Tempo de sombras tristes
Em tempos tristes, minha mãe se apoderava de um canto da sala e só se retirava quando o sol cavalgava sobre as longitudes do mundo.
Houve então um dia em que o sol se desdobrando pelas montanhas não apareceu mais em nossa casa. Ficando o mundo resumido num quadro sem fim, onde as faces se faziam ver pelas desordens do silêncio.
Fizemo-nos também tristes, e por dezoito mil duzentos e cinquenta e três dias ouvimos os passos de nossa mãe se perderem pela casa, sem que a gente a alcançasse.
Um dia quando o sol despontou outra vez sobre as montanhas e nossa casa se fez outra vez clara, demos com nossa mãe no chão, fixa, esboçada embaixo da copa de uma árvore.
Corremos então até ela sem darmos conta do silêncio, da tristeza, nem da felicidade. Abraçamos nossa mãe, carregamos até a sala e nos tornamos como ela: sombra.