A Casa de Zé Limeira
Um Cordel Absurdo!
Compadre Lemos
Deus Pai, quando fez o mundo,
Usou a Santa Ciência:
O solo, bom e fecundo,
A água, com transparência,
Gelo frio, fogo quente,
O sol no céu, reluzente,
A lua branca e tão calma!
E mais não era preciso,
Aqui era um paraíso,
Porque nada tinha alma!
Mas então, no sexto dia,
Deus disse: -- Vou completar
A Criação de harmonia
Que Eu acabo de inventar
E fez o Homem, Doutor,
Pra ser da terra o senhor,
Foi a Sua decisão...
Não posso criticar Deus,
Mas, porém, aos olhos meus,
Começou a confusão!
O Homem, inteligente,
Como Deus tinha criado,
Foi logo dizendo: -- Gente,
Eu aqui estou isolado!
Não quero ficar sozinho,
É muito longo o caminho
Que tenho de percorrer!
Pois a Deus eu vou pedir
Para que alguém possa vir
Me ajudar a viver!
E Deus, notando a tristeza
Do Homem, na solidão,
Mostrando Sua Grandeza,
A ele estendeu a mão.
Criou, então, a Mulher,
Que é tudo que o homem quer
Para a vida ter sentido!
Só que os dois, simplesmente,
Avançaram, de repente,
Pro lado do proibido!
A Mulher deu-lhe a maçã
Que o Cão lhe sugeriu.
O Homem, naquele afã,
Perigo não pressentiu.
Expulsos do Paraíso,
Saíram, no improviso,
Para povoar o mundo!
E Deus, vendo que a beleza
Se transformava em tristeza,
O Seu pesar foi profundo!
O Homem gerou o homem,
Que outros homens gerou.
Uns nascem e outros somem,
E o mundo se povoou.
Até chegar nossos dias,
Onde coisas tão vazias
Consolam os homens surdos...
Até nascer Zé Limeira,
Poeta sem estribeira,
Cantando seus absurdos!
Pois é sobre esse poeta
Que aqui venho falar.
Essa alma inquieta,
Que viveu só de cantar!
Era um poeta inspirado
Mas parece que seu fado
Era cantar o irreal.
Em absurdo, sua rima
Botava o de baixo em cima
E o de dentro, no quintal!
Existiu?... Não existiu?...
A dúvida permanece.
Tem gente que diz que viu,
E quem já viu não se esquece.
Mesmo que haja contenda,
Se ele foi verdade ou lenda,
Isso é irrelevante!
Pois o bom da brincadeira
É curtir Seu Zé Limeira,
Seu verso desconcertante!
Nos conta o Pesquisador
Orlando Tejo, um esteta,
Num livro revelador, (*)
Sobre a vida do Poeta:
Que nasceu Seu Zé Limeira
Foi na Serra do Teixeira,
Estado da Paraíba,
Com seu jeito diferente,
Encantando a toda gente,
Os de baixo e os de riba!
Bem cedo ganhou o mundo,
Viola sempre na mão!
No absurdo foi fundo,
Desconhecendo a Razão.
Cantava sem ter sentido
E o povo, embevecido,
Só fazia lhe aplaudir!
Os dedos cheios de anéis,
Cantava pra coronéis,
Que pagavam, a sorrir.
Também cantava na rua,
Para o povo e a pobreza,
Possuindo a rima sua
A mais estranha beleza!
A ligeireza era incrível,
No cantar do impossível,
Despertava a fantasia.
E é por esse motivo
Que seu nome ainda é vivo
E significa alegria!
Mas, depois de rodar tanto,
Zé Limeira se cansou.
“Vou voltar para o meu canto”
O Poeta então pensou.
“Eu deixo a vida estradeira
E volto pra o Teixeira
Porque lá é meu lugar.
A minha voz não se cala
Mas é lá, na minha sala,
Que quero agora cantar!
E voltou pra sua casa,
Na humilde fazendinha,
Para o coração em brasa
De sua esposa Belinha.
E pra quem o visitava
Na viola ele tirava,
Com sua voz de trovão,
Mais um verso inteligente,
Pois o Senhor do Repente
Não perdera a vocação.
