Casa que morro

A casa em que vivo não é muito, nem muito pouco. "Deixe a mulher das flores entrar" pulsou o órgão vermelho, ouvindo-o, deixei.

Lá fora era chuva. Aqui dentro havia goteiras.

Fizemos banquetes, nos comemos. "As goteiras continuavam" disse o órgão superior. O órgão vermelho, embriagado nas flores azuis exaladas pela mulher, não distinguía goteiras de flores.

Lá fora chovia.

As goteiras chegaram ao órgão vermelho. Ele precisava dizer à mulher que ajudasse, mas a Língua era pequena demais, não sabia como dizer nada.

O órgão superior, que já foi racional, estava cansado demais, não viu o órgão vermelho afogado nas goteiras, nem a Língua muda em sua jovialidade. O órgão superior precisava limpar a casa em que vivo, estava cansando demais, cansado demais, cansado...

Ainda chovia lá fora. Aqui dentro era Dilúvio: tirei ela de casa em que vivo. Também estava me afogando, não podia mais fazer banquetes, não podia mais comer.

Lá fora? Ainda chovia, ela tomava chuva tentando olhar para dentro da casa em que vivo.

Fechei as cortinas, agora manchadas de sangue. O Dilúvio já não era visto. A mulher foi embora. Agora sigo com língua pequena, com razão cansada, com pulsão afogada.

João Escocês
Enviado por João Escocês em 22/02/2025
Reeditado em 25/02/2025
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