O povo das Sombras

Nas profundezas da Floresta Amazônica, onde os ventos murmuram segredos antigos e o rio serpenteia como uma cobra ancestral, havia uma tribo indígena chamada Yaraí. Eles viviam em harmonia com a natureza, respeitando os espíritos das árvores, dos animais e das águas. Mas havia uma parte da floresta que eles temiam — um vale profundo e escuro, onde o sol raramente tocava o solo. Era conhecido como o Vale das Sombras.

 

Segundo os anciãos da tribo, o Vale das Sombras era habitado por um povo misterioso e maligno, o Povo das Sombras, seres que não pertenciam a este mundo. Eram descritos como altos e esguios, com pele pálida como a lua e olhos negros como a noite. Eles se moviam silenciosamente como a brisa, mas sua presença trazia um frio que gelava a alma.

 

Os Yaraí sabiam que esses seres intraterrenos não eram amigos da superfície. Muitos anos antes, havia sido feito um pacto entre os ancestrais da tribo e o Povo das Sombras: os Yaraí nunca deveriam pisar no Vale das Sombras, e, em troca, os intraterrenos não os atacariam. Mas, com o passar dos anos, as novas gerações começaram a duvidar dessas histórias, considerando-as apenas mitos para assustar as crianças.

 

Um dia, um grupo de jovens guerreiros decidiu explorar o vale. Motivados pela curiosidade e pelo desejo de provar sua coragem, eles partiram ao amanhecer, adentrando a escuridão do vale proibido. Enquanto desciam, notaram que a luz do sol parecia desaparecer, engolida pelas sombras densas que envolviam tudo ao redor. O silêncio era opressivo, quebrado apenas pelo som dos próprios passos.

 

No coração do vale, eles encontraram uma caverna enorme, cujas paredes pareciam pulsar com uma energia maligna. Ao entrarem, sentiram um frio cortante, e uma sensação de estar sendo observados os envolveu. Antes que pudessem reagir, as sombras ao redor começaram a se mover, revelando figuras esguias que emergiam das trevas. Os olhos negros das criaturas brilhavam com malícia.

 

Os guerreiros perceberam, tarde demais, que haviam violado o pacto ancestral. As criaturas avançaram sobre eles, suas garras afiadas rasgando a pele e a carne. O grito dos guerreiros ecoou pela caverna, mas ninguém na tribo os ouviu. Quando o último deles caiu, o Povo das Sombras começou seu retorno à superfície, decidido a punir todos os Yaraí pela ousadia daqueles jovens.

 

Na aldeia, uma densa névoa começou a se formar, cobrindo as palhoças e os caminhos. As crianças caíram em um sono profundo e as fogueiras apagaram-se misteriosamente. Os anciãos sabiam o que aquilo significava — o pacto havia sido quebrado.

 

Sem tempo para fugir ou lutar, a tribo se preparou para o que estava por vir. O chefe da tribo, em um último ato de desespero, ofereceu a própria vida em sacrifício, esperando apaziguar a ira dos intraterrenos. Mas os sacrifícios humanos eram uma prática abominável para os Yaraí, e o Povo das Sombras não foi aplacado por esse gesto.

 

Quando a névoa se dissipou, a aldeia estava deserta. Apenas as sombras dançavam nas paredes das palhoças vazias, sussurrando segredos e maldições. O Vale das Sombras nunca mais foi mencionado, e com o passar do tempo, a história da tribo Yaraí se perdeu nas brumas do esquecimento, assim como os próprios Yaraí.

 

Mas em noites de lua nova, alguns caçadores afirmam ouvir o sussurro das sombras, chamando por aqueles que ousarem adentrar o vale proibido.

 

 

DengosoRock
Enviado por DengosoRock em 20/08/2024
Reeditado em 23/08/2024
Código do texto: T8133278
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