A Montanha

A Montanha

Ao longe a divisamos recortada,

ante o azul do céu, e nos parece,

que é uma sombra que se desvanece,

ao recorte de outras, misturada.

De cinzenta transmuda em azulada,

conforme dela nos aproximamos,

e só depois de horas que andamos,

começamos a vê-la esverdeada,

Ao chegarmos ao sopé nós divisamos,

a grandeza real que representa,

e a imensa base em que se assenta,

faz-nos ver o espaço que ocupamos,

ante sua imensidão é que pensamos

que sendo nós que ínfimos e desprezíveis,

realizamos males tão terríveis

em todas as direções em que trilhamos.

Abrindo então caminho pela mata,

do declive suave que a ladeia,

alcançamos a trilha que permeia,

entre rochas que ali o sol dilata.

a tal ponto, que a chuva que se abata,

pouca que seja, ainda que momentos,

fissura-a, racha-a, tira-lhes fragmentos

que se transformam em extáticas cascatas.

Por entre imensas rochas colocadas

em locais tão vitais , tão bem dispostas,

como se ali houvessem sido postas

por terem sido adredes fabricadas,

para aquele lugar , onde postadas,

arrimam os paredões que alicerçam,

não são coincidências que começam,

são arremates de obras planejadas,

Vencida a base mansa, a escalada,

prova de perseverança, dura se inicia,

pois tudo exige do corpo , e propicia,

transformar nossa mente em controlada,

e a nossa alma compreender que nada

somos ante a imensidão da natureza

pois diluídos somos na grandeza

da vertente abrupta , escarpada.

Com ingente esforço vamos avançando,

em destino aos pícaros que a coroam,

onde sabemos que livres revoam

bandos de aves, nos ares dançando.

Ora subindo , ora descansando,

nós vamos pouco a pouco atingindo,

sucessivos degraus que vão surgindo,

feitos talvez , até em nós pensando.

O prêmio que colhemos ,é que chegando,

ao topo, tal visão se descortina

Que por momentos até se imagina

que acordados, estamos ali sonhando,

do mesmo modo que fazemos quando,

em nosso sono andamos voejantes,

vendo floridos vales verdejantes,

a rubra luz do sol que vai se pondo.

Vendo as sombras azuladas tão distantes,

D’outras montanhas que ao longe avistamos,

e recortada ao espaço divisamos,

a parábola que forma o horizonte.

Rios serpenteantes que são a fonte,

da vida e do verde que florescem,

colorindo as encostas de onde descem,

seguindo um rumo que ao mar aponte.

Ao entardecer, o sol que ao longe desce,

as brancas nuvens em rubras transformando,

parece estar ao mundo incendiando,

enquanto entra no mar e se arrefece.

Ao longe, bem distante , o mar parece

despejar-se na curva do horizonte,

como água de índigo de uma fonte

refletindo o rubor que o enrubesce.

À noite quando as formas desvanecem,

ante a escuridão que predomina,

todo o orbe celeste se ilumina,

com miríades de estrelas que aparecem.

Meteoritos rasgam os céus e descem

traçando rotas tão luminescentes

como se fossem estrelas, que cadentes,

e consumissem suas luzes que esvaecem.

Ao albor da alvorada, no nascente,

vemos raios de luz que recortando

vão a curva da terra projetando

no espaço, e se espalham, precedentes

são do sol, que surge finalmente

iluminando a orbe do infinito

com rubor que emana tão bonito

da imensidão de matéria fundente,

É na grandiosidade da montanha

que recobramos o conhecimento,

do ínfimo que somos , e num momento,

compreendemos que a forma tacanha

de vida, má, nociva, e até estranha ,

ser voraz onde nossa alma habita,

que por prazer destrói tudo que fita,

é grão de pó que a luz do cosmo banha.

Mestre egidio

Mestre Egídio
Enviado por Mestre Egídio em 24/06/2008
Código do texto: T1048808