco,
Moita Brava, Mariano,
A Português, Zé Sereno,
A Jararaca e Moreno,
Labareda e Zé Baiano.
Contava trinta e dois anos
Alto, forte e alourado
Com tratos finos de branco
Por Corisco apelidado
Pelo modo de atuar
E rapidez de acabar
Com um desafeto encontrado.
Fez a vez de advogado
Pela honra masculina
Num caso de adultério
Na caatinga nordestina
Que envolve um chefe de bando
Um cabra do seu comando
E a cangaceira Cristina.
Ela era a concubina
Do bandido Português
E o traiu com Getirana,
O corno, por sua vez
Sem pensar fez a besteira
De contratar Catingueira
Para vingá-lo de vez.
Com a confusão que se fez
Catingueira foi chamar
Getirana para uma
Conversa particular
Estava formada a intriga
Mas Corisco entrou na briga
Tentando tudo acabar.
E formou-se um ba-fa-fá
Com grito prá todo lado
Maria Bonita querendo
Que o corno fosse vingado
Corisco tudo desfez
E terminou Português
Sendo desmoralizado.
“Aqui ninguém é culpado
Porque não há compromisso
Eles não eram casados,
Deixem desse reboliço,
Não precisa de querela
Que ela deu o que era dela,
Ninguém tem nada com isso.
Não precisa precipício
Cada um cuida do seu
Getirana é do meu bando
E do que é meu cuido eu.”
O caso solucionado
Foi cada um pro seu lado
E tudo se resolveu.
Mas Português não se deu
Por vencido na parada
E algum tempo depois
Cristina, despreocupada,
Esqueceu-se da vingança
Afrouxou a segurança
Findou sendo assassinada.
Certa feita numa estrada
Despreocupadamente
Um certo José de Tal
Cavalgava alegremente
Numa bestinha montado
Seu velho corpo cansado
Suando na terra quente.
Deparou-se à sua frente
Com Corisco e Lampião
Corisco já foi prá cima
Lhe derrubando no chão
E tomando a montaria,
O velho revidaría
E formou-se a confusão.
Rolaram os dois pelo chão
Sem o velhote afrouxar,
Tudo que ele possuia
Tavam querendo tomar
Lampião veio intervir
Mandou Corisco sair
Deixasse o velho prá lá.
Corisco ao se levantar
Disse ao outro com prazer,
“Pode ir embora, meu velho,
Leve a besta com você,
Pessoa que não se rende
Cangaceiro não ofende
Assim, sem que nem prá que.
Esse era o proceder
Do diabo louro Corisco,
Mais bravo e cavalheresco,
Mais confiante e arisco,
Dedicava lealdade,
Se fazia atrocidade
Assumia todo risco.
Se afastou do São Francisco
Com mais algumas pessoas
Foi cumprir uma missão
No Estado de Alagoas
Nessa jornada assaltava
Muitos sítios atacava
Fazia poucas e boas.
Quando estava em Alagoas
Por um lampejo da sorte
Lampião foi atacado
Por uma volante forte
Ele, Maria, Enedina,
Mais oito, numa chacina,
Se encontraram com a morte.
Corisco e sua consorte
Ao saber do acontecido
Jurou vingar Lampião
E saiu enfurecido
Procurando, investigando,
Aqui ali perguntando
Quem tinha o chefe traido.
Joca Bernardo, um bandido,
Prá se livrar da prisão,
Mostrou o esconderijo
Do bando de Lampião,
Depois culpou um coiteiro,
Zé Domingo, um fazendeiro,
De ter feito a traição.
Pela Lei de Talião
Corisco saiu regido
Juntou sua cabroeira
Chegou sem fazer ruido
E executou sem clemência
Velho, mulher, descendência,
Num furor descomedido.
Dadá lhe fez um pedido
Que era pra ele poupar
Uma que amamentava
Ele resolve acatar
Mas que ela presenciasse
Tudo que ele praticasse
Pra depois saber contar.
Então resolve cortar
A cabeça dos demais
Colocou tudo num saco
Mandou pros policiais
Num gesto desaforado
E um bilhete assinado
Com acintes imorais.
“Façam com esse comensais
Uma gostosa fritada,
As mulheres que matei
Foram duas, bem contadas,
Não são nossas, eram suas,
Para vingar nossas duas
Em Angico assassinadas.
