A Incrível estória de Zigfeld Nepomuceno

I

Que se cale a musa antiga,

•Sobre Gregos e Troianos.

Não cante também Camões

Os feitos dos Lusitanos,

Vergílio não leve a mal

Falarei do Maioral

De todos pernambucanos.

II

Zigfeld Nepomuceno

Foi o nome que lhe deram

E os outros homens do mundo

Entre os grandes que houveram

Nenhum foi igual a ele,

Contarei a vida dele

Do jeito que me disseram.

III

Num dia qualquer do ano,

Não sei bem qual foi ao certo,

Numa certa madrugada,

Estando o céu encoberto,

Quando a alvorada vinha,

Nasceu lá na mustardinha

O seu filho mais esperto.

IV

Na sétima lua cheia,

Depois da maior minguante

Ecoou na madrugada

Longo grito lancinante,

Como a muito não se ouvia,

Era sua mãe que o paria

Naquela hora e instante.....................................................................................................................

............XIX

Sua Infância começou

De forma surpreendente,

Em menos de um ano tinha

Um linguajar eloqüente,

Sobre tudo discorria,

E o muito que ele sabia

“abismava” toda gente.

XX

Cedo aprendeu a andar,

E mostrou aptidão

Para entender qualquer livro

Que lhe caísse na mão,

Aprendeu Russo e Francês,

Coreano e Japonês,

Ciríaco e alemão.

XXI

Era um grande autodidata,

Aprendia com presteza,

Qualquer revista ou jornal

Abria em riba da mesa,

E neles ia passeado,

Descia de lá falando

Com dicção e clareza.

XXII

Aos dois anos já sabia

O Inglês claro e fluente,

As línguas neolatinas

E as do velho continente,

As falava, tanto as modernas,

Como as de antigamente.

XXIII

De línguas mortas e vivas

Discorria e discursava,

Do médio ao alto oriente

Em todas elas falava;

O Copta, O Devanagari,

Do Banto do Kalahari

Até escrita inventava.

XXIV

Falava proto-Semítico,

Aramaico e Javanês,

E três mil Kataganás

Do Idioma Chinês,

E as Iraganás criadas

Mas pronúncias figuradas

Do moderno Japonês.

XXV

Falou Tupy-Guarany,

Relendo Zé de Anchieta,

E gramática Aramaica

Lendo a pedra da roseta,

E relendo Gil Vicente

Aprendeu fluentemente

A arcaico Lisboeta.

XXVI

O Português com origens

Do antigo Catalão,

Nas Odes de Dom Diniz,

Aprendeu em um serão,

E o Grego ele aprendeu

Quando no original leu

Toda obra de Platão.

XXVII

Aos vedas, os leu em sânscrito,

Em Iídiche, o Zed Avesta,

O Ramayana em Industani,

Numa edição modesta,

Pois do em Devanagarik

Redigido por Walmik.

Hoje já mais nada resta.

XXVIII

Assim ele foi crescendo

Em grande sabedoria,

Nas artes e profissões

Tudo que via aprendia,

Tentarei enumerar

Mas é difícil lembrar

Tudo quanto ele sabia.

XXIX

Só de olhar aprendeu

Carpina e marcenaria,

Aos oito anos já era

Perito em movelaria,

Ferreiro, ferramenteiro,

Calafate, foqueteiro,

E bom em funilaria.

XXX

Aprendeu lidar com tintas

Em todas as suas misturas,

Fez telas maravilhosas,

E também fez esculturas

De beleza estonteante,

Foi o “Thales” itinerante,

Do sertão, nestas alturas.

XXXI

Tinha habilidade nata

Para mecânica fina,

Aprendeu com João Galindo,

Relojoeiro da esquina,

Mas ao mestre superou

E muita coisa o ensinou

Melhorando sua sina.

XXXII

Estudando nutrição,

Aplicou em seu Proveito,

Mesmo nascido franzino

Transformou-se num sujeito

De compleição grande e forte

E tinha um altivo porte

Apesar de ser malfeito.

XXXIII

Quando ainda era menino

Seus pais mudaram prum morro

Pras bandas de cavaleiro,

Onde apanhou pra cachorro,

Sua aparência enojava,

Por isto o povo olhava

Mas não vinha em seu socorro.

XXXIV

Teve que aprender sozinho

O jogo da capoeira,

O que aprendeu olhando

As rodas no meio da feira,

depois virou a satanás,

E ninguém o viu jamais

Apanhando de bobeira.

XXXV

Quando ele ficou adulto

Tinha tal sabedoria

Como antes ninguém teve,

Nem depois dele teria,

Isto lhe deu poder tal

Que se tornou atemporal

Indo aonde bem queria.

XXXVI

O Conde de Saint-Germain

Perto dele era fichinha,

Mas ele não demostrava

O grande poder que tinha,

Comportava-se normalmente,

E foi morar novamente

No bairro da Mustardinha.

XXXVII

Adotou a indumentária

Que na época se usava,

Terno de brim, suspensórios,

Que como não abotoava

O paletó, todos os viam,

E as roupas pareciam

Que nunca alguém as engomava.

XXXVIII

Uns chapéus de abas largas,

De feltros, muito vistosos,

Os sapatos “schatamacchios”

Sempre bem limpos e lustrosos,

Tinha um lenço na lapela,

E no cinto uma fivela

De relevos primorosos.

XXXIX

Procurou ser apolítico

E não Ter religião.

Pois a todas conhecia

Tal qual a palma da mão,

Mas a ninguém demonstrava,

Por isto ele evitava

Travar qualquer discussão.

XL

Conhecia o Corão,

Até o interpretava,

A cosmogonia Védica,

A mitologia Eslava,

Também a Greco-Romana

E a seita Greco-Tebana

Que Epícuro professava.

XLI

Conhecia Zarastrusta,

Fô-Hi, Shidarta e Moisés,

As leis santas de Hamurabi,

O lendário Gilgamés,

O Walala de Odim,

O Thalmude, os Midrashin,

E as leis de Radamés.

LXII

O Pentateuco ele lera

Em grego e em aramaico,

E numa impressão modesta

Já neste moderno Hebraico......

Conhecia as leis de cor

Das quais ele era o maior

Conhecedor entre os laicos.

XLIII

Toda obra de Maimônedes

Estudou profundamente

Leu o Guia Dos perplexos,

E procurou diligente

Tudo que ele escreveu,

E encontrando, a tudo leu,

E aprendeu prontamente.

XLIV

Conhecia profundamente

Cultos pré-colombianos,

Dos autóctones primitivos

Dos solos americanos,

Chilam –Balam, Pophol-Vhul,

Ca da América do sul,

Dos primevos mexicanos.

XLV

Por isto não discutia

Este assunto com ninguém,

Porém jamais se furtava

De conversa-lo com quem

Conhecesse de verdade,

E na mesma profundidade

Ele falava também.

XLVI

Com todo este saber

Era um homem comedido,

Como era bom conselheiro

Era muito conhecido,

todo povo o procurava,

E ele nunca se esquivava

De ajudar a um desvalido.

Mestre Egídio

Mestre Egídio
Enviado por Mestre Egídio em 02/06/2008
Código do texto: T1016058