A chave

Maria, que era cega, havia encontrado uma chave.

Nesse dia, a noite estava fechada e nem mesmo os longos golpes de luz rompiam os olhos doentes que caminhavam pelas calçadas.

As mãos, que eram brancas, faziam silêncio e tinham de vez em quando um ligeiro ímpeto na porta das casas.

Maria, que era cega, havia encontrado uma chave.

E os rostos encardidos que estavam nas ruas iam ficando para trás. E sentiam somente que alguém se ia sobre as horas fechadas.

Maria, que era cega e havia encontrado uma chave.

Neste instante, alguém apareceu na rua gritando enlouquecidamente que Maria tentava abrir a porta das casas.

Logo, os homens e as mulheres apareceram nas sacadas. Mas já não viam o mundo, nem os próprios corpos, nem mais nada.

E Maria desapareceu na rua com um espelho e todos os olhos que havia roubado.

Maria, que era cega e havia encontrado uma chave.

Arles Valle
Enviado por Arles Valle em 28/01/2025
Código do texto: T8251844
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