Ficam as horas contadas
Do cangaço nordestino,
Corisco agora era o rei
De uns poucos assassinos
Que foram desanimando
Uns morrendo, outros ficando,
Cumprindo o cruel destino.
No sertão o desatino
Cotinua a imperar,
O cangaço em Pernambuco
Começa a se fracionar
No Rio Grande esmorece
Na Paraiba enfraquece
Se acaba no Ceará.
Bahia passa a atacar
Com maior desenvoltura
Sergipe mais Alagoas
Leva o cangaço à loucura
Esse tal procedimento
Deixa Corisco violento
Sem pudor e compostura.
Se integra com mais bravura
Defendendo seu reinado
Outubro de trinta e nove
Num combate é alvejado
Fica um homem sem ação
De um lado perde uma mão
Do outro um braço atrofiado.
Vendo seu homem aleijado
A cangaceira Dadá
Continuou sua luta
Sendo a primeira a portar
Um fuzil de longo alcance
E a única que teve chance
De um bando comandar.
É preciso comentar
Para ficar registrado
O que sobrava em beleza
De Corisco, o bem dotado,
Faltava em diplomacia
Nos modos que possuia
Para com seus comandados.
Se sentindo abandonado
Ver seu bando dissolvido
Corta seus longos cabelos
Pra não ser reconhecido
Resolve mudar de vida
Com sua Dadá querida
E deixar de ser bandido.
Com o dinheiro conseguido
No tempo de bandoleiro
Comprou um pequeno sítio
Vestiu roupa de vaqueiro
E apoiou quem viesse
Lhe procurar e quisesse
Continuar cangaceiro.
Com isso seu paradeiro
Não tardou se descobria
Em Brotas de Macaubas
No Estado da Bahia
Com roça, galinha e gado
Pequeno sítio formado
Onde o casal residia.
Mas a polícia inicía
Grande cerco de emboscada
Potentes metralhadoras
Muitas armas disparadas
Bala em toda direção
Corisco cai sem ação
Com as tripas penduradas.
Dadá saiu baleada
E teve um pé amputado
Cidade Jeremoabo
Corisco foi sepultado
Depois a cova violada
Sua cabeça cortada
Também um braço arrancado.
Tendo a Justiça alegado
Durante a exumação
Que os órgãos iam a estudo
Mas foram prá exposição
Sua cabeça ficou
Num museu de Salvador
Ao lado de Lampião.
Dadá em sua solidão
Prá todo mundo dizia
Que no dia do ataque
O que a polícia queria
Não era só lhes matar
Pois foram lá prá roubar
Tudo que eles possuia.
Depois ela encontraria
Alguém com quem se casou,
Os três filhos com Corisco
Nenhum ela abandonou
Desencarnou destes planos
Com setenta e oito anos
Num bairro de Salvador.
Corisco hoje virou
Lenda por todo sertão
Cristino ninguém conhece
Como Sérgia também não
A Cultura Popular
Fez questão de registrar
Diabo Louro e Lampião.
Dadá, Luiz Mansidão,
Volta Seca, Cajueiro,
Maria Bonita, Enedina,
Jesuino, Zé Granjeiro,
Massilom, Pilão Deitado,
São apelidos herdados
Do tempo dos cangaceiros.
Senhor Lacerda,
Lí, no Jangada Brasil,
a MULA DOIDA DEMAIS. Gostei.
Verdade tem que ser dita, e o Senhor
disse com esmero.
Parabéns. Poucos têm tal
coragem, poucos dominam a arte
de versejar.
Sou apreciador dos cordéis.
Oswaldo Rosa
Analista de Sistemas
Se afastou do São Francisco
Com mais algumas pessoas
Foi cumprir uma missão
No Estado de Alagoas
Nessa jornada assaltava
Muitos sítios atacava
Fazia poucas e boas.
Quando estava em Alagoas
Por um lampejo da sorte
Lampião foi atacado
Por uma volante forte
Ele, Maria, Enedina,
Mais oito, numa chacina,
Se encontraram com a morte.
Corisco e sua consorte
Ao saber do acontecido
Jurou vingar Lampião
E saiu enfurecido
Procurando, investigando,
Aqui ali perguntando
Quem tinha o chefe traido.
Joca Bernardo, um bandido,
Prá se livrar da prisão,
Mostrou o esconderijo
Do bando de Lampião,
Depois culpou um coiteiro,
Zé Domingo, um fazendeiro,
De ter feito a traição.
