Estória de papagaio

Autor: Daniel Fiúza.

17/03/2004

A papagaia encalhava

Numa loja de animais,

Pois falava palavrões

E frases muito imorais

Palrava filho da puta

Corno, fresco e prostituta

Nas baixarias gerais

Ninguém agüentava mais

A papagaia indecente

Que nunca era vendida

Por ser assim delinqüente

Xingava só palavrão

Frase de baixo calão

E rindo como demente.

Papagaia impertinente

Rameira e desbocada

Ela mesma se dizia

Quera puta declarada

Que precisava de macho

Pra vir baixar o seu facho

Numa suruba arretada

Essa loura depravada

Afastava a freguesia

O dono se lamentava

A loja quase falia

Precisava dar um jeito

Se desfazer do mal feito

E até matá-la queria.

Uma freira certo dia

Sabendo do acontecido

Disse ao proprietário

Num gesto oferecido

Que poderia ajudar

E a papagaia salvar

Pro seu dever ser cumprido

O dono muito sabido

Se mostrou interessado,

Pois queria logo ver

O milagre realizado

Como e onde seria

Já falou com alegria

Muito feliz e animado.

Num convento retirado

Moram dois louros santos

Que vivem só pra rezar

Coisa de causar espantos

Se levar a papagaia

Talvez sua ficha caia

Rezando cai nos prantos

Tem imagens nos cantos

Silêncio e muita paz

O canto gregoriano

Ladainhas semanais

Ela vai ter que aprender

Rezar vai ser seu lazer

E palavrão nunca mais.

O dono muito sagaz

Deu a papagaia, ligeiro

Se livrou do abacaxi

Da loura de um puteiro

Mandou a freira levar

E nada ele quis cobrar

E ainda lhe deu dinheiro

Cobriu com pano inteiro

A ave denda gaiola

Rindo de felicidade

Quase no chão ele rola

Se despedindo da freira

Com medo que ela queira

Mudar o rumo da bola.

Achando que tudo cola

Ela chegou ao convento

C’aquela ave imoral

De baixo procedimento

Levou pra perto dos louros

Que rezavam feito tolos

Na vida a todo momento

Soltando a voz no vento

Achando aquilo fajuta

Gritou no meio da reza

Eu sou puta, eu sou puta

Sou a loura da perdição

Venho cheia de tesão

Preparada pra labuta.

A dupla logo escuta

Um parou de rezar

Com um sorriso maroto

E um brilho no olhar

Vendo quem chegou de saia

Uma linda papagaia

Com muito amor pra dar

Falou pro outro parar

O impossível acontece

Nós já rezamos demais

Alguém ouviu nossa prece

Mandou o nosso presente

Uma loura tão ardente

Porque a gente merece.

Domfiuza
Enviado por Domfiuza em 28/05/2008
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