MEMORIAS DE UMA SUICIDA

Tudo que me lembro da minha existência terrena são dos dias

cinzas e obscuros. Depois me vejo ao lado do meu corpo, pes-

soas queridas que choram, em vão tento falar com elas.

De repente tudo esta escuro, a dor me dilacera a carne.

Eu quero gritar, fugir daquela cena aterrorizadora mas uma

força maior me prende.

Vejo vermes me devorando a carne, minha beleza sendo con-

sumida pelos peçonhentos bichos que habitam a terra.

Os bichos ferozmente devoram me e posso sentir a dor e o

pavor tomar conta do meu ser.

Os dias são intermináveis, vejo a sanidade que cometi contra

minha matéria.

Pereço diante da minha loucura em ceifar minha vida.

O sofrimento e o remorso condenam me.

E quando parece não haver dor maior sou levada ao vale das

sombras.

Os dias são enevoados e escuros, o cheiro e a podridão se

mistura ao ar sendo quase impossível respirar.

Seres inferiores me açoitam, me perseguem, sou violada.

Clamo a Deus perdão, os dias parecem uma eternidade.

Me desespero suplicando salvação...

Uma luz surge e as criaturas mais obscuras se escondem, meus

malfeitores me soltam, se escondendo na imundice do lugar.

Choro, com a voz rouca clamo perdão, clamo ajuda.

A luz se aproxima trazendo consigo alivio ao meu sofrimento,

ouço orações e creio serem anjos de Deus que vieram me sal-

var.

Quando estes me estendem as mãos as agarro com toda a for-

ça que me resta.

Acordo num lugar límpido que me faz se lembrar de um hospital.

Há muito para que eu aprenda, mas enfim encontro a paz e o

perdão para a insensatez dos meus atos.

CAMOMILLA HASSAN
Enviado por CAMOMILLA HASSAN em 04/02/2008
Reeditado em 05/04/2010
Código do texto: T845999
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