ROSINHA, ESPINHO DE AMOR.

Gostava, eu, de rosinha

Lhe tinha em meu coração

A filha do coronel

Manoel Antonio Romão

Homem brabo, vingativo

Que pra mim era motivo

Pra esconder essa paixão

Mas um certo dia deu-se

Que eu vinha laborando

Bem perto da igrejinha

Tangendo gado e cantando

Quando lá no fim da pista

(chega esfreguei a vista!)

Vinha Rosinha chorando.

Daí, saltei da minha mula

Corri em sua direção

Parei bem na sua frente

E disse de supetão:

- Ora pois moça rosinha

Por que estás tão tristinha?

O que lhe causa aflição?

Rosinha tomou um susto

Com a minha insolência

Confesso, fui meio bruto

Hoje tenho consciência

Mas na hora tive não

Tamanha era a emoção

Em olhar sua sofrência

Depois de se recompor

Rosinha me disse em fim:

- Saiba o que me causa dor,

O que me deixou assim

É ter destino fadado

Num casamento arranjado

Que papai impôs a mim.

- É com grande desventura

Que vou ter que me casar

Com o velho Chapadura

Pra meu papai agradar

Pois aquele é seu amigo

Homem rico e conhecido

Que seu sócio quer virar.

Quando ela me disse isso

Senti meu peito rachar

De raiva soltei um grito

Que não deu pra segurar

E tomando sua mão

Desprovi-me de razão

E me pus a lhe falar:

- Rosinha dos sonhos meus

A muito estou carregando

Um coração que é seu

E em meu peito está pulsando

E se eu te perder pra outro

Sou capaz de ficar louco

Acabo me estuporando!

- Tu sois a formosa espécie

Que eu quero em meu jardim

E rezo que uma abelha

Te traga um dia por fim

Que eu a ti sou só amores

Juro, não quero outras flores

Se eu ti tiver pra mim!

Rosinha escutando isso

Dobrou a sua emoção

Desvencilhou-se de mim

Secou o rosto com a mão

Disse: - Olhe meu querido

Não lhe quero deprimido

Mas não lhe tenho paixão

- Enquanto vinha chorando

Sonhava com um encantado

Vestido de linho branco

Montado em seu cavalo

Que deste triste penar

Viria me resgatar,

Me levar pro seu reinado!

- Você embora simpático

Tem por roupa um gibão

Montava em uma mula

E não tem educação

Seu reinado é resumido

A um roçado surtido

E uns quatro bois tungão!

- Desculpe pelo que digo

Mas estou sendo sincera

E ao vir me cortejar

O que mais você espera?

Pois sou muito bem prendada

Na França fui educada

E nasci pra ser quimera!

Foram essas as palavras

Que mataram minha paixão

Ali me senti um lixo

Que num vale um tostão

E vi o amor que eu tinha

Se acabar, feito farinha

Nas mesas cá do sertão

Mas pra falar a verdade

Nas contas que eu pondero

Inda gosto de Rosinha

Estou sendo bem sincero

Mas se eu for contar as fichas

É uma paixãozinha micha,

Uma faísca de esmero

Desse fato ocorrido

É disso que inda lembro

Mas vindo me perguntar

De cara eu já emendo

Que daquele dia então

Amarguro a solidão

E o amor eu não entendo!