Série Cangaceiros - Volume 15
CORISCO, O DIABO LOIRO
CANGACEIROS XV
O DIABO LOIRO
A história do cangaço
Ninguém consegue acabar
Quando se conta uma história
Sempre há outra prá contar
Marcando um tempo passado
No presente registrado
Na cultura popular.
É preciso cultivar
Histórias que já passaram
Desfechos, sagas, vitórias,
Se venceram ou fracassaram
Quem nunca saiu dos trilhos
Quem vislumbrou tantos brilhos
Ou a brilhar se ofuscaram.
Nossos poetas levaram
A história muito a sério
Com enfeites, com figuras,
Cada um a seu critério,
Mais vale ser registrado
Do que ver nosso passado
Terminar no cemitério.
Gangaço levado a sério
É o resgate da história
Dessa luta nordestina
Sem futuro, sem vitória
Que tornou-se uma atração
Nos festejos de São João
Denegrindo sua memória.
Nordeste já foi história
Com Antonio Conselheiro
No seco solo baiano
Doutrinando um povo ordeiro
Vítima da fúria insana
Da força republicana
Do Exército Brasileiro.
Do período cangaceiro
Muitos nomes são lembrados
Uns heróis, outros bandidos,
Alguns pouco comentados
Com exóticos apelidos
Nomes jamais esquecidos
Outros bastante adorados.
Um dos nomes mais lembrados
Do cangaço nordestino,
Nascido nas Alagoas,
Amigo de Virgulino,
No vale do São Francisco
Apelidado CORISCO
Mas o nome era Cristino.
Um perigoso assassino
Foi moldado no sertão
Cristino G. Silva Cleto
De Salgado do Melão
Em Matinha de Água Branca
Mais firme que alavanca,
Mais feroz que Lampião.
Não se tem exatidão
Do ano que ele nasceu
Sabe-se que em vinte e oito
Muito jovem, conheceu
Sérgia, mulher de seus planos
Com apenas treze anos
Daí tudo aconteceu.
Sérgia também se envolveu
Com o cangaceiro Cristino
Sendo estuprada por ele
Assumindo seu destino
Passou a ser sua amada
E a mulher mais comentada
No cangaço nordestino.
Se eu digo Sérgia e Cristino
Falo em Corisco e Dadá
Mas não é da mulher dele
Que eu pretendo falar
O assunto é o cangaceiro
Dos chefes o derradeiro
Até o cangaço acabar.
A companheira Dadá
Afirma com exatidão
Que Corisco também era
Diabo Louro, Alemão,
Tido como violento,
Bandido sangüinolento
Mas tinha bom coração.
Mesmo sem ter certidão
Que ao ser humano compete
No dia 10 de agosto
Mil, novecentos e sete
Noite fria, chuva fina,
Sua mãe, Dona Firmina
Deu luz a esse pivete.
Nada em casa lhe compete
Com tudo ele se aborrece
Por isso aos catorze anos
De casa desaparece
Atrás da felicidade
Só topa dificuldade
E volta quando adoece.
Em vinte e quatro acontece
Do Exército lhe chamar
Segue para Aracaju
Afim de se apresentar
Se mete em rebelião
E foge como um ladrão
Do serviço militar.
Um dia estando a dançar
Num baile de interior
Chama uma jovem pra dança
Porém ela recusou
Ele insiste com a donzela
Mas vem um parente dela
E a Cristino esmurrou.
Se retira com furor
Vai à casa do patrão
Pega uma espingarda
E volta na ocasião
Furioso e decidido
Mata o que havia lhe agredido
E foge pelo sertão.
O morto na confusão
Era cabra protegido
Do coronel da cidade
Por isso foi perseguido;
Se assim era o regime
Esse seu primeiro crime
Fez nascer mais um bandido.
Algum tempo foragido
Vagando pelo sertão
Um coronel fazendeiro
Dá-lhe apoio e proteção;
Por gozar de bom conceito
Dias depois é aceito
No bando de Lampião.
Firme determinação
Foi Cristino demonstrando
Num subgrupo que tinha
Jararaca no comando
Atento, afoito e arisco,
Com pouco tempo Corisco
Já tinha seu próprio bando.
Anos vinte começando
Até o ano trinta e quatro
O bando de Lampião
Se desdobrou pelo mato
Adotando outro regime
Uns mais afeitos ao crime
Outros melhores no assalto.
