Fósseis

Arqueologia da dor

Consta que as atrocidades cometidas ao longo dos tempos obedecem à lei da competição dos grupos. Semianimalescos, os grupamentos têm como cimento aglomerante a tecnologia, ou seja, práticas sociais e colaborativas para conseguir alimentos e materiais necessários a sobrevivência do grupo. Traços de civilidade aparecem, quando o indivíduo é capaz de sacrificar-se em nome do grupo, particularmente nos cuidados com as crianças que representam o futuro, e também quando manifestações espirituais se incorporam às práticas tribais.

O encontro entre grupamentos distintos só pode levar à guerra ou à fusão dos grupos.

O conflito, em forma de guerra, é sempre um extermínio, apresentando-se como grande avanço em termos civilizatórios, a possibilidade de ao invés de sacrificarem-se prisioneiros, transforma-los em escravos, membros adventícios do grupo de posição francamente inferior, que devem prestar obediência aos seus senhores.

Mas, freqüentemente, as velhas práticas do extermínio voltam a aparecer e perecem milhões em guerras, através dos séculos, demonstrando que se está longe e conseguir domesticar o animal selvagem que se oculta sob a carapaça da sabedoria.

Veja quantos corpos anônimos jazem em valas comuns e quantos permaneceram insepultos. Quem falará por eles, quem pensará neles? Somente tu, meu filho, ao revolver o lixo da terra e encontrar ossos fossilizados.

Então, mãos a obra.

O mestre falou e eu encarei o campo de estudos onde perderei os próximos cinqüenta anos da minha vida.