Eu estava sendo cozido à vapor
Meus primeiros sinais de vida foram de morte. Nasci doente, fraco e desnutrido como a maioria dos nordestinos nascidos na pobreza. Minha avó contava que aquele menino raquítico, deitado numa esteira, estivera de vela na mão mais de uma vez. Tudo que engolia não ficava no estômago, devolvia antes da metabolização. Vomitava tudo. Todos me tinham por morto.
Seria muito cômodo cruzar os braços e deixar a criança morrer. Era uma boca a menos para dar comida, mas seu Zezinho não media esforços para fazer alguém feliz. Como olhar para sua pobre esposa, depois de perder o primeiro filho homem da casa? Não podia deixar morrer aquele filho! A menos que não pudesse fazer nada além de esperar pacientemente a misericórdia de Deus. Vendo o coração aflito de um pai bondoso, Deus lhe mandou um mensageiro. Um amigo de meu pai foi ver-me em casa.
- Zezinho, se você quiser que esse menino escape, dê a ele leite de jumenta.
Seu Josias tinha uma jumenta de carregar tijolos da olaria e o velho pai não se esqueceu disso.
- Vou alugar a jumenta de Compadre Josias, pelo tempo que for necessário para salvar Francisco.
É verdade que Deus age através das coisas mais simples e das pessoas mais humildes. Não precisou alugar, seu Josias cedeu gentilmente o animal até que o milagre aconteceu, o menino ficou curado.
LIMA, Adalberto; RODRIGUES, Francisco José.O Brasil nosso de cada dia.