MEMORIAS DE UMA SUICIDA
Tudo que me lembro da minha existência terrena são dos dias
cinzas e obscuros. Depois me vejo ao lado do meu corpo, pes-
soas queridas que choram, em vão tento falar com elas.
De repente tudo esta escuro, a dor me dilacera a carne.
Eu quero gritar, fugir daquela cena aterrorizadora mas uma
força maior me prende.
Vejo vermes me devorando a carne, minha beleza sendo con-
sumida pelos peçonhentos bichos que habitam a terra.
Os bichos ferozmente devoram me e posso sentir a dor e o
pavor tomar conta do meu ser.
Os dias são intermináveis, vejo a sanidade que cometi contra
minha matéria.
Pereço diante da minha loucura em ceifar minha vida.
O sofrimento e o remorso condenam me.
E quando parece não haver dor maior sou levada ao vale das
sombras.
Os dias são enevoados e escuros, o cheiro e a podridão se
mistura ao ar sendo quase impossível respirar.
Seres inferiores me açoitam, me perseguem, sou violada.
Clamo a Deus perdão, os dias parecem uma eternidade.
Me desespero suplicando salvação...
Uma luz surge e as criaturas mais obscuras se escondem, meus
malfeitores me soltam, se escondendo na imundice do lugar.
Choro, com a voz rouca clamo perdão, clamo ajuda.
A luz se aproxima trazendo consigo alivio ao meu sofrimento,
ouço orações e creio serem anjos de Deus que vieram me sal-
var.
Quando estes me estendem as mãos as agarro com toda a for-
ça que me resta.
Acordo num lugar límpido que me faz se lembrar de um hospital.
Há muito para que eu aprenda, mas enfim encontro a paz e o
perdão para a insensatez dos meus atos.