O Último Pedido
A velha mansão erguia-se imponente no alto da colina, um monumento ao poder e à crueldade de tempos passados. Suas paredes, antes cheias de vida e riso, agora ecoavam apenas o silêncio das décadas. A nova geração que ali habitava sabia pouco sobre o passado sombrio daquele lugar, mas logo esse passado viria à tona, despertado por um novo morador.
Rogerio, um homem de meia-idade e de expressão sempre carregada, tinha se mudado para a mansão em busca de isolamento. A vida o havia levado a cometer atos que o distanciaram do resto da sociedade. Assassino profissional por muitos anos, agora ele desejava apenas paz. Contudo, a mansão parecia recusar-se a lhe conceder essa tranquilidade.
Desde o primeiro dia, Rogerio sentia uma atração inexplicável por uma árvore retorcida no quintal, quase oculta pela vegetação selvagem. A cada amanhecer, era como se algo o chamasse para lá. E, ao se aproximar, uma tristeza profunda o invadia, lágrimas escorrendo involuntariamente pelo rosto. As folhas secas sussurravam segredos esquecidos, mas ele ainda não compreendia suas palavras.
Com o passar dos dias, Rogerio começou a ver algo na árvore ao nascer do sol. Uma figura masculina, vestida em trajes de época, estava pendurada na árvore. A cada nova aparição, a imagem tornava-se mais nítida. O homem na árvore tinha olhos vazios, mas repletos de dor, e sua presença parecia carregar o peso de uma tragédia antiga.
Rogerio, inicialmente assustado, começou a interagir com a figura, como se sentisse que sua própria alma estava conectada àquele espírito. O homem na árvore, em voz baixa e melancólica, contou sua história. Ele fora um simples empregado da mansão, há muito tempo, servindo a um senhor de engenho cruel. Com filhos famintos em casa e sem ver outra saída, ele furtou um pouco de comida. A resposta do senhor foi rápida e implacável: um enforcamento na árvore, para servir de exemplo a outros que ousassem desobedecê-lo.
O espírito continuou a aparecer, dia após dia, suplicando por justiça. Ele queria vingança contra os descendentes do senhor que o condenara àquela morte horrível. Em troca, prometeu a Rogerio riquezas inimagináveis. A oferta não era necessária; Rogerio já estava decidido. A natureza de sua antiga profissão, somada à sensação de propósito que aquele espírito lhe dava, o impulsionava a aceitar.
Rogerio investigou a fundo a história da família que possuíra a mansão. Descobriu que os descendentes do senhor cruel ainda estavam vivos, desfrutando de uma vida de privilégio, completamente alheios ao sofrimento que seus antecessores haviam causado. A vingança se tornava cada vez mais doce em sua mente.
A execução do plano foi meticulosa. Rogerio observou cada um dos descendentes, estudando seus hábitos, suas rotinas, até que estivesse pronto para agir. E então, uma noite, ele começou a caçar, um por um, usando as mesmas técnicas frias e precisas que o haviam tornado tão temido em sua profissão anterior. Cada morte era um reflexo do que havia sido feito ao espírito que ele agora servia.
Quando o último descendente foi eliminado, Rogerio voltou para a árvore, esperando pelas riquezas prometidas. O espírito apareceu mais uma vez, agora com um semblante de paz, agradecendo por sua libertação. E, como prometido, revelou a Rogerio o local onde uma fortuna estava enterrada, escondida por gerações.