A LENDA DA ALAMOA E AS LOIRAS DE HOJE EM DIA
Quero ver qual é o homem
Que não fica perturbado
Quando uma loira bonita
Passa gingando ao seu lado
Toda saracoteando
O cabra fica fungando
Termina todo babado
Se ele não for chegado
Aí não percebe nada
Delas também se duvida
Se é pura ou siliconada
Hoje a dúvida é constante
Se é uma loira farsante
Ou morena disfarçada.
Mulher oxigenada
De cem se tira setenta
Poucas querem ser morenas
Só com tinta se contenta
Tô nem aí, afinal,
Nos outros é tudo igual
Mesmo que passem pimenta.
Estórias que o povo inventa
Lenda, parlenda, funções,
Nosso folclore está cheio
Em todas as regiões
Fazendo a literatura
Enriquecendo a cultura
Cultivando as tradições.
Antigamente as prisões
No Brasil eram seguras
Com práticas “educativas”,
Pau-de-arara, torturas´,
Os presídios isolados
Em lugares afastados
No governo linha dura.
No tempo da ditadura
Existia mais vergonha
Ainda não se consumia
No Brasil tanta maconha,
Ser moça era ser donzela
E prá se falar com ela
Precisava cerimônia
Em Fernando de Noronha
Havia uma prisão
Com presos sentenciados
Fora da população
E na ilha confinados
Ficavam desesperados
Sem ter do mundo noção.
E entre alucinação
De quem chora e se aperreia
Um ou outro, vez em quando,
Vislumbrava na areia
Um vulto muito esquisito
Com um semblante bonito
E um corpo de sereia.
Em noite de maré cheia
Prenúncio de tempestade
O seu vulto aparecia
Brilhando na claridade
Figura espetacular
Parecendo flutuar
No colo da vaidade.
Naquela comunidade
Aonde mulher não ia
De vez em quando um navio
Aportava na baía
Com bandeira estrangeira
Raramente brasileira
E só marujo descia.
Alguma mulher que havia
Era de outra nação
Só vinha na terra firme
Se houvesse precisão
E essas quando existia
Eram brancas como o dia
E com sotaque alemão.
Dai a nomeação
Cunhada àquela pessoa
Toda branca era européia
Da Alemanha ou de Lisboa
De alemã era chamada
E terminou batizada
Com o nome de ALAMOA.
Mas quem via essa pessoa
Nunca se saia bem
Envolvido em seus encantos
Não escutava ninguém
Terminava alucinado
Nunca mais era encontrado
Se evaporava no além.
Era comum ver alguém
Pelos cantos escondido
Já se sabia que aquele
Com ela estava envolvido
Pouco tempo mais durava
Quando menos se esperava
Tinha desaparecido
Só se escutava o zumbido
No lugar que ela morava
Famosa Pedra do Pico
O local que ela habitava
No seu ritual sagrado
Iniciava um bailado
A pedra abria ela entrava.
O homem que a acompanhava
Ficava feliz da vida
Entrava de pedra a dentro
Vendo ela toda despida
Mas logo a pedra fechava
E ela se transformava
Numa caveira fedida.
Antes, multicolorida
Deixando o homem feliz
Com essa metamorfose
Primeiro perde o nariz
O corpo se transformando
E o rosto lindo tomando
A forma de um chafariz.
Aquele pobre infeliz
Comprova cheio de horror
Que está diante da morte
E sua hora chegou
Morre sem força, sem luta
Quem está de fora escuta
Os seus gritos de pavor.
Essa lenda começou
Em Fernando de Noronha
Daquele tempo prá cá
Só mudou a cerimônia
A Alamoa continua,
Em todo canto ela atua
Sem um pingo de vergonha.
Na Alemanha, em Bolonha,
No Brasil, até na China,
O que mais tem é mulher
Com corpinho de menina
Cabeça oxigenada
A bunda siliconada
E a cintura bem fina.
Muitas vezes nem combina
Cor da pele com o cabelo
Mas a mídia dita a moda
Comércio faz o apelo
O resto é deixar rolar
E tudo se transformar
Sem estrutura, sem zelo.
Modismo, cor de cabelo,
Isso é futilidade
Neste mundão de meu Deus
Nada mais é novidade
Alamoa comemora
Tudo que acontece agora
Na nossa sociedade.
Como ela, na verdade,
Há muita transformação
Existe mulher tão feia
Que parece assombração
Se enche de silicone
Se aproxima do homem
Iniciando a sedução.
O cabra perde a razão
Fica todo extasiado
Vendo aquele monumento
Se achegando pro seu lado
Mas quando ela se aproxima
Ao invés de dar em cima
Ele se afasta espantado.
Quem está ali é um veado
Com uma vasta cabeleira
Loira, bonita, gostosa,
Andando toda faceira
Cheia de maledicência
Se não tiver paciência
Ele perde a estribeira.
Neste mundão sem porteira
Ja acontece de tudo
Casos extraordinários
Cada qual mais cabeludo,
Com tanta transformação
Consciente perde a razão
Tagarela fica mudo.
Não existe mais estudo
Hoje a escola é camarim
Onde o jovem alienado
Faz tudo que está afim
Menos ler e escrever
Prá depois se ouvir dizer
Que o professor é ruim.
São os filhos de Caím
Atuando na Nação
Graças a um ítem gravado
Na nossa Constituição
Que dá direito ao desmando
Tira da escola o comando
Desprotege o cidadão.
As festas de São João
Hoje estão modificadas
No palco tem um teclado
Duas mulheres peladas
Uma morena, quase nêga,
A outra, ou é galega
Ou loira falsificada.
Com elas nessa pegada
Há mais uma criatura
Usando brinco, batom,
Argolinha na cintura,
Para não dar nota falsa
Nem pegar mala sem alça
Deixo de lado a figura.
O governo linha dura
Que criou essa porfia
Devia dar mais pitaco
Na nossa democracia
Isolar as detenções
Prá os presos ter ilusões
Como antes existia.
Se assim fosse existiria
Alamoas prá sonhar
Com isso o preso ocupava
A mente a imaginar
Não faziam como agora
Regendo o crime aqui fora
De dentro com um celular.
E a mulher que se píntar
Devia ter mais pudor
Não precisa mostrar tudo
Pois assim perde o valor
Fantasia é ilusão
Mulher tem mais perfeição
Com os dotes que Deus criou.
Quando a negrada chegou
Da África onde surgiu
Não foi para ser pintada
Foi prá dar cor ao Brasil
E depois da escravidão
Feita a miscigenação
Nossa terra coloriu.
O índio contribuiu
Com sua cor canelada
Cruzou com o negro da África
E da Europa a brancaiada;
Agora, de qualquer jeito,
Não há nada mais perfeito
Que uma mulata assanhada.
Essa cor patenteada
Só o Brasil pode ostentar
A morena brasileira
Tira em primeiro lugar
Na dança ou na passarela,
Enquanto a mulher branquela
Só serve prá namorar.
De modo particular
Loira, morena, mulata,
A verdade é cristalina
Como água de cascata
E aqui eu me identifico:
A moda do mexerico
É uma coisa muito chata.
Não é maneira sensata
Falar do que não convém
Tem loirinha inteligente
Morena burra também
Corpo humano é natural
Transformá-lo é pessoal,
Num é da conta de ninguém.
Falar mal ou falar bem
Mas de maneira sutil
Eu faço no meu trabalho
O que a poesia pediu
Com meus modos controversos
Para descrever em versos
Mais um COISAS DO BRASIL.
SÉRIE LENDAS BRASILEIRAS - VOLUME 6