O PERFUME DUM ADEUS

Aquele lugar já se lhe tornara um refúgio.

Rapidamente ligava seu notebook, em poucos segundos entrava em contato com as notícias do mundo, e então retornava ao universo fascinante dos livros.

Sempre gostara de ler, os livros a levavam a mundos diferentes, mais humanizados, às aventuras emocionantes, ao amor, sem que também jamais precisasse sair do lugar.

E era assim que Ana Maria passava as suas tardes.

Naquele Net-Café, sentava sossegadamente de frente à avenida marginal do rio, donde podia avistar algumas flores vermelhas plantadas às suas margens, exatamente aonde alguns de seus melhores sonhos haviam se perdido no tempo.

Às vezes, via de relance uma lembrança a pedir -lhe socorro lá longe, submergida nas águas do rio, encoberto pela bela e recém construída ponte estaiada.

Nas prateleiras, sempre escolhia uma história.

Ana Maria se sentia feliz, porque ali sempre conseguira escolher seu enredo, sem ter que abrir mão dos capítulos.

Ali, poderia voar do prefácio e ao epílogo, sem pular nenhuma página.

-Senhorita, seu capuccino...

Agradecia com um meigo sorriso, mordiscava o biscoitinho de nozes, e voltava a folhear tranquilamente as histórias que lhe percorriam os olhos...a degustar aquele gostinho de saudade...

Por vezes chorava lágrimas fictícias porque sabia que na próxima página festejaria o amor,pois já se acostumara àquele toque sensual que só o amor dos livros de romances sabe nos proporcionar.

E era apenas por isso que Ana Maria lá voltava todas as tardes.

Mas certa vez, Ana Maria quis ser a história.

Já não lhe bastava ser um personagem virtual.

Então, fechou os olhos e decidiu ser o epílogo da história escolhida.

Alcançou a tempo a última página e se perdeu entre as letras dum inesperado adeus.

Nunca mais se viu Ana Maria por lá.

Dizem, os que a conheceram naquele net café, que todas as tardes,sempre no mesmo horário, ao se abrir qualquer livro, alí pairam no ar nuanças das notas do seu delicado perfume floral.