Os novos grupos, de fato,
Lampião fazia o plano
Distribuía a Corisco,
Moita Brava, Mariano,
A Português, Zé Sereno,
A Jararaca e Moreno,
Labareda e Zé Baiano.
Contava trinta e dois anos
Alto, forte e alourado
Com tratos finos de branco
Por Corisco apelidado
Pelo modo de atuar
E rapidez de acabar
Com um desafeto encontrado.
Fez a vez de advogado
Pela honra masculina
Num caso de adultério
Na caatinga nordestina
Que envolve um chefe de bando
Um cabra do seu comando
E a cangaceira Cristina.
Ela era a concubina
Do bandido Português
E o traiu com Getirana,
O corno, por sua vez
Sem pensar fez a besteira
De contratar Catingueira
Para vingá-lo de vez.
Com a confusão que se fez
Catingueira foi chamar
Getirana para uma
Conversa particular
Estava formada a intriga
Mas Corisco entrou na briga
Tentando tudo acabar.
E formou-se um ba-fa-fá
Com grito prá todo lado
Maria Bonita querendo
Que o corno fosse vingado
Corisco tudo desfez
E terminou Português
Sendo desmoralizado.
“Aqui ninguém é culpado
Porque não há compromisso
Eles não eram casados,
Deixem desse reboliço,
Não precisa de querela
Que ela deu o que era dela,
Ninguém tem nada com isso.
Não precisa precipício
Cada um cuida do seu
Getirana é do meu bando
E do que é meu cuido eu.”
O caso solucionado
Foi cada um pro seu lado
E tudo se resolveu.
Mas Português não se deu
Por vencido na parada
E algum tempo depois
Cristina, despreocupada,
Esqueceu-se da vingança
Afrouxou a segurança
Findou sendo assassinada.
Certa feita numa estrada
Despreocupadamente
Um certo José de Tal
Cavalgava alegremente
Numa bestinha montado
Seu velho corpo cansado
Suando na terra quente.
Deparou-se à sua frente
Com Corisco e Lampião
Corisco já foi prá cima
Lhe derrubando no chão
E tomando a montaria,
O velho revidaría
E formou-se a confusão.
Rolaram os dois pelo chão
Sem o velhote afrouxar,
Tudo que ele possuia
Tavam querendo tomar
Lampião veio intervir
Mandou Corisco sair
Deixasse o velho prá lá.
Corisco ao se levantar
Disse ao outro com prazer,
“Pode ir embora, meu velho,
Leve a besta com você,
Pessoa que não se rende
Cangaceiro não ofende
Assim, sem que nem prá que.
Esse era o proceder
Do diabo louro Corisco,
Mais bravo e cavalheresco,
Mais confiante e arisco,
Dedicava lealdade,
Se fazia atrocidade
Assumia todo risco.
Se afastou do São Francisco
Com mais algumas pessoas
Foi cumprir uma missão
No Estado de Alagoas
Nessa jornada assaltava
Muitos sítios atacava
Fazia poucas e boas.
Quando estava em Alagoas
Por um lampejo da sorte
Lampião foi atacado
Por uma volante forte
Ele, Maria, Enedina,
Mais oito, numa chacina,
Se encontraram com a morte.
Corisco e sua consorte
Ao saber do acontecido
Jurou vingar Lampião
E saiu enfurecido
Procurando, investigando,
Aqui ali perguntando
Quem tinha o chefe traido.
Joca Bernardo, um bandido,
Prá se livrar da prisão,
Mostrou o esconderijo
Do bando de Lampião,
Depois culpou um coiteiro,
Zé Domingo, um fazendeiro,
De ter feito a traição.
Pela Lei de Talião
Corisco saiu regido
Juntou sua cabroeira
Chegou sem fazer ruido
E executou sem clemência
Velho, mulher, descendência,
Num furor descomedido.
Dadá lhe fez um pedido
Que era pra ele poupar
Uma que amamentava
Ele resolve acatar
Mas que ela presenciasse
Tudo que ele praticasse
Pra depois saber contar.
Então resolve cortar
A cabeça dos demais
Colocou tudo num saco
Mandou pros policiais
Num gesto desaforado
E um bilhete assinado
Com acintes imorais.
“Façam com esse comensais
Uma gostosa fritada,
As mulheres que matei
Foram duas, bem contadas,
Não são nossas, eram suas,
Para vingar nossas duas
Em Angico assassinadas.