Pois então, minha proposta,
No Cordel que ora faço,
É trazer uma resposta
Contando, sem embaraço,
O que eu vi e observei
Quando, em sonho, visitei,
Lá na Serra do Teixeira,
Um mundo de fantasia,
De absurdo e Poesia...
A Casa de Zé Limeira!
Não leve na brincadeira
O relato que eu faço.
Se o sonho não tem barreira,
Se infinito é o espaço,
Digo com sinceridade,
Pode mesmo ser verdade
O que vi, com precisão...
Mas vamos cumprir a meta,
Da casa desse Poeta
Faço agora a descrição:
O assoalho, lá em cima,
O telhado, cá no chão,
Nos quartos, laranja lima,
Na cozinha, três colchão.
Na sala, vaso e bidê,
No banheiro, sem porquê
Sai gelo pra todo lado,
Vinte cobras na banheira!
Da Casa de Zé Limeira,
Isso é o retrato falado!
Uma porta, uma janela,
Todas duas no terreiro!
Plantado numa tigela,
Tem um pé de abacateiro!
Tem uma rosa vermelha
Cultivada em uma telha,
Bem dentro de uma fogueira!
No fogão, fogo apagado,
Isso é o retrato falado
Da Casa de Zé Limeira!
A Dona dele, coitada,
Varre a casa com um pincel.
As duas perna piada,
No pescoço, três anel!
As menina, já grandinha,
Suspirando, na cozinha,
Por um relógio atrasado,
Vão dormir na prateleira...
Da Casa de Zé Limeira
Isso é o retrato falado!
Pras visitas conversar
Todos sentam no pinico!
Come doce até cansar,
Um bando de tico-tico!
Do telefone, que toca,
Sai farinha e sai pipoca
Se alguém falar besteira.
Não falo de abusado,
Isso é o retrato falado
Da casa de Zé Limeira!
Na sala-biblioteca,
Duas varas de anzol,
Duas bola, uma peteca,
Um sabonete Eucalol,
Um caldeirão, uma faca,
Nun canto tem uma vaca
De fiofó costurado!
Pois a bicha é botadeira,
Da Casa de Zé Limeira
Isso é o retrato falado!
Nessa casa, em noite fria,
Bati na porta de trás.
Gritou Seu Zé, com alegria,
-Entre logo, meu rapaz!
Convidou-me pro almoço:
Trinta mangas sem caroço,
Um sapo, na churrasqueira...
Eu tomei quentão gelado,
Isso é o retrato falado
Da Casa de Zé Limeira!
Bem na sala de jantar
Tinha um ventilador
Que eu já vi funcionar,
Com farinha no motor!
A mesa, de uma só perna,
Encobrindo uma cisterna
Onde um leão é criado...
Nunca vi tanta doideira,
Da Casa de Zé Limeira
Isso é o retrato falado!
Na outra sala, a de estar,
Um sofá de ferro frio!
Alumia quem chegar,
Um lampião sem pavio!
E, num grande oratório,
Um Santo de suspensório,
De punhal e cartucheira,
Guarda a casa, bom soldado,
Isso é o retrato falado
Da casa de Zé Limeira!
Já no quarto do casal,
Uma cama sem colchão!
Um fogão e um varal,
Sete violas no chão!
Na parede, uma sacola
Com três galinhas dangola
E Seu Zé, esparrachado,
Roncando, na trepadeira,
Da Casa de Zé Limeira
Isso é o retrato falado!
Na mesa tem um aquário
Com um canário nadando!
Um bagre, de comissário,
Numa gaiola, voando!
Um retrato, na parede,
Reclamando muita sede,
Vai lá e abre a torneira.
Sai picolé requentado,
Isso é o retrato falado
Da Casa de Zé Limeira!
Fica embaixo, no porão
Do sótão da casa antiga,
A velha televisão
Que ninguém liga ou desliga!
Dentro dela, seu Doutor,
Eu vi um computador,
Servindo de frigideira!
Pra fritar sorvete assado,
Isso é o retrato falado
Da Casa de Zé Limeira!
