Que pena meu irmão! Que pena!

 

Rodrigo e Miguel se conheceram na adolescência, dois jovens cheios de sonhos e ideias que, embora tivessem vidas distintas, se tornaram inseparáveis. Rodrigo, com seu espírito livre, sempre buscando novas aventuras, e Miguel, o mais reflexivo, apaixonado por debates profundos e incansável em sua busca por conhecimento. A amizade deles foi forjada em noites na porta de casa ou na praça do bairro, discussões acaloradas sobre geopolítica e noites embaladas ao som do rock clássico.

 

Os anos passaram, e a vida seguiu seu curso natural. Rodrigo casou-se, construiu uma família, enquanto Miguel permaneceu solteiro, vivendo de maneira mais independente, mas sempre próximo de seu grande amigo. Os reencontros, por mais esporádicos que fossem, eram sempre recheados de risos, lembranças e discussões filosóficas que se estendiam até altas horas da madrugada. Fosse discutindo uma nova teoria da conspiração, refletindo sobre os mistérios da espiritualidade, ou simplesmente celebrando a vida ao som de suas bandas favoritas, cada encontro era um tesouro compartilhado.

 

Um dia, no entanto, a vida mostrou sua face mais cruel. Rodrigo, sempre tão cheio de vida, foi arrancado do mundo de forma abrupta e inesperada. Um acidente de carro levou seu corpo, mas a alma de Miguel sentiu como se um pedaço de si próprio tivesse sido levado junto. A dor da perda era horrível e profunda. Os dias de luto se seguiram em uma névoa de tristeza, onde as memórias felizes agora só traziam lágrimas, desanimando a difícil caminhada da vida, agora mais pantanosa e pedregosa, pesada.

 

Miguel se viu perdido, incapaz de aceitar que jamais veria o amigo de novo. As conversas que um dia o enchiam de alegria agora pareciam meros ecos de um tempo distante. As noites tornaram-se solitárias, e o vazio que sentia era profundo, uma lacuna difícil de preencher.

 

Até que uma noite, exausto de tanta tristeza e reflexão da vida em si e sentindo-se à beira de uma depressão, Miguel finalmente adormeceu. E foi nesse sono que algo extraordinário aconteceu. Em meio ao sonho, Miguel se viu em um campo iluminado por uma luz suave e reconfortante. E ali, caminhando em sua direção, estava Rodrigo. Ele parecia mais jovem, mais sereno, envolto em uma aura de paz que Miguel nunca havia visto antes.

 

Miguel sentiu o coração acelerar. "Rodrigo?", chamou com a voz trêmula.

 

Rodrigo sorriu, aquele sorriso largo que sempre tinha antes de dizer algo sábio ou engraçado. "Estou bem, meu irmão", disse ele, sua voz clara e forte. "Não precisa se preocupar comigo meu irmão, eu estou em paz. Foi-me permitido vir aqui pra te ajudar e consolar. Agora, na verdade, estou na minha verdadeira morada, de onde saí para experimentar essa experiência terrena. Peço apenas, que, se puder, cuide da minha família! Daqui de onde estou não posso mais fazer isso"

 

Miguel começou a chorar, mas dessa vez, as lágrimas eram de alívio. "Eu sinto sua falta irmão! Fique em paz! Sua família é a minha família sempre!

 

"Eu sei", respondeu Rodrigo, com uma serenidade que acalmava até as partes mais profundas da alma de Miguel. "Eu tenho que ir irmão! Mas isso não é um adeus definitivo. Quando chegar o seu momento, vamos nos reencontrar. E então, poderemos gozar eternamente da nossa amizade, sem as limitações desse mundo. Até lá, quero que você viva, ria, e lembre-se de mim com alegria, não tristeza."

 

Miguel tentou prolongar o sonho, segurando a imagem do amigo o máximo que pôde, mas sabia que, como todos os sonhos, ele chegaria ao fim. Antes de partir, Rodrigo o abraçou forte, como nos velhos tempos, e a sensação daquele abraço permaneceu com Miguel mesmo depois de acordar.

 

Ao despertar, Miguel sentiu-se diferente. A dor ainda estava lá, mas, o desconforto enorme, havia sido substituído por uma sensação de paz. Ele sabia que Rodrigo estava bem, e que, de alguma forma, sua amizade transcenderia o tempo e o espaço.

 

Miguel sorriu, olhando para o céu. "Até nos encontrarmos de novo, irmão. Muita saudade até lá!"

 

E assim, com o coração um pouco mais leve, ele seguiu em frente, carregando consigo a certeza de que a verdadeira amizade nunca morre. Ela apenas se transforma e continua, onde quer que estejam, no tempo certo. Mas nem mesmo a visão do amigo foi capaz de confortar por inteiro o término abrupto dessa amizade!

DengosoRock
Enviado por DengosoRock em 24/08/2024
Código do texto: T8135780
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