CORDEL DESEMBESTADO
Eu meio que hesito tanto
para escrever um cordel,
fico trocando as palavras
misturo queijo com mel,
faço uma baita farofa
com pedaços de papel
Um folha verde farfalha
enquanto a brisa sussurra,
a cabra paquera o touro
mas da vaca leva surra
e o meu cordel nem se toca
quando ao longe a onça urra
Galopa o cavalo malhado
na pradaria encantada,
o carro velho resfolega
numa rua esburacada
mas as rimas não descubro
p'ra essa poesia danada
O dedo todo enfiado
no buraco do nariz,
passa o cara aloprado
chupando bala de anis
e eu fico embatucado
porque meu cordel não fiz
Que é dos versos perfeitos,
cadê minha inspiração,
os vocábulos se perderam
nos templos da ilusão?
Decerto meu cordel morreu
pelas sendas do coração
No pobre sertão tem seca
porém no Sul tem geada,
vejo o vaqueiro levando
aos berros a sua boiada,
mas o meu cordel parece
sinfonia inacabada
Nem lendo no dicionário
descubro como rimar,
os termos se me embaralham
talvez seja melhor parar
ora, se eu nem comecei
não posso o cordel terminar
Já vi que não vou conseguir
sou um poeta sem jeito,
se quero rimar político
vem logo o termo prefeito,
mas se pretendo um cordel
nasce um texto com defeito
Acho que devo aprender
com o mestre Patativa,
lendo toda sua obra
fazendo nova tentativa,
porque p'ra fazer cordel
com talento e precisão
não é coisa relativa
Contudo, nem quero saber
quantos paus tem a canoa,
jogo p'ra cima as palavras
tentando uma rima boa,
e mesmo que o cordel não flua
faço ao menos uma loa
Embora destrambelhada
cacos de vidro quebrado
sorriso de mulher linda
coração escancarado
corno sapo convencido
nasce cordel remendado
É uma bailarina velha
pé na cova, desdentada,
dando mote à poesia
pra que fique remoçada
mas já tão cansada está
que dança atrapalhada
As rimas desembestaram
os termos voaram ao céu
juntei pó de macambira
com asas dum velho tetéu
mas logrei amarrar a corda
pra pendurar este cordel
---------------------------------------------***-----------------------------------------
Não resisti e publico abaixo o verso carinhoso de minha amiga Milla Pereira sobre o meu cordel. Obrigado poetisa.
Eu meio que hesito tanto
para escrever um cordel,
fico trocando as palavras
misturo queijo com mel,
faço uma baita farofa
com pedaços de papel
Um folha verde farfalha
enquanto a brisa sussurra,
a cabra paquera o touro
mas da vaca leva surra
e o meu cordel nem se toca
quando ao longe a onça urra
Galopa o cavalo malhado
na pradaria encantada,
o carro velho resfolega
numa rua esburacada
mas as rimas não descubro
p'ra essa poesia danada
O dedo todo enfiado
no buraco do nariz,
passa o cara aloprado
chupando bala de anis
e eu fico embatucado
porque meu cordel não fiz
Que é dos versos perfeitos,
cadê minha inspiração,
os vocábulos se perderam
nos templos da ilusão?
Decerto meu cordel morreu
pelas sendas do coração
No pobre sertão tem seca
porém no Sul tem geada,
vejo o vaqueiro levando
aos berros a sua boiada,
mas o meu cordel parece
sinfonia inacabada
Nem lendo no dicionário
descubro como rimar,
os termos se me embaralham
talvez seja melhor parar
ora, se eu nem comecei
não posso o cordel terminar
Já vi que não vou conseguir
sou um poeta sem jeito,
se quero rimar político
vem logo o termo prefeito,
mas se pretendo um cordel
nasce um texto com defeito
Acho que devo aprender
com o mestre Patativa,
lendo toda sua obra
fazendo nova tentativa,
porque p'ra fazer cordel
com talento e precisão
não é coisa relativa
Contudo, nem quero saber
quantos paus tem a canoa,
jogo p'ra cima as palavras
tentando uma rima boa,
e mesmo que o cordel não flua
faço ao menos uma loa
Embora destrambelhada
cacos de vidro quebrado
sorriso de mulher linda
coração escancarado
corno sapo convencido
nasce cordel remendado
É uma bailarina velha
pé na cova, desdentada,
dando mote à poesia
pra que fique remoçada
mas já tão cansada está
que dança atrapalhada
As rimas desembestaram
os termos voaram ao céu
juntei pó de macambira
com asas dum velho tetéu
mas logrei amarrar a corda
pra pendurar este cordel
---------------------------------------------***-----------------------------------------
Não resisti e publico abaixo o verso carinhoso de minha amiga Milla Pereira sobre o meu cordel. Obrigado poetisa.
"Poeta, se não soubesses
Com fazer um Cordel
Talvez que eu não tivesse
A grande felicidade
De ler a preciosidade
Que li aqui, neste papel."
Parabéns, Poeta. Lindo dia! Milla"
Com fazer um Cordel
Talvez que eu não tivesse
A grande felicidade
De ler a preciosidade
Que li aqui, neste papel."
Parabéns, Poeta. Lindo dia! Milla"