O FANTASMA DA RUA NOVA

D. Nádia voltava da missa na igreja que ficava no final da Rua Nova, eram quase nove da noite. Um vento frio soprava suavemente na rua quase deserta. Geralmente ela vinha acompanhada de duas vizinhas, d. Verdana e d. Lélia, mas nessa noite as duas tinham outros compromissos e não puderam ir à missa. D. Nádia, como boa paroquiana, resolveu não faltar ao seu compromisso com o Padre Dartagnan, responsável pela Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares. Da igreja para a sua casa não lhe tomava muito tempo, eram apenas cerca de vinte minutos de percurso, atravessava a Av. Conde da Boa Vista e já estava no conforto do seu lar, um antigo casarão na Rua do Hospício.

Ainda na Rua Nova, depois de se despedir de d. Norma Aparecida, que morava na Rua das Ninfas, ali perto, ela ouviu claramente um chamado semelhante a um assobio, não dando atenção ao mesmo, mas com a insistência resolveu se virar para se certificar de quem era e se era para ela. Uma figura envolta numa capa preta estava atrás de um poste e fez um sinal com uma das mãos chamando-a. Com medo d. Nádia apressou os passos e entrou em uma rua próxima, mas antes de dobrar olhou para trás e não viu o estranho, ele havia sumido. Chegou em casa com o coração aos pulos prometendo a si mesma não ir à missa sozinha.

Na manhã seguinte, conversando com sua vizinha, d. Maria Augusta, ela contou uma história interessante, disse que se tratava de uma alma penada de um homem que morava nas redondezas da igreja e que morrera em circunstâncias misteriosas. Diziam os mais antigos que ele costumava freqüentar o templo divino e que deixou de assistir às missas por imposição de um sonho que tivera quando uma figura satânica trocou sua alma por uma boa quantia de dinheiro. Levado pela ganância ele esnobou o quanto pôde e depois que o dinheiro acabou ele ficou nas imediações da igreja pedindo ajuda. Muita gente o reconheceu e evitou contato com ele, que, desesperado, caiu em depressão, adoeceu e foi a óbito. Muita gente tem visto a sua figura envolvida em uma capa sempre atrás de um poste nas noites de pouco movimento na Rua Nova.

D. Nádia ia sempre à missa duas ou três vezes por semana, porém resolveu só freqüentar a igreja nos domingos pela manhã, se tivesse que ir à noite só com a companhia de mais alguém, de preferência vizinhas que fizessem o mesmo percurso seu.

Certa noite, na companhia de d. Verdana, d. Lélia e d. Maria Augusta, d. Nádia foi à missa, mas no término dela pediu uma audiência a Padre Dartagnan, queria conversar com ele sobre o ocorrido. Padre Dartagnan aconselhou ela a rezar em intenção dessa criatura que vivia assombrando as pessoas na Rua Nova como um fantasma. Justamente nessa bendita noite, antes de sair da igreja, ela e as três vizinhas fizeram uma oração para esse ser e depois se dirigiram para casa. Calhou de ver esse fantasma atrás do poste, o que assustou as mulheres. Mas, num ímpeto de coragem, d. Nádia pediu ao homem que fosse em paz para o seu devido lugar. Ele agradeceu e como num passe de mágica sumiu na frente delas, que retornaram para casa, impressionadas, porém tranqüilas e aliviadas. Nunca mais esse fantasma assustou ela e nem mais ninguém.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 08/01/2025
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