00 - A risposta - carta dum matuto

00 - A risposta - carta dum matuto

Eças mau traçada linha

É somenti pra rispondê

A cartinha xêi di letra

Qui li cum mutio prazê

Contano o padecimento

Deu num tá aí nu momento

Pra menizá seu sofrê.

Padiceno min axu eu

Derna qui a carta eu li

Ancê veio fazê compra

Prumodi quê num xegô aqui?

Aqueli dizabafo qui feiz

Min arrazô duma vêiz

Só Deuzu sabi o qui sufrí.

Cumpanhêra de prosa

Num faça isso mai não

Pois tu sabi qui tu móra

Dento du meu coração

Quarqué dia vô aí ti vê

Pra proziá com ancê

Vai dimorá mutio não!

Tô nu’a sodade danada

E tu aqui num apariceu

Só pruquê num fui aí

Tu ficô cum réiva deu?

Mutias vêiz tu vêi aqui

Mais eu tomém já fui aí

Ou ancê já cisqueceu?

O silenço as vêiz é bom

Pra gente pudê merditá

Vô aí na tua paioça

Para nóis dois se incrontá

Num min axu cum vaidadi

Eu gostu de tu di verdade

Ocê podi aquerditá.

Tenho em min a vontadi

Porém um poquin di zelo

Coiza podi ascucedê

E cauzá um dismantelo

Eu sô mêi vregonhado

Tenho de tê o coidiado

Pro certo sempi fazê-lo.

Dotôra vóça celença

Min deu u’a surpreza boa

De fazê um belo cordé

Eu tô é surrinu atoa

Tô cum mutias aligria

Vô correno aí um dia

Pra cumê café cum broa.

Ninguém ri du seu ingano

Pode aquerditá ni eu

Aquele passei nosso

Inda num dizapariceu

É que tivi ni minha róça

Cercano toda a paióça

Cauzo as pranta os boi cumeu.

Sua espera num ta gorada

Quiria ta sempi do seu lado

Pra te fazê cumpanhia

Nu seu cantim adorado

Invejo ocê aí na paióça

Sintindo o xêro da róça

Qui dévi de tê um bucado.

Aqueli ventin suavi

Roçano a pele sua

A noite no seu quintá

Oiano as istrela e a lua

Ocê nem vê passá o tempo

Ah ci eu fôci esse vento

Pra dá u’a fugida da rua!

Cum o sopro eu ia tê

Assoprava êci corpin seu

Bom ci eu fosse êci vento

Ocê num ficava longe deu

Cum a força qui o vento tem

Levava ancê mais além

Aí rializava o sonho meu.

E stava a balançá as fôia

U ma duas ô a vida intêra

T ava pur aí sempi perto

E u num ti jogava puêra

A inda qui pôco sopraci

M ermo ci pôco roçaci

O teu corpin di rocêra.

(décima)

N as suas óra de tristeza

O u mermo nas de aligria

S aía pra soprá o seu dia

I a correno sem moleza

L evando procê a beleza

E mbora qui ela cê já tem

N a verdade do “vai e vem”

C iria docê o seu vento

I staria a todo momento

O iano ancê e mais ninguém.

D izejaria te alumiá, e

A rgum dia eu quiria cê

N argum lugá um pirilampo

O cê um dia iço ia vê

I ntonci nas suas noite sim

T u ia ci alembrá de mim

E num iria jamai misquecê.

Da série: O matuto paxonado

airamribeiro@gmail.com

Airam Ribeiro
Enviado por Airam Ribeiro em 25/07/2008
Reeditado em 31/07/2008
Código do texto: T1097019