A Sede

 

Um homem idoso vivia isolado numa cidade cercada por montanhas. Sua casa ficava num vale distante, e ele se dedicava a um ofício discreto, mas essencial para todos na cidade.

 

Levava uma vida simples, sustentada pelos animais que criava e pela horta que cultivava. No entanto, a água sempre fora um problema. Uma fonte próxima à sua casa havia secado com o tempo, e com a idade avançada, a única maneira de buscar água era montando em seu jumento, carregando baldes de um lado ao outro.

 

No início, os vizinhos o ajudavam, mas com o tempo, começaram a se cansar de suas visitas constantes. “Lá vem o velho do jumento novamente”, resmungavam com irritação.

 

As coisas pioraram quando a seca atingiu a cidade, e a água se tornou escassa para todos. Ao bater nas portas, ele passou a ouvir as mesmas respostas: “Não temos água, nem para nós mesmos.”

 

Sentindo-se traído por aqueles que um dia haviam sido ajudados por ele, o velho encheu-se de raiva. "Tanto ajudei esse povo, e agora me negam até um copo d'água!", pensou.

 

Sem água e com a sede apertando, ele voltou às casas, gritando por ajuda. No entanto, foi recebido com indiferença: "Velho chorão! Essa é a última água que te damos, agora vá embora e não volte mais."

 

Revoltado, o idoso tomou uma decisão sombria. Durante a madrugada, pegou seu jumento, dois baldes e uma mochila militar. Seguiu rumo à fonte da montanha, o único local onde ainda havia água.

 

Após uma longa e exaustiva viagem, ele chegou à fonte, bebeu da água para saciar sua sede e descansou. Em seguida, abriu sua mochila e retirou um pote de alumínio com o símbolo de uma caveira. Colocando uma máscara no rosto, ele despejou o conteúdo tóxico na água da fonte e ao seu redor, envenenando-a completamente.

 

Na manhã seguinte, acordou com o som de helicópteros e sirenes ecoando pela cidade.

 

Montou em seu jumento e desceu até o local. Com um olhar frio e calculista, abordou um policial e perguntou: "O que aconteceu aqui?"

 

O policial, visivelmente perturbado, respondeu: "Não sabemos. Todos morreram durante a noite. Apenas alguns animais e crianças sobreviveram..."

 

O idoso olhou para o horizonte e, com um tom amargo, murmurou: "Todos precisam de água, não é?"

E eu mesmo sempre tive muita sede!