Padre Pinto, a sensação da Bahia
Para recordar o tempo em que o padre virou o carnal pelo avesso:
Disse Octavio Mangabeira,
Coberto de ironia:
Pense num só absurdo,
Hipótese que não se cria,
E vai achar numa esquina
Da Cidade da Bahia.
A Bahia tem dendê,
Xinxim e acarajé,
Carnaval todos os dias,
Samba-de-roda e axé,
Tem padre que reza missa
Com trajes de candomblé.
Eu, quando vi Padre Pinto
Sair na televisão,
Me lembrei de um ditado:
Quer pegar papai, oião!
O santo baixou no homem,
Foi a maior confusão.
Ele revirava os olhos
Com um jeito desbundado.
Dona Terezinha disse:
- Esse padre tá pegado.
Luiz Mott comentou:
- Olha o novo associado!
O caboco Chupa-peito
Quis baixar, ele não quis.
- Sou bezerro desmamado -
Blasfemou o infeliz.
- Eu quero é botar um piercing
Bem na ponta do nariz.
- Eu quero beijar Caetano -
Disse o padre no altar.
- Nesse clima da Bahia,
Eu só penso em rosetar.
Pode baixar, Pomba-Gira,
Que hoje eu viro o borná!
O arcebispo retou,
Tirou Pinto da Lapinha,
Mandou pra Itaparica
Pra ver se entrava na linha.
Pinto disse: - Hoje eu depeno
O sobrecu da galinha.
Voltou para Salvador,
Fez uma manifestação,
Chamou ACM Neto
Pra ele lhe dar uma mão.
Grampinho só não foi com medo
De perder a eleição.
Padre Pinto tá virado,
Recorreu da decisão
Tomada pelo arcebispo
De lhe afastar da missão
E vai ser avaliado
Pela sua Congregação.
Para Pinto só o Papa
Pode tirar sua batina.
Que mal faz sua veia artística
Com passos de bailarina?
Abaixo a hipocrisia
Em nome da fé divina.
Abram as portas da Igreja
E deixem o padre dançar.
A dança alegra o espírito,
Como o ato de rezar
Pousa a paz no fundo d´alma,
Raio do Céu a iluminar.
O povo quer Padre Pinto
Para fazer o sermão,
Mostrar que em solo baiano
Preconceito não há não:
De acarajé se faz hóstia,
Pois é tudo o mesmo pão.
Viva o homem que assume
Sua real condição
Padre Pinto se assumiu
Pôs o armário no chão
E já virou na Bahia
A sensação do Verão.
(Miguel Lucena Filho)