O HOMEM QUE VEIO DO PASSADO

Paola pegou instintivamente aquele retrato de um álbum onde ela passeava em busca de algo que nem ela sabia. E ficou imaginando por que aquela foto "se dispôs" a ir até suas mãos, que nesse momento ficaram trêmulas. Coisas do destino - pensou. Continuou olhando aquele álbum, foto por foto, todas antigas, em meio a outros álbuns onde continham retratos tirados mais recentemente, mas naquele tinha algo que despertava a sua atenção, lhe proporcionaria uma viagem de volta a um lugar onde gostaria de estar hoje. Uma lágrima rolou pela sua face triste, Paola então segurou aquele retrato e o encostou ao peito suspirando, seus pensamentos foram diretamente para aquele lugar tão desejado.

Era uma tarde linda de verão, a menina👧 Paola, então com 16 anos, sentia-se feliz naquela cidadezinha do interior, apesar de ser de família pobre tinha o que precisava, não lhe faltava nada. Estudava ali mesmo em uma escola rural, tinha mais dois irmãos que também freqüentavam o mesmo estabelecimento de ensino e tudo corria bem até o dia em que conheceu Antenor.

Ele era um rapaz com seus 18 anos, lindo e de olhos azuis, ela nunca o tinha visto pelas redondezas. Se conheceram casualmente quando ela colhia um flor na beira da estrada de barro que levava até sua casa, isso na volta da escola, seus irmãos já iam na frente e ela se atrasara um pouco na caminhada.

- Linda flor - disse ele. Parece com você.

Aquilo a empolgou e fez com que se sentisse realmente uma bela 👧 moça. Foi um despertar para um outro 🌎 mundo, o qual não conhecia ainda. Paola conversou por pouco tempo com o 👦 rapaz que se apresentou e falou seu nome. Ele seguiu seu caminho, parecia apressado, enquanto ela retornava pensativa para seu lar, sempre olhando para trás, até ele se cobrir no final da estrada. Daí em diante não pensava em outra coisa a não ser em Antenor, aquela imagem do rapaz ficou gravada em sua memória e dificilmente se apagaria. Já fôra cortejada por rapazes da localidade mas nenhum lhe interessou, mas aquele deixou algo no ar que a impressionara.

Passaram-se alguns dias e nada de Paola rever Antenor, imaginou ser algum desconhecido que chegara naquela vila para resolver alguma coisa, procurar alguém, porém não chegou a nenhuma conclusão, apesar de ter perguntado a alguns conhecidos sobre a presença do rapaz, mas decidiu pesquisar melhor e ficar atenta no intuito de reencontrá-lo. E isso aconteceu realmente, ele surgiu como do nada, na estrada que dava acesso a sua casa, quando ela retornava da escola. Propositadamente deixava os irmãos irem na frente e seguia bem devagar, algo lhe dizia que Antenor aparecería e nao deu outra. Aquela imagem do rapaz fez sua mente iluminar e o coração palpitar mais rapidamente, enfim seu desejo foi realizado. Paola sorriu para ele como se já o conhecesse de muitos anos, correu para abraçá-lo tal qual uma criança que vai ao encontro de sua mãe. Foi um abraço gostoso, nenhum outro superaria aquele. O rapaz até se surpreendeu com aquela maravilhosa união de dois corpos. Extasiada, Paola indagou sobre ele, o que fazia e por que demorara a aparecer. Antenor se esquivou de dar maiores explicações, apenas se limitou a dizer que conhecia poucas pessoas da vila e que estava ali para colher informações de cunho particular, que no momento não era adeqüado revelar, mas com certeza futuramente ela saberia. A moça se convenceu, na realidade o que interessava era ele e não os seus problemas. Conversaram um pouco e ele disse que precisava ir, garantindo que havia gostado muito dela e que voltaria em breve. Um beijo selou aquele momento especial, ela sentiu-se feliz até ele desaparecer no fim da estrada.

Paola estava triste, depois daquele beijo quase que forçado, mais por desejo dela, não pensava em outra coisa, aquele 👦 rapaz mexeu com seu ❤ coração, ela estava apaixonada. O tempo foi passando e a ausência de Antenor estava lhe incomodando. Sonhava com ele quase todas as noites, chegava até a derramar algumas lágrimas, mesmo só tendo ficado com ele por pouco tempo. Andou em busca de informações na vila sobre o rapaz mas não obteve o que tanto desejava, saber quem era, de onde tinha vindo e o que fazia ali. Tudo foi em vão e isso a deixou desesperada. Não mais teve notícias de Antenor.

