Espelho Reverso

Um homem chamado Cássio, viveu a maior parte da sua vida na criminalidade, isolado e escondendo-se de policiais e inimigos em geral, e, não tinha poucos, era um verdadeiro fantasma do mal na arte da morte, do roubo, do esconderijo e disfarces. Aos 35 anos ele havia conhecido uma jovem mulher, também revoltada com a vida.

 

Eles se amaram por vários anos em oculto, pois, Cássio não queria que, caso o encontrassem, matassem também a mulher que tanto amava, pois, nunca tinha amado ninguém até então, nem mesmo sua própria mãe que nunca conhecera, ele foi dado à uma instituição de caridade ainda bebê, passando seus dias em instituições de menores infratores e prisões. Sua amada mulher engravidou. Vendo que a situação o deixaria mais vulnerável aos seus inimigos e poderia colocar em risco a sua nova família, Cássio fez um acordo com sua mulher que a ampararia finaceiramente, de sorte que nunca precisaria trabalhar, até que a criança crescesse e que não poderiam mais ficar juntos da mesma forma que antes, apenas ocasionalmente a procuraria, isso para proteger ambos de si mesmo e pediu à mulher que nunca falasse dele ao filho, não queria que a criança crescesse sabendo que o pai era um bandido da pior espécie. E assim foi feito!

 

Cássio afastou-se do amor e continuou sua vida de crimes e mortes. Já estava acostumado com as trevas do mundo, no fundo gostava de tudo aquilo que fazia, viciou-se no aroma da morte, a maldade era a sua capa diária. Do outro lado, sua mulher cuidando de seu filho da melhor forma possível, voltou a estudar, fez cursos para dar-lhe um futuro melhor, tornou-se advogada cível, enquanto o menino crescia saudável e inteligente, tudo isso era o prazer de ambos: Pai e mãe. E os anos se passaram e a mulher já não queria mais a presença de Cássio em sua vida, pois, casou-se com um grande empresário! Mas Cássio em segredo acompanhava sempre que podia, de longe, o filho que tanto amava e tinha orgulho: Suas idas ao colégio, sua primeira namorada, um pouco de sua vida social com os amigos, sempre o protegendo como podia, olhando tudo dentro de seu carro de luxo blindado e de vidros escuros.

 

Maquiavel, o filho deles, inteligentíssimo, como quem herdara a sabedoria dos grandes filósofos antigos, psiquiatras e mestres da psicanálise atual; pois era leitor e estudante ávido por conhecimento e principalmente nessas áreas da mente, comportamento e alma humana, passou em um concurso público e tornou-se delegado da Polícia Civil no seu estado.

Seus feitos dentro da delegacia eram tremendos, sendo aclamado pelos amigos e condecorado por autoridades superiores, inclusive políticos e imprensa, pois, conseguia resolver casos de polícia há muito arquivados, trazendo justiça à sociedade e famílias desesperadas. Era como se algo de outro mundo o auxiliasse, existia uma sede de justiça em seu coração que o tornava como um super herói nos dias de hoje.

 

Do outro lado da realidade, no abismo, Cássio foi contratado para fazer um serviço, algo grande, precisava eliminar um político famoso, alguém que estava atrapalhando um grande negócio de construtoras, pois, as áreas eram cobiçadas por milionários que queriam transformar o local em um grande condomínio de luxo, eram protegidas por esse político por serem áreas de preservação ambiental. Cássio aceita o serviço e cobra o maior valor até então já negociado, recebeu parte do pagamento com a promessa do restante no final.

De madrugada, após uma ronda com seus hottweilers em seu sítio, foi dormir. Ao deitar-se e quase pegar no sono, ele ouve: A partir de agora, você é o rato esperto e eu o gato faminto, vamos jogar!

Quem está ai? Pergunta Cássio muito assustado. Ele rapidamente levanta-se, pega sua pistola embaixo do travesseiro e percorre toda a casa em busca de alguém que pudesse ter invadido o local, não vê nada ou ninguém, mas, também, não consegue mais dormir!

