EU POETA, NÓS EM FUSÃO

Eu, poeta, caminhava pelas ruas desertas de uma cidade esquecida, onde o vento perecia sussurrar palavras antigas, palavras que eu não conseguia ainda entender completamente.

Cada passo ecoava na calçada, como se estivesse acompanhado por algo mais, algo invisível, mas presente, como uma sombra íntima que jamais me abandonaria.

O eu lírico, esse ser que vive em mim, parecia despertar em momentos como esse, quando o silêncio se tornava tão denso que poderia ser cortado com a lâmina afiada de um verso. Ele, ou talvez eu, quem sabe, assumia o controle devagar, como um sonho que invade a mente sem pedir permissão. Caminhávamos juntos, embora só houvesse um corpo presente.

Sentia a fusão de nossos mundos: o poeta que cria e o eu lírico que sente, que transforma a realidade em emoç~]ao pura. Não havia fronteiras claras entre nós.

Enquanto eu observava as folhas secas dançarem no ar, o eu lírico já compunha um verso triste sobre o outono. E quando eu me detinha diante de uma vitrine, ele mergulhava nas reflexões profundas sobre o vazio dos dias.

Nessa fusão éramos inseparáveis, cada pensamento meu se tornava dele, cada palavra dele flía em mim.

As pessoas que passavam não viam a diferença, mal percebiam a profundidade de nossa convivência silenciosa. Eu sabia, no entanto, que era através do eu lírico que eu podia dar voz ao que muitos não ousavam dizer.

Através dele, as dores ganhavam forma e as alegrias se tornavam mais do que apenas momentos fugazes. Ele me completava, e eu dava vida a ele

Enquanto a noite caía, continuei a caminhar, sentindo aquela presença em cada batida do coração, em cada inspiração que trazia não apenas ar, mas também versos prontos para serem escritos. No fundo, sabia que não havia poeta sem o eu lírico, assim como ele não sobreviveria sem o meu olhar atento ao mundo. Naquela caminhada, éramos um só, e no papel seríamos simbioticamente eternos.