Os anos se passaram e Paola não conseguiu esquecê-lo, sempre alimentando a esperança dele reaparecer. Já estava com mais de vinte anos quando conheceu um rapaz com quem deu início a um namoro, mas que não durou muito tempo, sua mente estava voltada para Antenor, a qualquer momento ele poderia estar diante dela. Mas isso não aconteceu e algum tempo depois ela estava namorando Paulo, um 👦 rapaz conhecido da família que se interessou muito por ela. Já desiludida em relação a Antenor firmou compromisso sério com aquele que algum tempo depois passou a ser seu marido, Paola já estava com 29 anos.

Casada e com uma filhinha de dois anos ela tentava levar uma vida tranqüila, mas as lembranças sempre voltavam e a sua inquietação deixava o marido perturbado, o que era motivo de pequenas discussões, pois ele descobriu que Antenor povoava a mente da esposa. O casanento durou pouco mais de cinco anos, finalnente ela estava separada e o pensamento em Antenor tornou-se constante, pois ela sonhava com ele por noites inteiras.

Certa tarde, quando levava a filha para o pediatra, Paola avistou Antenor através da janela do 🚌 ônibus em que viajava. Ele estava em uma parada do outro lado da rua, talvez esperando algum transporte que o levaria a algum lugar. Teve absoluta certeza, era ele sim. Imediatanente acionou a campainha do coletivo e desceu apressada, chegou a vê-lo estendendo a mão para um 🚌 ônibus parar, mas não conseguiu chegar até ele, o coletivo partiu rapidamente. Mais que depressa pegou um táxi e pediu ao motorista que seguisse o 🚌 ônibus, o que foi feito. Mais a frente o veículo de aluguel parou bem na frente do mesmo e Paola solicitou ingresso nele. Passou na roleta e buscou entre os passageiros aquele 🚹 homem que tanto amava e desejava encontrar. Ninguém com as suas características estava ali e nem houve tempo dele desembarcar. Decepcionada desceu e seguiu em outro 🚌 ônibus para o consultório da pediatra, chegando um pouco atrasada e se desculpando.

Chegando em casa, visivelmente perturbada e exausta, Paola tomou um banho e foi se deitar. Dormiu um pouco e até sonhou com o homem da sua vida, aquele que povoava a sua mente e não lhe deixava em paz. Acordou chateada e chorou convulsivamente. A familia ficou preocupada e procurou ajudá-la no que fosse possível.

Algum tempo depois, diante de algumas crises dela, que só falava coisas desconexas citando o nome de Antenor, Paola teve que ser internada, pois já não se alimentava bem e nem atendia aos apelos dos familiares. Foi levada ao principal hospital da cidade e submetida a exames. Passou alguns dias no 🏥 hospital, mas o seu quadro clínico não era dos melhores e o médico plantonista determinou que Paola permanecesse internada até a chegada do médico que o substituiria, já que entraria de férias a partir do dia seguinte.

Na manhã seguinte os familiares estavam ao lado de Paola no leito do 🏥 hospital quando o novo médico adentrou o quarto. Ela, que estava adormecida pelo efeito dos medicamentos, abriu lentamente os olhos e fixou o médico, abriu um largo sorriso e fez menção de abraçá-lo, para espanto daqueles que ali estavam, mas como estava fraca seus impulsos foram contidos, ela só teve tempo de pronunciar o nome Antenor, iniciando aí um choro compulsivo. Ela viu na sua frente a imagem de Antenor e não parava de chorar. Realmente o médico se chamava Antenor, mas não era o Antenor que ela conhecera, segundo os familiares, mesmo não tendo conhecido ele. Confusos, os parentes insistiam em acalmá-la, diziam que não era a pessoa que ela desejava que fosse, porém não eram atendidos, Paola afirmava categoricamente que se tratava do seu primeiro e único amor. Passada aquela emoção Paola mostrou-se mais tranqûila, no entanto o peasoal que a acompanhava achava que ela não estava bem. Quando o médico voltava ao quarto ela tentava a todo custo abraçá-lo, o que, para tentar contê-la, foi necessária uma aplicação via venosa de um medicamento para que relaxasse e dormisse um pouco.

Os dias se passaram e aquela cena se repetia com freqûência, para ela aquele médico era sim o Antenor que ela conhecera, no entanto ele não confirmou, apenas se dispôs a tratá-la com carinho e zelo.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 01/09/2024
Reeditado em 01/09/2024
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