A MENINA QUE FALAVA COM OS MORTOS
Nao era um dialágo claro e objetivo, eram fleshs de cenas as quais
eu nao conseguia decifrar.
Eu tinha uns seis anos quando a vi pela primeira vez, a garotinha
ficara me olhando e eu podia sentir sua angústia.
Engraçado que o medo não me assolava, tudo que eu sentia era
uma urgência em ajuda-la.
Por anos estas visões me acompanharam e na epóca da minha
adolescência meus pais resolveram ir para o interior de Minas Ge-
rais.
Na noite em que recebi a notícia fora a mais longa da minha vida.
Um cansaço se abateu sobre mim e quando fui ao meu quarto para
dormir aquela garotinha estava sentada em minha cama.
Pela primeira vez ela me pareceu real, eu ouvia seus pensamentos
ouvia seu choro suplicante e mesmo que eu tentasse acalma-la
ela continuava a chorar.
Neste instante a vi caminhando por um canavial, a chuva torrecial
encharcava seu franzino corpo.
Ela carregava uma cesta e ia despreocupada brincando nas poças
de água que se formavam.
Mas as imagens se perderam numa nuvem escura, neste instante
um homem grandalhão lhe agarrou, eu podia sentir seu desespero
dentro de mim, podia sentir o pavor.
Foi neste instante que ela me pediu para leva-la de volta para casa
para levar respostas as suplicas de sua mae, desaparecendo em
seguida.
Exausta me deitei na minha cama, mas a noite toda pesadelos me
roubavam o sossego.
Eu via uma casa simples, uma senhorinha e senhorzinho chorando
compulsivamente.
Eu via um homem em uma casa de madeira rústica cavando buracos
e escondendo algo, eu o via cercado de sombras, horas ele ria, oras
ele espionava pela janela a casa daqueles senhores e chorava.
Quando acordei meu corpo doia terrivelmente, mas estavámos de
viagem marcada para Minas e nao poderia decepcionar meus pais.
Mesmo doida e com uma enxaqueca que me deixava zonza segui-
mos viagem para Minas.
Minha mãe sempre amorosa me perguntou se havia algo, balancei
a cabeça negativamente.
A viagem toda minhas visões se misturavam com gritos de socorro
e mesmo que eu tentasse adormecer para fugir delas era acordada
com tremores e calafrios.
Quando chegamos ao nosso destino e desci do carro foi como um
filme, eu a vi correndo pelos canaviais, eu vi muitas pessoas a pro-
curando e de repente as imagens sumiram.
O suor me escorria pela face amparada por minha mãe entrei na
fazenda, meu pai resmungou algo e pediu que um dos empregados
nos acompanhasse.
Quando me sentei na varanda eu vi a garotinha, ela me estendia
as mãos, minha mãe soltou um grito e a menina desapareceu.
Assustada mamãe dizia este lugar é mal assombrado, vou voltar
para a cidade, mas contida por um dos funcionários sentou e se
acalmou.
Os dias foram transcorrendo normais e certa manhã resolvi cami-
nhar e conhecer melhor o lugar.
Havia uma força que me obrigava a explorar aquele lugar, que me
deixava ofegante.
Assim que comecei a caminhar vi a garotinha ao meu lado, neste
instante eu soube ela queria me mostrar algo.
Mas um funcionário do meu pai me interrompeu, quase sussurando
ele me pediu que não saisse sozinha, havia seres que vagavam pe-
lo sítio e seria perigoso.
Perguntei a ele que tipos de seres, então, ele me mostrou uma trilha
quase apagada pelo mato, dizendo em seguida a muitos anos uma
menininha sumiu por este caminho e desde então, a ouvimos pedir
socorro.
Algo dentro de mim me mandava seguir aquele caminho e puxando o
funcionário do meu pai pelas mãos adentrei o mato.
A energia do lugar me transportou até o dia em que aquela menina
sumiu.
Eu ha vi caminhando, a vi sendo agarrada e severamente agredida
por um homem grandalhão.
As cenas tao reais, me faziam gritar para que ele parasse, para que
não a machucasse.
E correndo por aquele mato como tomada por uma energia inexpli-
cável cheguei até um lugar ingreme e cercado de lodo.
Me ajoelhei no chão, e com as mãos fui cavando aquele solo bar-
roso quando me surpreendi com alguns ossos.
Tomado pelo susto o funcionário do meu pai se pos a gritar e pedir
ajuda.
A menininha estava ao meu lado, seu rosto me pareceu mais nítido
que nunca e ela sorriu me estendendo as pequenas mãozinhas.
A segui pelo mato, ate chegar a uma casa na encosta de um morro,
na varanda uma senhora e um senhor sentados em suas cadeiras.
Ofegante eu disse a eles que suas preces foram ouvidas, que a pe-
quena filha deles voltara para casa.
Com os olhos marejados de lágrimas a senhora me abraçou, dizendo
em seguida; querida menina desculpe mas minha garotinha jamais
voltou nestes quinze anos.
E pos se a narrar que sua filha fora levar pães caseiros aos colonos
do sitio vizinho e desapareceu.
E nestes anos todos ninguém jamais tivera alguma notícia e caiu
num choro profundo, sendo amparada por seu esposo.
Mas aquela menina que me acompanhava pos se a falar, eu absorvia
o que ela dizia e ia falando.
Neste instante a menina me pediu siga o curso do riacho, na velha
casa de madeira maciça ha minha correntinha da virgem Maria.
Eu a obedeci e quando cheguei a casa para meu espanto a mesma
casa do homem que a machucara.
Um calafrio me percorreu, uma sensaçao de pavor me assolou, e vi
o homem grandalhão cercado de sombras, em prece pedi que ele
encontrasse a luz, que hoje a vida já o tinha perdoado seus desa-
tinos.
Uma luz preecheu o lugar, trazendo em meu coração uma sensação
de paz e a meninha me mostrou um capacho.
Quando o ergui havia um velho xale e uma correntinha,me ajoelhei
agradecendo a Deus e os bons espiritos por poder ter ajudado.
Quando me virei os pais dela, os meus estavam parados na porta.
Minha mãe foi a primeira a vir e me abraçar, depois a senhora.
Quando tudo se acalmou e ja estava sentada na casa dos pais da
menina sai na varanda e a vi caminhando em direção a uma luz
acolhedora e colorida.
A´pequena criança me olhou agradecendo e sumiu no clarão da luz.
Quando tudo se acalmou ficamos sabendo que a pequena menina
havia sumido a muitos anos atrás e que desde então ficara a espe-
ra de alguém que a levasse de volta para casa.
Eu sempre ouço e vejo meus irmãos espirituais, alguns falam comigo
outros me fazem companhia e muitos outros pedem ajuda.
CAMOMILLA HASSAN 30/01/08