Desacato à autoridade

A Nitroquímica encerrou o processe em âmbito adminstrativo e no dia seguinte, meu cartão estava no local de marcação do ponto. Marquei-o e fui assumir meu posto. O dia manheceu, completei meu horário e voltei pra casa me sentido desmoralizado por um gato.Eu não sabia que era crime pintar um gato importuno e muito menos, imaginei, que quando a tinta secasse ele ficaria duro que nem pão dormido e poderia morrer, mas cuidado a tempo, o bichano não morreu.

Chegando lá, encontrei um conterrâneo do Piauí que havia pedido demissão do emprego, para cuidar de seu próprio negócio e me aconselhou a fazer o mesmo.

- Comece seu negócio. Se não der certo, volte a ser o operário de antes. Se você topar, viajaremos amanhã mesmo. Não se preocupe, sei tudo que você precisa comprar pra vender em Goiás.

No outro dia, comprei tudo conforme me orientou e viajamos para Ceres. Lá, preparei minha modesta banca que consistia apenas em dois cavaletes e quatro tábuas. O ponto, relativamente estratégico ficava entre o restaurante e uma farmácia e defronte à estação rodoviária. Ali expus minhas quinquilharias.

A experiência foi favorável, pouco tempo depois, estava de volta a São Paulo para repor o estoque. Mas nem tudo são flores. Um dia encosta um cidadão em minha banca e pergunta se tenho relógio.

- Aí cabra, você tem relógio bom?

- Tenho sim, Senhor. Tenho três marcas, o senhor pode escolher.

- Quanto custa este. Perguntou sacudindo uma das peças.

- Um mil e oitocentos cruzeiros.

- Vai vender pra quem? Essa porcaria desse preço!

- Pra quem quiser comprar. Respondi.

- Você vai aprender a respeitar autoridade, cabra! Deu às costas e saiu. Voltou em seguida, ainda à paisana, numa viatura da polícia, com um sargento e um soldado. O sargento perguntou ao então militar à paisana.

- O rapaz é esse? Apontou pra mim.

- É, é ele mesmo.

- Você está preso por desacato à autoridade.

Enquanto isso, passava um filho do dono do hotel e foi correndo avisar ao pai.

- O mascate está sendo preso.

- O sargento tal está na viatura. Perguntou o pai do rapaz..

- Está!

- Vá lá e diga a ele pra vir aqui, antes de prender o mascate.

O sargento atendeu ao chamado do hoteleiro e os dois conversaram dentro do hotel por algum tempo. O Sargento voltou. “Seu padrinho é forte, mas se você der bobeira, eu te pego na virada.”

LIMA, Adalberto Antônio de. SILVA,Francisco de Assis Diassis. O Brasil nosso de cada dia.