CENA NA RUA GARIBALDI

Na calçada da Rua Garibaldi, Sheila começa seu dia de labuta. De longe observa um homem caminhar devagar, distraído, ombros caídos, como se carregasse um balaio de batatas nas costas. "Este é o primeiro de hoje" - Pensa. Nota que veste roupas simples, mas limpas e certas no corpo encolhido. "Parece abobado, melhor, será mais fácil". O homem se aproxima, Sheila intervém:

- Olá querido, vamos fazer um carinho? - Ela nota o susto dele, pelo jeito não esperava aquilo.

- Um carinho?

- É. Um programinha de meia hora.

- Não posso, sou casado.

- Casado tem desconto. Faço por trinta reais.

- Estou desempregado, não posso pagar.

- Vamos tomar uma cervejinha. - Sheila toma seu braço. Ele reage arredio, envergonhado.

- Como é teu nome meu bem?

- João Carlos Nascimento e Silva.

Ela manda vir uma cerveja, enche os copos. “Daqui a pouco ele abre a mão". E acende um cigarro, cruzando as coxas apertadas na mini-saia de lycra.

Na segunda cerveja, Scheila percebe que João Carlos está mais solto, faceiro. Ela pega a mão dele e conduz entre suas pernas, deixando-o entusiasma. Bruscamente, ele enfia a mão nos seios dela, espremendo desajeitadamente. “É mais um grosso feito uma carroça”. Melhor assim, trepa rápido, paga e vai embora".

- Querido, vamos subir?

- Subir aonde?

- Para o quarto.

Ele se levanta rápido, assustado.

- Não posso, não dá, não consigo. Tenho que ir. Não estou acostumado com mulheres estranhas.

- Qual é cara, tu acha que é passar a mão e cair fora? Se tu não quer trepar, tudo bem, mas paga os trinta pelo tempo que perdi.

João Carlos sai correndo, tropeçando pela calçada. Scheila chama o Cafetão e aponta a figura do homem que desaparece na esquina.