O Exú - giselle sato

Era um homem alto, bonito, cavanhaque bem desenhado, muito simples e humilde , atendia a todos sem distinção no Centro Espírita perdido em um subúrbio carioca. Gente de todos os bairros vinham para a consulta toda segunda-feira com Exú . O homem era bom médium todos diziam.

Rosa, ficha na mão, fingia não ouvir as pessoas contando casos e milagres do Exú, não se interessava por nada disso, hà seis meses pisara naquele local com uma amiga , bateu os olhos no homem imcorporado e esqueceu tudo. Ficou enfeitiçada. Esperou até o último cliente ir embora e foi cumprimentar o rapaz dizendo-se encantada com o atendimento.

O médium que se chamava Carlos logo percebeu o interesse da moça. Mulherengo, foi tratando de marcar um encontro fora dali para conversarem à vontade. No dia seguinte estavam no motelzinho da Dutra . Rosa gemia, gritava, unhava... o homem a levava a loucura.Fizeram de tudo e mais um pouco.Transaram a tarde toda. Às cinco saíram do motel extenuados.Rosa deu uma carona para Carlos até a construção onde ele trabalhava como vigia, combinaram outro encontro e despediram-se com beijos apaixonados.

A vida de Rosa virou de pernas pro ar...nunca tinha tido uma transa daquelas, só de pensar em Carlos ficava excitada...deu para ele um celular, depois uma camisa bonita, pagava o motel, restaurantes, bares da moda.Desfilavam como namorados. Rosa recebia uma boa pensão do ex-marido , dinheiro não era problema, estava cada dia mais apaixonada.
Não passava um minuto sem pensar no amante, sonhava com ele, acordava sentindo sua presença. Estava enfeitiçada.

Carlos estava vivendo uma aventura e tanto, a mulher além de bonita,  bancava tudo, queria que ele faltasse ao trabalha para ficarem juntos, cobria o salário dele para transarem todos os dias,era tratado como rei. Que mais queria da vida?

Não percebeu que raramente ia ao centro espírita e que quase não atendia ninguém. Havia faltado várias vezes e as pessoas iam desistindo. A mulher sabia que era traída, chorava pelos cantos atraindo a piedade dos outros médiuns.
Chamado pelo dirigente da casa viu seu erro e prometeu mudar. Terminou tudo com Rosa, não atendia mais ligações nem queria encontra-la. Mas não se livrou tão fácil assim...Rosa esperava-o na porta da obra, seguia seus passos, estava sempre parada na esquina de tocaia , fazia escândalos na rua, sua vida virou um inferno.

As pessoas do Centro espírita não a conheciam e Rosa  resolveu aprontar, queria ver o que o safado iria fazer quando estivessem cara a cara. Esperou horas naquele calor infernal...finalmente gritaram seu número. Entrou no quartinho abafado cheirando a vela e incenso, muitos trabalhos já haviam sido feitos. 
Ele estava bonito com a capa preta de veludo, sem camisa, calça enrolada na altura do joelhos, descalço, sentiu o coração disparar ...o cheiro do charuto e cachaça muito forte:_ Boa noite moça. Veio se consultar?

_vim ver voce, está fugindo de mim, me largou como seu eu fosse uma vagabunda. 

O homem riu, bebeu um gole de cachaça:_ não sou quem voce procura mas não tiro a sua razão. Ele não presta e voce  menos ainda porque sabia que ele era casado.Moça vai   viver sua vida, esqueça o moço, siga seu caminho.

_olha, pára de palhaçada Carlos, não acredito em nada vindo de voce e vou quebrar tudo isso aqui e contar pra todo mundo saber quem é voce. Não tenho medo. Duvida?

O Exú era tinhoso, só fez olhar para Rosa com ar de bondade: _ Vamos fazer assim, se eu te provar quem eu sou...voce não faz nada disso, sai daqui e nunca mais volta. Pode ser minha menina ?

Ela respirou fundo, mágoa e raiva , resolveu aceitar:_ Pode começar. Tô esperando.

O Exú abriu suas mãos, palmas para cima estendidas aguardando...ela deixou que suas mãos trêmulas caíssem naquele apelo. Sentiu quando num apêrto mais forte seus olhos ficaram pesados demais....estava assustada mas não conseguia se soltar. 
Seu corpo flutuava, um torpor a envolvia mais e mais. Tão suave...foi-se deixando levar, cada vez mais distante. Súbito se viu arrastada para baixo, descendo, caindo no vazio, a escuridão envolvendo, mêdo, pavor crescendo...em pânico não conseguia reagir...gritar...sentiu quando caía pesada no chão de terra batida.

À sua frente sentado em um trono de pedras ele observava, um homem com aparência taurina, pescoço largo,ombros imensos, expressão feroz, pele avermelhada. 

O conjunto impressionava sem ser repulsivo. Havia tanto magnetismo naquele olhar, sedução, mistério, atração, erotismo e perdição.:_Voce não queria me ver? Não se diz apaixonada pelo meu médium? sou eu que o acompanho, mas não sou como ele não é mesmo?

Ficou de pé encarando a mulher acuada, estava completamente mudado, sua face era puro ódio:_ Preste bem atenção...voce quase destruiu meu médium e eu preciso dele. Da próxima vez voce vai ficar aqui comigo, e não vai voltar. Segue seu caminho moça porque a vida é curta.

Rosa sentiu que desmaiava. Acordou sozinha no quartinho do Exú , no meio da madrugada. Tropeçando no escuro, pegou o carro e saiu em disparada, queria se afastar o mais rápido possível . Podia sentir o cheiro daquele lugar impregnado em sua roupa.

Meses depois folheando o jornal leu sobre a execução de Carlos e da suposta amante no mesmo motelzinho que frequentavam. Um marido ciumento e inconformado acabara de vez com a vida do médium.  Rosa desejou com todas as forças que Carlos estivesse fazendo companhia à entidade. E que padecesse em eterno sofrimento . Estava vingada.
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 17/01/2008
Reeditado em 31/01/2008
Código do texto: T821129
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