Quem chega, assim, sem aviso,
Não pode se assustar.
Mas, valentia é preciso,
Pois vê-se logo, ao chegar,
A bruxa Fada Madrinha,
“Dispenando” uma sardinha
Para fazer um assado
No forno da geladeira!
Da Casa de Zé Limeira,
Isso é o retrato falado!
Muriçoca, na gaiola,
Três peixes no galinheiro,
O papagaio se embola
Com um gavião, no banheiro.
Numa área de serviço
O tanque tá com feitiço,
Sai um grito da torneira!
Não é desenho animado,
Isso é o retrato falado
Da Casa de Zé Limeira!
Pois Zé Limeira, um dia,
Se ausentou, pra passear.
Deu uma volta na Turquia,
Para as pernas espichar.
À noitinha, de regresso,
Ele descobriu, possesso,
Que a casa tinha mudado.
Foi-se embora, toda, inteira!
Da Casa de Zé Limeira,
Isso é o retrato falado!
Seu Zé procurou a casa
Nas estradas do Sertão!
E chegou, com os pés em brasa,
Na Capital do Sudão.
Comprou uma lesma banguela,
Atrelou numa gamela,
Para acelerar carreira!
E saiu, desembestado!
Isso é o retrato falado
Da casa de Zé Limeira!
A casa foi encontrada
Lá nas Terras do Sem-Fim.
-Tu vai voltar amarrada,
Seu Zé foi falando assim:
- Quando chegar lá na roça,
Tu vai tomar uma coça
De cipó-peba trançado,
Pra não fazer mais besteira!
Da casa de Zé Limeira,
Isso é o retrato falado!
Num dia quente de julho,
Seu Zé me diz: - Vem jantar!
Foi sopa de pedregulho,
Café em pó, sem coar!
O doce, que sofrimento,
Era caco de cimento,
Com pimenta espirradeira.
O licor era salgado!...
Isso é o retrato falado
Da Casa de Zé Limeira!
Assaram duzentos rato,
Cozinharam um camelo,
Tudo ao molho de sapato,
Recheado de cabelo!
A colher, um pé de cobra,
O garfo comia a sobra,
Eu disse então: -Tá danado!
O palito era a peixeira!
Da Casa de Zé Limeira
Isso é o retrato falado!
Em seus negócios, Seu Zé,
Quase nunca errava o bote:
Patativa do Assaré
Um dia, vendeu-lhe um pote!
No tal pote tinha ouro,
Mas seu Zé, vendo o tesouro,
Sacudiu na ribanceira.
O pote tá lá, guardado!
Isso é o retrato falado
Da casa de Zé Limeira.
Pra batizar uma filha,
A mais novinha das três,
Seu Zé juntou a família
E foi dizendo, de vez:
--Já escolhi o padrinho
É um tocador de pinho,
Poeta véi, arretado.
E foi Valdir Oliveira,
Da filha de Zé Limeira,
O Padrinho Convidado!
Ele é Dono e Coronel
Da Editora Canoa,
Que publica bom Cordel,
Só contando história boa!
Seu Zé fez essa homenagem
Pra celebrar a coragem
Deste homem de carreira...
Por isso foi indicado
Padrinho do batizado
Da Filha de Zé Limeira!
A festa foi um sucesso
Saiu em todo jornal.
Estive lá e confesso
Eu nunca vi nada igual:
Os poetas do Brasil
Chegaram em mais de mil,
Bem no dia combinado,
Fazendo farra e zueira!
Da Filha de Zé Limeira
Assim foi o batizado:
Patativa do Assaré
Foi o primeiro a chegar.
Seu Leandro veio a pé,
Pois não sabia montar.
E veio Jó Patriota,
E Louro, calçando a bota
De Inácio da Catingueira.
Azulão engravatado,
Assim foi o batizado
Da filha de Zé Limeira.
Na Igreja, muita gente
Se aglomerava pra ver!
Só poeta inteligente
Dava gosto conhecer!
Mais de duzentas violas
Retiradas das sacolas,
Num canturi arretado,
Só com mote de primeira!
