Ser Vagalume

                            
                             Compadre Lemos


Ao final de mais um Ato dos Vagalumes - João Pessoa, num Orfanato da Capital Paraibana, onde eles tinham encantado - como sempre - a mais de cem crianças, uma delas tomou a palavra e, dirigindo-se a uma Vagaluma, disse:

-- Ô moça, você pergunta,
Pois tá querendo saber,
O que eu quero me tornar,
No dia em que eu crescer.
Pois eu respondo, na hora,
Vagalume, sim senhora,
É isso que eu quero ser!

Não desprezo outro saber,
E nem outra vocação.
Mas já tenho um ideal
Bem dentro do coração!
Você não tenha ciúme,
Mas eu vou ser Vagalume,
Já tomei a decisão!

E você, com atenção,
Já me pergunta de novo:
-- Mas, Vagalume, por que?
Sua pergunta eu resolvo:
Porque eu tenho a esperança
De assistir à criança
E alegrar o meu povo!

Eu piso em casca de ovo,
Sem quebrar uma somente!
Eu acho que isso é arte
Vou até tirar patente!
Se eu tenho esse talento,
Ajuntando sentimento,
Posso encantar minha gente!

Eu também faço repente,
Com minha pouca leitura.
Apois, vou estudar mais,
Pra sair da noite escura!
E vou levar claridade,
Poesia e felicidade,
Pra quem vive na amargura!

A minha vida é bem dura,
Nasci na periferia.
Hoje moro num Orfanato,
É triste, meu dia-a-dia.
Quando eu caí doente,
Veio aqui um assistente,
Perguntando o que eu queria.

Eu só disse: companhia,
Pra matar a solidão.
Eu ficando aqui, sozinho,
Seu moço, tem jeito não!
O anjos me escutaram
E os Vagalumes chegaram
Me estendendo sua mão.

E me trouxeram atenção,
Afeto em forma de abraço!
Cantaram lindas cantigas
Que levaram meu cansaço!
O que fizeram por mim,
Eu juro, por Meu Padin,
Um dia, também eu faço!

Se a doença é um fracasso,
A Alegria traz saúde!
Me curei, na mesma hora,
Pois, com essa força, eu pude
Me livrar da enfermidade,
E, por essa caridade,
Deus lhe pague, Deus lhe ajude!

Se tem água nos açude,
O pobre fica feliz!
Do mesmo jeito, a alegria
É como meu povo diz:
Cura a dor e mata o tédio,
Pois esse santo remédio
Corta o mal, bem na raiz!

Mesmo a vida, por um triz,
A gente pode salvar.
Vagalume sabe disso
Por isso vem visitar,
A criança e o idoso,
Trazendo um canto formoso,
Que muito vai ajudar!

Eu quero agora falar,
Com a sua permissão,
O que é um Vagalume,
Cumprindo sua missão:
Vagalume é amizade,
É amor, fraternidade,
É carinho e atenção!

Vagalume é devoção
À população carente!
É visita a quem sofre,
A quem é triste ou doente!
Presença nos hospitais,
Nos asilos, muito mais
Do que sabe a nossa gente!

Vagalume é assistente,
Mas sem remuneração.
Pois tudo que ele faz
É por pura doação.
Doa tempo, doa arte,
Pois sabe que o Bem faz parte
De qualquer religião!

É movido a coração,
A sentimento e amor.
E ninguém pode negar
Que é isso que tem valor!
Se a vida dá o espinho,
Vagalume, com carinho,
Já chega, trazendo a flor!

Ninguém aqui é doutor,
Não tem rico, nesse meio.
Nem nobreza, nem fortuna,
Pois disso, o mundo está cheio.
Vagalume é gente pobre
Mas de sentimento nobre
O Amor é o grande esteio!

É por isso que eu anseio
E sei que vou conseguir
Ser também um Vagalume,
Fazer o triste sorrir!
Do enfermo ver a cura
E levar minha cultura
Pelo prazer de servir!

Vagalume é o porvir
De quem não tem esperança.
Atenção para o idoso,
Alegria, pra criança!
É o palhaço engraçado,
É o Cordel bem rimado,
É a beleza da dança!

É o amor, que sempre alcança
A dorzinha, lá no fundo!
O violão, que acalenta,
O sentimento profundo!
O trabalho, que enobrece,
A força de uma prece,
Que faz melhor este mundo!

Seu José e Seu Raimundo,
Dona Lia e Filozinha,
Toínho, Tico e Pelé,
Dasdores, Chica e Zefinha
E muitos outros provaram
Desse amor e já falaram:
-- Melhor que ele, não tinha!

Vagalume é gente minha,
Desse Brasil brasileiro,
De pobres que necessitam
De atenção, mais que dinheiro!
Do meu Nordeste querido,
Onde o povo é assistido
Pelo Amor mais verdadeiro!

Um Vagalume é estradeiro,
Mas nunca que anda à toa!
Bota sempre a mão na massa,
Para fazer coisa boa!
Por tudo que ele enseja,
Eu peço a Deus que proteja
Vagalumes João Pessoa!...

Tem gente que até caçoa,
Dizendo que é promoção,
Que os Vagalumes só querem
É ir pra Televisão!
Que saber, mesmo a verdade?
Se for fazer caridade,
Pois, para mim, eles vão!

Se o rico, em nossa nação,
Nunca olha pra pobreza,
Se o enfermo está sozinho,
E a criança, indefesa,
Quem faz o bem a essa gente
Merece estar, de repente,
Bem na Mídia, com certeza!

Eu vejo tanta beleza
Tanta paz, tanta alegria,
Nascendo desse trabalho
Que eles fazem, todo dia,
Que peço às Autoridades:
Aprendam essas verdades,
Imitem quem auxilia!

Pois um copo de água fria
Não torna pobre a ninguém!
Cada qual faz o que pode,
Cada um dá o que tem!
Quem tem o pão, dá o pão,
Já quem não tem, dá uma mão,
Que a recompensa já vem!

O amor vai muito além
Do simples material!
A sua presença amiga
Vai elevar o moral
Da criança abandonada,
Do pobre, que não tem nada,
Do enfermo, no hospital!

Jesus, em sua Moral,
Naquele tempo, dizia:
“Faça ao outro tão-somente
O que você gostaria
Que o outro lhe fizesse”,
Faça o bem, faça uma prece,
Pois quem ora não judia!

Se eu fosse rico, eu fazia,
Muito mais que faço agora.
Ajudava a quem precisa
Todo dia, toda hora.
Pois da oportunidade
De viver fraternidade
Eu não ia ficar fora!

E antes de ir-me embora,
A todos quero dizer:
Um dia, tenho certeza,
Esse sonho eu vou viver.
Eu quero ser atuante
E repito, neste instante:
Um Vagalume eu vou ser!...

***

Autor: Compadre Lemos.

Direitos Autorais doados ao Grupo  “ Vagalumes - João Pessoa”.

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Sejam muito bem-vindos!



Juiz de Fora – MG
01 de Maio 2.008

                                                     

Compadre Lemos
Enviado por Compadre Lemos em 31/07/2008
Reeditado em 01/08/2010
Código do texto: T1106466
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