A BRUXA DE VENEZA

Naquela tarde havia chovido, e o mar agitado assustava as gôndolas ancoradas às margens da tradicional cidade italiana.

O amor dava trégua aos sonhos, que pacientes aguardavam pelo sol que até então se escondera, até que logo mais se realizassem os esperados passeios através dos canais da cidade, que classica e ternamente carregam os enamorados e suas histórias.

As pombas, como de costume, sobrevoavam em bandos a catedral de São Marcos, e os turistas se encantavam com a cidade medieval, já quase submersa naquelas águas.

O cenário era cinza, mas não menos bonito que todos os cenários que a cidade comporta. Uma bela fotografia em cor sépia.

E ela estava lá, numa daquelas esquinas de poesia, toda de negro, com o olhar perdido para aquele horizonte sem sol...

Magra de chamar atenção, trajava um sobretudo pesado, trazia no pescoço um lenço de seda também escura, um chapéu de abas longas e pontiagudo, e entre os dedos finos segurava uma piteira exótica, donde exalavam alguns jatos de fumaça dum tabaco cheirando a incenso. Uma pequena tatuagem descoberta, desenhava em seu pescoço algo um tanto simbólico, que não pude decifrar.

Passando por ela senti algo como um arrepio, que me percorreu por inteira.

Havia ali algo energético, como um conjunto de elemetos esotéricos a me desvendar ou a nos contar as histórias dos tempos e os desejos dos pensamentos que queremos esquecer.

Bonita mas de face sizuda, fitou-me os olhos e leu o meu pensamento. Asssutei-me, e percebi que acelerei os passos.

Mas antes que eu arredasse os pés daquele meu chão torto a balouçar no mar de ondas dos meus medos, lançou-me um sorrisso inesperado e me sentenciou:

-Calma, não tenhas medo, ninguém em tempo algum fugiu do que já está escrito...e o amor... sempre nos acha.

Apagou o cigarro, e rapidamente de costas eu a pude ver dobrar a última esquina daquele mar, a esvaecer numa nuvem baixa.

Naquele instante o céu se abriu, e o mar de Veneza foi iluminado pelos resquícios dum sol que já se ia apoiado sobre um arco-íris; e as gôndolas voltaram a flutuar naquelas águas seculares...a carregar todos os amores.Eu eu também segui .

Trêmula ,subi as escadarias da Catedral, fiz o sinal da cruz com um pouco de àgua benta, e elevei meus olhos a todos os Santos de minúsculos mosaicos Bizantinos, em fervorosa prece.

Nota:Semi-verídico.