A chave
Maria, que era cega, havia encontrado uma chave.
Nesse dia, a noite estava fechada e nem mesmo os longos golpes de luz rompiam os olhos doentes que caminhavam pelas calçadas.
As mãos, que eram brancas, faziam silêncio e tinham de vez em quando um ligeiro ímpeto na porta das casas.
Maria, que era cega, havia encontrado uma chave.
E os rostos encardidos que estavam nas ruas iam ficando para trás. E sentiam somente que alguém se ia sobre as horas fechadas.
Maria, que era cega e havia encontrado uma chave.
Neste instante, alguém apareceu na rua gritando enlouquecidamente que Maria tentava abrir a porta das casas.
Logo, os homens e as mulheres apareceram nas sacadas. Mas já não viam o mundo, nem os próprios corpos, nem mais nada.
E Maria desapareceu na rua com um espelho e todos os olhos que havia roubado.
Maria, que era cega e havia encontrado uma chave.