Dagon
Tenho soluços, é o começo de uma espiral demoníaca que já sei onde vai dar. Pelo menos não há vertigem ou vômitos desta vez. Faço um autodiagnóstico (tolice) e concluo que são sintomas de fatores como o estresse cotidiano, hábitos alimentares e a literatura iconoclasta que, tirando alguns amigos loucos como eu, não entendem ou fazem o sinal da cruz.
De vez em quando alguns livros dão uma sensação parecida com fármacos estabilizadores de humor. Estava lendo "O Demonologista" de Andrew Pyper e me lembro de um trecho em que o narrador compara a melancolia à cor turquesa. Comento isso com um analista amigo meu, que pergunta:
"Quais cores você prefere?"
Penso em responder vermelho e preto, mas acabo pronunciando azul.
"azul-marinho..."
Continua a provocação, ele pega da pasta que carregava sob o braço uma mancha Roscharch impressa numa folha de papel. Após um tempo, respondo:
"Uma figura feminina cercada por um cenário abstrato entre tons de amarelo canário e mostarda."
"O que mais te afetou nesse livro?" responde de bate pronto já com a ponta da caneta num bloco de notas, sem parecer se importar com as outras nove que pelo protocolo viriam em seguida para comparação.
"Na real doutor... Não é o afeto em si, mas sim a indigência da existência consciente que busca um sentido, sei lá, nas estrelas com essa ânsia de preencher um vazio que parece insuportável."
Não sei de onde saiu isso, porém provoca a sensação de jogar xadrez contra o espelho. "I against I". Há mil ideias que ainda me rodeiam, porém dou um peteleco no meu rei e meu amigo diz:
"Tá bom por hoje Carter, vamos beber uma cerveja."