Vida de mascate

A pequena cidade de Goías não foi nenhuma nova glória em minha vida de mascate. A cidade era muito pequena, não tinha Estação Rodoviária e nenhum outro ponto estratégico para o comércio ambulante, mas, encontrei um cunhado de Zé Serafim que trabalhava vendendo jóias compradas no Juazeiro do Norte.

Armamos nossas barracas lado a lado, em frente a uma agência de passagens. Íamos razoavelmente bem de negócio. Além da amizade e das caninhas que tomávamos fora de expediente, nos divertíamos muito contando piadas enquanto não tinha freguês comprando. Até que um dia, passava um ônibus de Quebra-Cocos caindo aos pedaços na mesma hora em que acabara de contar uma piada. Meu amigo Gaguinho rolava de rir. O ônibus parou e o motorista saiu com um revólver na mão. Cessou o riso.

- Vocês estavam rindo de meu ônibus! Eu mato. Eu esfolo...

Tomei a palavra, tentando acalmar os ânimos. Companheiro, meu amigo estava rindo de uma piada que contei...

- Ah, não! Vocês riam de mim... Foi uma luta para acalmar o Gaguinho que queria ir às vias de fato com o valentão. Naquele dia voltamos mais cedo pra casa. Não havia clima para continuar trabalhando. Lá pelas tantas da madrugada acordei. Meu amigo mascate estava sentado na cama com uma caneta e um papel na mão.

- Vai dormir, fulano!

- Não! Amanhã vou acertar contas com aquele motorista que me humilhou. Aqui está a lista de tudo que tenho e do que devo no Juazeiro. Você vai me comprar essa mercadoria, pagar o que devo e me mandar o que sobrar. Avisarei a você onde estou. Devo tanto e aqui tem tanto em mercadoria. Você só me paga quando vender.

Foi duro remover a idéia de vingança de sua cabeça. Ficara com um revólver apontado em sua direção, ouvindo o desacato: “Pra ri de mim você não é gago”.

LIMA,Adalberto Antônio de. LIMA,Francisco de Assis et al. O Brasil nosso de cada dia.