O Último Pôr do Sol

Carlos Menezes era o que muitos chamariam de um exemplo de perseverança e integridade. Nascido em uma família humilde, desde jovem ele alimentava o sonho de construir algo grandioso. Com um trabalho árduo e determinação, ele conseguiu erguer um império no ramo de commodities, negociando produtos que alimentavam o progresso de países inteiros. Ele se tornou respeitado, admirado e, acima de tudo, confiava plenamente nas pessoas que o cercavam, especialmente em seu contador, Marco, que se tornara seu braço direito.

 

Porém, o destino, sempre imprevisível, decidiu testar a resiliência de Carlos. Marco, o homem em quem ele confiava cegamente, armou um golpe milionário que sugou toda a fortuna que Carlos havia acumulado ao longo de anos. Em questão de meses, o que antes era um império sólido virou pó. Não apenas perdeu suas riquezas, mas sua família também o abandonou, incapaz de lidar com a mudança brusca de vida. A pressão da ruína financeira e emocional arruinou sua saúde, deixando-o em um estado de fragilidade tanto física quanto mental.

 

Sem opções, Carlos se viu forçado a aceitar o único emprego que conseguiu: auxiliar de serviços gerais em um escritório pequeno, um trabalho que jamais imaginara ter de aceitar. Lá, ele era alvo constante de humilhações. Seus colegas, sem saberem de seu passado, o tratavam como um ser insignificante, ignorando a tristeza profunda que emanava de seu olhar.

 

Cada dia era um esforço para Carlos, um exercício de resistência frente a uma dor que parecia nunca cessar. Ele evitava os olhares de pena, engolia as palavras amargas que recebia e tentava, com o pouco que restava de sua dignidade, continuar. Mas a cada noite, quando voltava para seu modesto apartamento, um peso esmagador caía sobre seus ombros, e a escuridão em seu coração parecia ganhar mais espaço.

 

Um dia, ao final de mais uma jornada exaustiva, Carlos decidiu caminhar até a praia. O sol estava se pondo, tingindo o céu com tons de laranja e rosa, como se o próprio universo estivesse tentando lhe oferecer um último espetáculo de beleza. Sentado na areia fria, ele observava o horizonte, sentindo a solidão como uma presença física ao seu lado.

 

Enquanto os últimos raios de sol desapareciam no horizonte, um homem de vestes brancas de linho fino se aproximou. Ele caminhava calmamente, como se flutuasse sobre a areia. Carlos, absorvido em seus pensamentos, não o notou até que o homem sentou-se ao seu lado. O desconhecido parecia exalar uma paz indescritível, e sua presença trouxe um inesperado alívio ao coração atormentado de Carlos.

 

“Venha, meu filho,” disse o homem, com uma voz suave e reconfortante. “Venha descansar comigo.”

 

Carlos virou-se para olhar nos olhos do estranho e encontrou um olhar que era ao mesmo tempo familiar e desconhecido. Ele sentiu uma onda de tranquilidade invadir seu ser, algo que não experimentava há muito tempo. De repente, todos os seus medos, dores e arrependimentos pareciam se dissolver como a espuma do mar.

 

Sem dizer uma palavra, Carlos levantou-se, sentindo-se inexplicavelmente leve. Ele sabia, de alguma forma, que aquele era o momento de deixar tudo para trás. Ao lado do homem de linho branco, Carlos começou a caminhar em direção ao horizonte, onde o céu e o mar se encontravam em um abraço eterno.

 

E assim, enquanto a noite envolvia o mundo em silêncio, Carlos encontrou o descanso que tanto buscara, desaparecendo nas sombras da praia, finalmente em paz.

DengosoRock
Enviado por DengosoRock em 23/08/2024
Código do texto: T8135487
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