Da filha de Zé Limeira,
Assim foi o batizado.
O padre falava Inglês,
O Sacristão era mudo.
Seu Zé vestia xadrez
Com gravata de veludo!
Dona Belinha, elegante,
Consertava a todo instante
A saia de bananeira!
E veio até deputado!
Assim foi o batizado
Da filha de Zé Limeira.
Mas quem quase aprontou
Foi o Padrinho escolhido.
Todo mundo já chegou,
Mas ele tava sumido.
Foi batendo um desespero,
Seu Zé, já no destempero:
-- Mas, cadê o condenado?
Chega Valdir, na carreira,
Da filha de Zé Limeira,
Assim foi o batizado!
-- Compadre, mas o que foi?
Porque foi que ocê sumiu?
E Valdir, mostrando um boi,
A desculpa proferiu:
-- É que eu vim nesse garrote,
Trazendo vinte carote
De boa pinga mineira!
-- Então, cê tá perdoado!
Assim foi o batizado
Da filha de Zé Limeira.
Pra fazer economia,
Pediram consentimento.
Fizeram, no mesmo dia,
Batizado e casamento.
A menina, batizada,
Já saiu de lá casada
Com um famoso Advogado!
E foi festa a noite inteira,
E a filha de Zé Limeira
Teve um casamentizado!
Na festa, mil violeiros
Faziam versos de amor.
Repentistas, seresteiros
Cantavam muito, em louvor!
Mas, eis que, em dado momento,
Zé Limeira toma assento,
Com a viola na mão.
E, entre acordes dolentes,
Começa a fazer repentes,
Pra filha do coração:
Minha Filha, seu pai canta
Tomado de emoção!
A Pinga, tomei na janta,
Almoço foi Alcatrão,
A merenda foi Conhaque,
Que chega ao bucho, nun baque,
E faz o velho rodar!
Mas isso é mesmo que nada
Você hoje está casada
E acabou de batizar!
Eu deixo a você a casa
Que um dia te viu nascer.
Se meu peito é uma brasa
É porque te quero ver
Com seu marido, feliz,
E quero um neto Juiz
Que não me venha julgar!
É uma alegria danada,
Você, hoje, batizada,
No mesmo dia, casar!
Eu fui cantador de trilha,
Rodando, pro mundo afora.
Mas eu voltei pra família,
E sou mais feliz agora,
Por fazer o combinado,
Casamento e batizado
E digo, com sentimento:
Viva Dom Pedro Primeiro
Que aqui, no meu terreiro,
Fez um batizcasamento!
Com toda pilogomia
Do verso heptolidário
Eu canto com a lombardia
De velho sexargitário,
Alfalins são guaiamuns,
Querubins são gerimuns
Entenda, pois, quem quiser...
São versos de claridade,
Pra sua felicidade,
Menina, moça e mulher!
Depois disso, Zé Limeira
Saiu, mais Dona Belinha.
Voando, numa esteira,
Na curva da estradinha!
Levou viola e chapéu,
Ela só levou um véu
Porque mais não foi preciso...
Dizem que se encantaram,
Duas estrelas viraram,
Juntinhos, no Paraíso!
A filha até hoje mora
Naquela casa encantada.
Estudou e é agora,
Uma grande advogada.
Tem um filho que é Juiz,
Como Zé Limeira quis,
Mas que não julga ninguém...
Já disse e digo de novo:
Na memória desse povo
É Seu Zé, e mais ninguém!
Quem duvidar dessa história
É certo que nunca viu
Aqueles tempos de glória
Que Zé Limeira curtiu!
Nunca viu cobra fumando,
Nem elefante voando,
Nem mosquito de chuteira!
Nunca viu peixe afogado,
Nem o retrato falado
Da Casa de Zé Limeira.
Quem disser que é mentira
Nunca viu jegue falar!
Nunca viu o Curupira
Com o pé torto, passear!
Nunca viu vela apagada
Alumiando a estrada
Para espantar a Milícia...
E, do Grande Zé Limeira,
Que nasceu lá no Teixeira,
Não teve nem a notícia!
