O arco-íris
Um homem atirava pelas janelas do prédio descomunais nuvens de fumaça do cigarro, enquanto lia o jornal exaltado:
_ É o fim, o fim, o fim. -Gritava.
Numa dessas atiradas de nuvens de fumaça, o homem reparou meio que se esquivando e já quase atormentado pelas notícias do jornal, que um vulto movia-se cambaleando e às vezes em zigue-zague por detrás dos postes, dos arvoredos, e outras vezes estático, o vulto mirava o alto do prédio.
Naquela hora, já profundamente atormentado, o homem lembrou-se da mulher que viria do trabalho pela calçada. Lembrou-se dos assaltos, dos estupros, da morte...
_ É o fim. - Gritou solitariamente, esmurrando a parede, fechando abruptamente o jornal.
_ É o fim. - Acendendo outro cigarro.
_ É o fim. - Atirando descomunais nuvens de fumaça pela janela.
_ O fim, o fim...
O homem desceu o elevador, correu, estava armado. E até hoje não se lembra porque fez aquilo.
Logo, o vulto estava diante dos seus pés: ajoelhado, submisso, trêmulo...
_ Perdoai-me senhor, perdoai- me senhor! É que eu nunca tinha visto um arco-íris, numa nuvem de fumaça, numa noite tão fria. - Murmurou o vulto com os olhos para o alto do prédio.
E até hoje o homem não se lembra porque fez aquilo.