 

O dia amanhece e Maquiavel e sua equipe ficam a par, através de uma denúncia anônima do que estava por vir, avisam o prefeito da cidade do que estava acontecendo e que agisse normalmente em seu comício que faria com outros políticos e ONGs sobre a área ambiental próxima à praia na zona sul da cidade. Tudo estava sob seu controle e que aquele dia tudo seria definitivamente resolvido.

 

Durante o comício, sem saber, Cássio tinha sua posição identificada através de denúncia anônima, os que o contrataram, na verdade, queriam o eliminar, pois, já havia feito vários serviços pra eles e não queriam arriscar mais; um substituto à altura já havia sido devidamente escolhido por eles para seus fins maliciosos e malditos! 

 

Maquiavel foi pessoalmente e sozinho embaixo de uma ponte próxima onde o terrorista estaria e vendo uma sombra, pois o local era bem escuro, deu voz de prisão: Parado! Polícia! Levante as mãos!
Cássio jamais iria para a prisão novmente e sem hesitar tentou sacar sua arma. Disparos são ouvidos e Cássio tomou dois tiros no peito e um no braço direito. Gemendo de dor e angústia ficou estirado na lama daquele canal, esforçando-se para não morer, sua vista já escurecera e pediu á Deus: Por favor Senhor, me dê alguns minutos apenas, por favor! Maquiavel aproxima-se, afasta a arma e diz: Eu mandei ficar parado! Porque você fez isso? Cássio responde: Eu não posso mais suportar a prisão, prefiro a morte! Vida sem liberdade não é vida, é morte!
 Por favor, te imploro, me tire daqui de dentro, me leve lá fora, não quero morrer nessa escuridão, de escuridão já basta a minha vida e a minha alma! Preciso falar com você! 


Maquiavel o ajuda e leva-o pra fora com muita dificuldade, o homem era muito musculoso e pesado apesar da idade. Do lado de fora já com muitos policiais para ajudar o delegado, Cássio pede um último favor: Por favor, peça-os para se afastarem, preciso falar a sós com você, permita isso como o último pedido de um moribundo. Maquiavel aceita e pede aos policias para o aguardarem distante e não permitir a aproximação de ninguém, inclusive da imprensa e assim fizeram.


Cássio, chorando muito, quase sem conseguir falar, gaguejando e soluçando sangue, olha para Maquiavel e diz: Meu filho! Meu filho! Perdoa o seu pai! Eu nunca pude me aproximar de você e de sua mãe para protegê-los de mim mesmo! Não vi seu crescimento, seu desenvolvimento, seu progresso; mas saiba, você é a minha alegria, meu espelho reverso! Você é a minha alegria! Sua vida é o pagamento da minha dívida com esse mundo, o bem diante de tanto mal! Continue cuidando da sua mãe e sendo um bom filho! Com certeza esse foi o nosso primeiro e último encontro! Tenho certeza que pra onde vou, você não irá jamais! Preciso aceitar as consequências de meus atos, minha vida e minha miséria! Eu te amo! Te amarei pra sempre! Me perdoe! Saiba de uma coisa, eu sempre te via no seu dia a dia sempre que podia, embora você nunca me visse! Contou algumas coisas que só Maquiavel sabia!


E assim Cássio partiu!

 

Pai?

Clama Maquiavel!

 

O jovem prodígio que estava de joelhos inclina em prantos, vindo a ser amparado pelos seus amigos, sem ter quem entendesse o que estava acontecendo e o amparasse. A dor e tristeza eram colossais demais para aquele jovem que nunca conhecera o pai e o vê uma única vez morto por ele mesmo!

 

Nas coisas que se seguiam: Condecorações, matérias da imprensa, capas de jornal e revistas, maiores acessos da internet, pois, prendera um homem envolvido com diversas coisas, inclusive, tráfico de armas e drogas, assassino de aluguel, um dos maiores ladrões de banco do país, chefe de quadrilha e líder de facção, etc.

 

Maquiavel nunca mais foi o mesmo!

 

Nunca mais!

 

A imagem segurando as mãos do pai chorando moribundo que nunca tinha conhecido e vivido foi forte demais para que a sua vida fosse a mesma desde então!

Precisou de tratamento psicológico por anos, até que conseguisse caminhar novamente!
 

 

DengosoRock
Enviado por DengosoRock em 24/08/2024
Reeditado em 24/08/2024
Código do texto: T8136026
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.