FOI ASSIM

Saímos todos contentes
nossa viagem prometia
eu, meu tio, minha prima
também conosco a titia
naquele fim-de-semana
passar um São João bacana
na fazenda de Zé Maria

Como eu estava feliz
com essa oportunidade
e nem conseguia segurar
minha grande ansiedade
tanto iria me divertir
que nem pensava em dormir
naquela festividade

É que gosto das fogueiras
também de ver subindo balão
do barulho dos folguedos
tudo p'ra louvar São João
e quando todos estão dançando
isso vai acelerando
as batidas do coração

Planejei com minha prima
e tudo ficou combinado
nós veríamos quadrilhas
comendo milho assado
jogando chumbinho no chão
estrelinhas acesas na mão
com os meus tios do lado

Eles vieram me buscar
quando a tarde começava
mas eu já estava pronta
e o sol ainda nem raiava
então logo que os vi
estabanada eu corri
enquanto mamãe ralhava

A tarde se mostrava linda
meus tios iam conversando
o carro seguia na estrada
eu e minha prima cantando
era tão emocionante
como eu ia radiante
só coisas boa pensando

Ah como não sabemos nada
na nossa vida imprecisa
tantos planos fazemos
quase nenhum se realiza,
uma das grandes verdades:
muita da nossa vontade
só nos desejos desliza

Viajávamos tão felizes
nos braços da alegria
impossível lembrar tristezas
principalmente nesse dia
mas viver é uma surpresa
e nunca teremos certeza
de como tudo seria

Só queríamos diversão
num fim-de-semana feliz
esse lado bom da vida
 todo mundo sempre quis
sem notar que imprevistos
embora nunca benquistos
vão na rota que o destino diz

Tudo aconteceu tão depressa
que nem sei como explicar
subitamente a estrada
deu a impressao de acabar
virou uma nuvem escura
então naquela altura
vi tudo antes de desmaiar

Totalmente enlouquecido
um monstro descontrolado
desceu o carro um barranco
eu dei um grito alarmado
em pedras e árvores batendo
nosso carro foi descendo
e parecia tudo acabado

Foram ficando na queda
do carro alguns fragmentos
destroços que se espalhavam
feito gotas de tormento
a vida ficou em pedaços
gritos, dor, estardalhaços,
tudo findava num momento

Depois, silêncio e poeira,
caos, folhas e galhos no chão,
a tragédia toda consumada
iam-se tantos sonhos e ilusão
linha de vida e morte cruzada
vidas feridas, fim da jornada,
para tanta dor haveria razão?

Não sei quanto tempo voou
após o horror que passamos
sendo difícil precisar
o período que ficamos,
feridos, desacordados,
no esmo abandonados
pelo tombo que levamos

Fumaça, ferragens, dores,
esse terror multiplicado,
teatro de sofrimento
num cenário estragado
não preciso nem dizer
que sentindo o corpo doer
meu braço estava quebrado

Não vejo necessidade
de cada detalhe falar
seria muito chocante
então a todos vou poupar
prefiro cobrir tristezas
escondendo as incertezas
basta o principal narrar


Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 14/07/2008
Reeditado em 22/07/2008
Código do texto: T1080508
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