Conforme está assentado
Onde se deve assentar,
Melhor é não duvidar
Pelo que foi relatado.
Antigo, porém, mostrado
Da forma mais verdadeira
Recordo Seu Zé Limeira
Em bom retrato falado.
Lembrança forte, brejeira,
Limeira é sempre citado,
Embora por brincadeira,
Mostra que foi respeitado!
O povo canta, na feira:
Salve, salve, Zé Limeira,
Salve, Poeta Arretado!
Fim
( * ) O Livro citado é: “Zé Limeira o Poeta do Absurdo” lançado pela Editora do Senado Federal em 1.988, em Brasília – DF. Autor: Orlando Tejo.
Dedicatória:
Dedico este trabalho ao Meu Compadre Valdir Oliveira, proprietário da Editora Canoa, de Caieiras - SP, que foi o primeiro amigo a me dar uma oportunidade de publicar um Folheto de Cordel.
Valdir Oliveira, além de Poeta e Editor de Cordel, é um homem de coragem. Investe sem medo em novos escritores, sendo um autêntico caça-talentos para a Literatura de Cordel.
Obrigado, meu Compadre Valdir, por me ajudar na realização de um sonho!
Agradecimentos:
Agradeço a Deus, que me deu o gosto pela Poesia,
A Meu Pai, saudoso “Seu Geraldo Capoteiro”, que me ensinou o caminho.
Ao meu compadre Valdir Oliveira, que publica meus versos,
Ao Meu Compadre Petronilo Filho à Minha Comadre Tessa Bastos e à Minha Comadre Ana Lídia, pelo excelente trabalho de revisão,
E a Você, que teve a paciência de ler tudo isso!
A todos, muito obrigado!
Sobre o Poeta Zé Limeira
Zé Limeira, conhecido como “O Poeta do Absurdo”, nasceu no sitio Tauá, na Serra do Teixeira, estado da Paraíba, no ano de 1886, onde faleceu, no Natal de 1954. Foi o repentista mais mitológico do Brasil.
Os temas que abordava em suas poesias e repentes eram variados e chegavam, muitas vezes, ao delírio. Limeira ficou conhecido por suas distorções históricas, poesias recheadas de surrealismo e nonsense e por neologismos (invenção de palavras) esdrúxulos que criava. Vestia-se de forma berrante, com enormes óculos escuros e anéis em todos os dedos e saía pelos caminhos de sua vida, cantando e versando.
Infelizmente, não há registro de sua voz. Fitas de pesquisadores que gravaram algumas de suas pelejas sumiram ou se deterioraram.
Se tão pouco se sabe sobre sua vida, sobre sua morte sabe-se menos ainda. Eis aqui a história, registro único que encontramos, nos escritos de Orlando Tejo:
“Depois de peregrinações pelas Alagoas, Pernambuco, Ceará e Paraíba, o velho poeta sentiu vontade de voltar para casa, no sítio Tauá, na serra do Teixeira. Saudades de Dona Bela, sua esposa e de suas filhas. No Natal de 1.954, chega, de volta à casa. E, para comemorar a Festa Cristã e a sua volta, faz-se, logo, uma Cantoria. Podia ser diferente?
A festa, no terreiro dos Limeira, começa. Inicia-se uma peleja entre o repentista Bentivi e o dono da casa.
Num intervalo da cantoria uma comadre lhe pede que cante “O Romance da Pavoa Devoradora”. Limeira explica que só pode cantar depois da meia-noite sob pena de cantar antes e morrer. A audiência insiste e Limeira, quebrando o preceito, diz que vai cantar.
Após solicitar um silêncio total, fere as doze cordas de sua viola e canta as sinistras e pestilentas estrofes do poema.
Assim que termina a cantoria, põe sua viola sobre uma cadeira. O instrumento cai. Sua mulher estranha. Lá pelas três horas da manhã, Limeira cai fulminado. Vai ao chão com viola e tudo e assim “sai da vida para entrar na história” o mais tropicalista e surreal dos poetas brasileiros.”
Afirma Orlando Tejo que tal relato é absolutamente verdadeiro!