O coroné e a cabrita. Cordel safado.

Autor: Daniel Fiúza

02/05/2003

01

O coroné Armando pinto

Poderoso fazendeiro

O dono de muitas terras

Muito gado e dinheiro

e entre seus moradores

Pra quem fazia favores

Tinha o Chico boiadeiro.

02

Moço simples e ordeiro

Pai de Maria da paz

Uma linda cabritinha

Com encantos divinais

Broto de pele morena

Boca vermelha e pequena

Um olhar vivo e sagaz.

03

Aos quinze anos, não mais!

Nos anos de Cinderela

Tinha o frescor da manhã

Era meiga pura e bela

Pernas grossas e roliças

Tinha o olor das melissas

E muita delícia nela.

04

Seios firmes que revela

Poder de furar a chita

Seus cabelos de graúna

A tornava mais bonita

Olhar cheio de tesão

Esperteza e sedução

Sua malícia era Infinita.

05

Coroné vê sua priquita

Não tira o ôi na menina

Se ela passava por perto

Ele levantava a crina

Esperta ela rebolava

Sorrindo tudo mostrava

Na sua beleza divina.

06

Quando a mulher foi pra china

Achou que chegou o dia

Para poder ter a paz

Teria que ter a Maria

Parecia uma obsessão

Se sentia um garanhão

Pra comer aquela cria.

07

O coroné só queria

Provar aquele manjar

Devorando a cabritinha

Por isso mandou chamar

À menina pro escritório

Preparou um dormitório

Só para se deliciar.

08

Pro seu desejo matar

O coroné tudo faz

Chamou logo um empregado

Pra buscar Maria da paz

Fosse logo e ligeiro

Pois hoje tava solteiro

Não podia esperar mais

08

Zé Firmino o capataz

Depressa chamou Maria

Para ir vê seu coroné

Saber o quele queria

Pois ele tava chamando

No escritório esperando

Ir bem depressa devia.

09

- Cê sabe o quele queria?

Maria da paz perguntou.

- Sei não: disse o rapaz!

Só fiz o quele mandou

Vá logo e deixe de prosa

É melhor se pôr mimosa

Cheirando que nem fulô.

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- Diga prele queu já vou

Vou banhar e botá saia

Um pouquim dágua de cheiro

Pra não parecer catraia

Quero chegar bem formosa

Mais bunita que uma rosa

E mostrar minha boa laia.

11

- Coroné chamou na baia,

Pra mode falar comigo?

Maria da paz perguntou!

Logo ao chegar no abrigo.

Era uma doce cabrita

Vestidinha c’a sua chita

Gostosinha, um perigo.

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Banhada cheirando a trigo

Tinha a blusa transparente

Uma saia bem curtinha

Preparada e indecente

No seu cabelo uma fita

Se portando tal Lolita

Se fazendo de inocente.

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Sentou logo displicente

Ao lado do coroné

À sua saia minúscula

Na boca do jacaré

A safada cabritinha

Mostrando sua calcinha

Deixava o bicho de pé.

14

Com seios molhados, até!

Na blusa era um espanto

O zói do Armando crescia

Querendo botar quebranto

Com olhar tava comendo

A menina tava vendo

Quesse homi nera santo.

15

- Oh! Coroné num óia tanto

Pra riba da minha brusa

Que eu fico encabulada

Assim o sinhô me abusa

O meu rosto pega fogo

Tô assuntando seu jogo,

Mas ainda estou confusa.

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A menina tava obtusa,

Mas vinha arfando o peito

Os olhos dela brilhava

Ela fazia um trejeito

Já ficando com tesão,

Fingindo indignação,

Mas querendo ir pro leito.

17

- Óia os bicos dos meus peito

Tá querendo sartá fora

Já ficaram arripiados

É mais mió eu ir imbora

Já tô ficando lesada

C’a sua barraca armada

Tua carça logo instora.

18

- Coroné não Poe pra fora

Não incosta isso neu

Se ponhá a mão nimim

Eu grito que cê bebeu,

Esse ôi de pexe morto

Fica óiando meu porto;

Tá querendo cumê eu?

19

- Coroné cê se excedeu

O sinhô tá me apertando

E o mastro do teu circo

Minhas coxas pressionando

Um calor tá me subindo

Uma coisa eu tô sentindo

Já não tô me agüentando.

20

- A minha roupa tirando

Cê me deixa peladinha

Coroné muito atrevido,

Eu vou contar pra madrinha!

Fica chupando meu peito

Me deixando desse jeito

c’a priquita molhadinha.

21

- Eu tô cum sinhô sozinha

Nem venha muntá nimim

Não abra as minhas pernas,

Porquê é teimoso assim?

Tá querendo me beijar

E justo nesse lugá

O sinhô quer vê meu fim!

22

- Se acalme doce jasmim:

Falou o véi Armando Pinto

Só quero te dá prazer

Quero que sinta o queu sinto

Você me deixa maluco

Só vou provar o teu suco

Com gosto de vinho tinto.

23

- Quando te falo, não minto!

Estou te dando esse aviso

Sei que você tá querendo

Nem insistir eu preciso

Sou garanhão na tua anca

Cê será minha potranca

E vai gozar no paraíso

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- Teu corpo todo eu aliso

Depois vou te cavalgar

A galope, desenfreado,

Nem sei onde vou parar

Deixe o corpo preparado

Posição do frango assado

Que logo vou te espetar.

25

- Vou te lamber devagar

Da tua boca até teu pé

Te dá muitos beijos loucos

Pra te mostrar como é

Beber água na tua fonte

Escalar teu belo monte

Aproveitando tua maré.

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- O sinhô sabe Cuma é,

Mas deixe de trololó

Venha para riba deu

Me tire do caritó

Queu já não agüento mais

Vem logo e me satisfaz

Desatando esse meu nó.

27

Coroné não sentiu dó

Quando quebrou seu cabaço

A Menina pediu tudo

Quando Sentiu nela o aço

Gemendo pedia mais,

Armando pinto é capaz

De preencher todo espaço.

28

E sem nenhum embaraço

À menina foi dizendo:

- Eu vou querer todo dia

Isso que nóiz tá fazendo

Agora queu descobri

E cum sinhô aprendi

Bem mais amor tô querendo.

28

- Coroné num tá sabendo

Queu sou chave de cadeia

Vai ter que me sustentá

Ou a coisa ficá feia

Agora sou sua teúda

E também sua manteúda,

Pois cê cumeu fia alheia.

29

- Quero casa e bolsa cheia

Um carro pra passiá

E muitos vestidos novos

Sinhô vai ter que me dá

Ou vou à delegacia

Faço queixa e estripulia

Pai pode inté te matar.

30

- O que cê quer vou te dar

Casa comida e amor.

Prometeu Armando Pinto,

Maria da paz gostou.

Coroné ficou tranqüilo

Tirando dela esse grilo

Sem fazer nenhum favor.

31

Maria dá paz se firmou

Hoje vive na cidade

Com todas as regalias

E vida de qualidade

Quer que todo mundo chame

Pelo nome de madame

De nada sente saudade.

32

Pra vê a preciosidade

Coroné vai todo mês,

Mas quando ele vai embora

Tem gente esperando a vez

Com o fogo quela tem

Nunca enjeita ninguém

Tem fila pra ser freguês.

Domfiuza
Enviado por Domfiuza em 30/05/2008
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