AINDA SEM TITULO

A perícia acaba de adentrar na casa do homem que assim disseram-me ter passado quarenta dias e quarenta noites, em jejum absoluto. Antes que os homens da perícia saíssem com o corpo, fiquei absorto, no motivo que tinha para ele se matar dessa forma. Sabia apenas que não fora por motivos religiosos e nem rituais de magia negra, Lucas procurava a linha cética para viver. (Eu não estava bem certo do seu nome). Perguntei-me por ser o mesmo numero de dias e noites que Jesus passou em Jejum no deserto e depois foi tentado, será que sofrera de tentação? Se não foi por motivos religiosos. Foram quais? O que passou por sua cabeça? E quando chegaram os dias finais, quando já tivera certeza da morte, os sintomas apareceram pensou em desistir?

Com tantas perguntas remoendo meus pensamentos, e meu instinto investigativo guiando-me fui até a casa do morto, pelos fundos que se via da minha janela superior. Enquanto eu buscava algum tipo de camuflagem decente na área que reservava para quarar roupas, à minha intenção era a das melhores, somente a ambição da curiosidade, fui-me...

Não entrei na casa por motivos de disfarce. Então, como já conhecia a casa preferi imaginá-la em todos os compartimentos, onde os peritos estavam, tentava com exercícios de concentração vê toda à cena, era difícil, pois, havia muito barulho de carros, tanto saindo quanto entrando, num rebuliço de pessoas curiosas e com muita criatividade, para imaginar:

“Dizem que foi a sua mulher que estava envenenando-o em pequenas dozes”.

Outros ainda diziam que o motivo era apenas por preguiça de sair para comer, uns acreditavam de se tratar de um protesto político, alguns católicos diziam de se tratar de um santo enviado por Deus para nós termos mais caridade com os pobres e famintos que tinha pela região.

Em um momento tentei levantar, ouvi mais passos presente do que pessoas falantes, enquanto se punham a dependurar os cotovelos nas janelas, fumando cigarros, e o coronel ou encarregado da operação, fumando charuto dava algumas ordens de como procedia à investigação, da qual eles nem sabiam que eu fazia parte.

Os homens ficaram em torno de 4horas e 40minuto dentro da casa e não me viram, nem se quer rodearam a área próxima, por se tratar, de um suicídio e não havia ameaça relatado na sua agenda eletrônica, no seu e-mail, no seu celular e todos os seus meios de contatos, nem uma pista. O corpo não foi tocado por ordem do coronel Matias.

Com as minhas espreitadas conseguir vê-lo pelas frestas da janela, com seu rosto debruçado na escrivaninha, não havia sangue nem sinal de briga no local, a casa de madeira com apenas um cômodo. Sua máquina de datilografa ligeiramente afastada pelo seu braço, os peritos no seu trabalho minucioso, com suas caras verossímeis às cientistas. Os policiais mediante a entrada dos peritos e depois de estabelecerem um diálogo botando os técnicos à parte da investigação, enquanto um dos peritos levantava a cabeça do morto.

Além do odor da carne pútrida que exalou por toda casa, causando repulsa nos policiais. E, que saíram do quarto, a base de protestos. O rosto do cadáver era assustador, o lado da face que repousara na escrivaninha, estava resumido de quase todo a osso. Expondo toda sua arcaria dentária, os olhos abertos, mas, levemente tombados, os cabelos findando-se, alguns buracos perto do nariz corroído por bicho da sua própria carne, tamanha era sua fase de putrefação, que envolta do corpo, mesmo com a presença de homens, as moscas e bichos nojentos não o deixavam em paz.

Pus fim na observação. Quando o perito abriu a boca da vitima com um instrumento metálico, a língua estava em pior estado de decomposição, havia bichos dentro da boca pregada nos seus lábios e língua, comendo-o de forma voraz. Sem sangue somente a carne seca, como se seu corpo tivesse desvairado em líquidos, sua pele flácida de pouca resistência.

Estatelei-me na parede do casebre e sentei abaixo da janela, pasmo e perplexo com a cena que acabava de ver extremamente cruel e repugnante. O corpo, os bichos, a frieza dos técnicos, a forma que tratavam o caso, tomei parte daquilo que não podia mais fugir, e todas as perguntas voltavam e ressoavam ainda mais forte latentes e desgovernadas.

Fechei os olhos e senti que estava à cair no buraco negro cósmico, e abrir os olhos repentinamente, estava eu lá, no mesmo lugar que antes, certifiquei-me olhando para o corpo, que de repente conseguia lembrar do seu real nome... não era Lucas como pressumia... era...? Muitos nomes vinham à cabeça. Começando pelas têmporas, suava o corpo todo e um frio tênue lastimante. À pôr os ossos a fremidar com austera sensibilidade, um desespero mental me abolia a razão, um sonho não sonhado, um caminho de luz, a minha experiência pós-morte, não sabia o que pensar... Um grito estridente me açoitou nos ouvidos, reconlhendo-me na luz, o sol era a única energia necessária para me manter consciente, mas havia uma Luz celeste, única e diferente, que me nutria por dentro, nunca tinha sentido algo tão maravilhoso.

Andei em direção ao quintal, voltei a sentar e palpar a terra, substância fria aliviava-me o calor, o cheiro de umido inebriava-me, as mãos passavam-me terra no rosto, involuntariamente, a sensação alternava entre o nojo e o ardo, a fome e o alivio, instantâneamente.

Abrir os olhos, os pássaros cantavam alegremente, o sol despontava entre as nuvens, posterior a chuva de verão que suavizava a tarde de julho, permeio ao quintal, de mãos e rosto sujo de terra preta, a conciencia demorou a voltar, por volta de três minutos, paralizado, estático, sem mover um único músculo, nem a razão se manifestava. Recuperando os movimentos, veio dores musculares, dor de cabeça e não havia nem uma parte do corpo que estevesse extremamente dolorido, na volta do raciocínio, me arrastei ao casebre que agora parecia estar nnum silêncio solene, como se o lugar dormice.

A janela estava aberta, mas, não soava mais os comentários da vizinhança nem a cirene das viaturas, os pássaros cantavam em plena hamonia com a natureza. E arrastando as minhas costas pela parede do casebre, olhando para dentro, da visão do lado esquerdo do casebre, não ví o cadáver nem os peritos, ouvi algumas vozes e gargalhadas e o estampido da porta abrido-se e fechando-se.

- Bom dia!...

- Boa amigo, estava lhe esperando à tempos.

- Vamos?! Já estar na hora de honrar o que foi prometido.

- Nem precisa me dizer o que foi prometido, vou cumprir, só preciso desse livro e nada mais.

- Não é essa sua promessa, e sim a “Verdade” – referindo-se a seu amigo de forma irônica e sarcástica.

- Sei qual é a minha promessa e espero que Deus me ajude para eu conseguir, provar e calar a boca daquele... Melhor me controlar antes que blasfeme.

- Deus existe... Mas, não acredito que consigas provar com argumentos suficientemente na Bíblia.

- Pois conseguirei amigo, fique certo disso.

E saíram batendo a porta, como se nada tivesse acontecido, não reconheci o cadáver que estava posto à escrivaninha pouco tempo depois, eram outros moradores que estavam na casa, mas aparentemente, o quarto estava do jeito que a perícia encontrou. Um dos homens, entrou novamente no casebre, me escondi do lado esquerdo da janela, num estrondo fechou a janela com trinco, e nada mais fez sentido.

INTERMINADO...

Dennys Evangelista
Enviado por Dennys Evangelista em 21/05/2008
Código do texto: T999144
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