Ficam as horas contadas
Do cangaço nordestino,
Corisco agora era o rei
De uns poucos assassinos
Que foram desanimando
Uns morrendo, outros ficando,
Cumprindo o cruel destino.
No sertão o desatino
Cotinua a imperar,
O cangaço em Pernambuco
Começa a se fracionar
No Rio Grande esmorece
Na Paraiba enfraquece
Se acaba no Ceará.
Bahia passa a atacar
Com maior desenvoltura
Sergipe mais Alagoas
Leva o cangaço à loucura
Esse tal procedimento
Deixa Corisco violento
Sem pudor e compostura.
Se integra com mais bravura
Defendendo seu reinado
Outubro de trinta e nove
Num combate é alvejado
Fica um homem sem ação
De um lado perde uma mão
Do outro um braço atrofiado.
Vendo seu homem aleijado
A cangaceira Dadá
Continuou sua luta
Sendo a primeira a portar
Um fuzil de longo alcance
E a única que teve chance
De um bando comandar.
É preciso comentar
Para ficar registrado
O que sobrava em beleza
De Corisco, o bem dotado,
Faltava em diplomacia
Nos modos que possuia
Para com seus comandados.
Se sentindo abandonado
Ver seu bando dissolvido
Corta seus longos cabelos
Pra não ser reconhecido
Resolve mudar de vida
Com sua Dadá querida
E deixar de ser bandido.
Com o dinheiro conseguido
No tempo de bandoleiro
Comprou um pequeno sítio
Vestiu roupa de vaqueiro
E apoiou quem viesse
Lhe procurar e quisesse
Continuar cangaceiro.
Com isso seu paradeiro
Não tardou se descobria
Em Brotas de Macaubas
No Estado da Bahia
Com roça, galinha e gado
Pequeno sítio formado
Onde o casal residia.
Mas a polícia inicía
Grande cerco de emboscada
Potentes metralhadoras
Muitas armas disparadas
Bala em toda direção
Corisco cai sem ação
Com as tripas penduradas.
Dadá saiu baleada
E teve um pé amputado
Cidade Jeremoabo
Corisco foi sepultado
Depois a cova violada
Sua cabeça cortada
Também um braço arrancado.
Tendo a Justiça alegado
Durante a exumação
Que os órgãos iam a estudo
Mas foram prá exposição
Sua cabeça ficou
Num museu de Salvador
Ao lado de Lampião.
Dadá em sua solidão
Prá todo mundo dizia
Que no dia do ataque
O que a polícia queria
Não era só lhes matar
Pois foram lá prá roubar
Tudo que eles possuia.
Depois ela encontraria
Alguém com quem se casou,
Os três filhos com Corisco
Nenhum ela abandonou
Desencarnou destes planos
Com setenta e oito anos
Num bairro de Salvador.
Corisco hoje virou
Lenda por todo sertão
Cristino ninguém conhece
Como Sérgia também não
A Cultura Popular
Fez questão de registrar
Diabo Louro e Lampião.
Dadá, Luiz Mansidão,
Volta Seca, Cajueiro,
Maria Bonita, Enedina,
Jesuino, Zé Granjeiro,
Massilom, Pilão Deitado,
São apelidos herdados
Do tempo dos cangaceiros.
Senhor Lacerda,
Lí, no Jangada Brasil,
a MULA DOIDA DEMAIS. Gostei.
Verdade tem que ser dita, e o Senhor
disse com esmero.
Parabéns. Poucos têm tal
coragem, poucos dominam a arte
de versejar.
Sou apreciador dos cordéis.
Oswaldo Rosa
Analista de Sistemas
Se afastou do São Francisco
Com mais algumas pessoas
Foi cumprir uma missão
No Estado de Alagoas
Nessa jornada assaltava
Muitos sítios atacava
Fazia poucas e boas.
Quando estava em Alagoas
Por um lampejo da sorte
Lampião foi atacado
Por uma volante forte
Ele, Maria, Enedina,
Mais oito, numa chacina,
Se encontraram com a morte.
Corisco e sua consorte
Ao saber do acontecido
Jurou vingar Lampião
E saiu enfurecido
Procurando, investigando,
Aqui ali perguntando
Quem tinha o chefe traido.
Joca Bernardo, um bandido,
Prá se livrar da prisão,
Mostrou o esconderijo
Do bando de Lampião,
Depois culpou um coiteiro,
Zé Domingo, um fazendeiro,
De ter feito a traição.
Série Cangaceiros - Volume 15