DESILUSÃO EM DOSE DUPLA (Republicado)
Marcos estava feliz, nunca se sentira tão eufórico como agora. A manhã estava bonita, o sol brilhava e o vento parecia envolvê-lo com o perfume das flores do jardim. Dias antes havia conhecido uma garota, iniciaram um papo bem legal e passaram momentos para ele inesquecíveis. Lucy era um doce de menina, demonstrou grande carinho e correspondeu aos beijos dele. Sua vida mudara desde então, assobiava músicas durante o banho, ia para o trabalho mais alegre, imaginando o momento de encontrar a sua querida Lucy.
Repentinamente teve um sobressalto, pensou na hipótese de não encontrá-la hoje, já que estava decidido a fazer-lhe uma surpresa. Nas mãos tinha um lindo buquê de flores que acabara de comprar na esquina. Se arrumara com a melhor roupa, após ter tomado o café da manhã, pois queria impressionar aquela que lhe dera atenção, que havia dado um impulso no seu modo de viver, coisa que ele tanto desejava e que agora o destino lhe presenteou.
Chegou a hora de sair, seu coração palpitava forte, parecia um jovem indo ao encontro da primeira namorada. Era um domingo como tantos outros, quando acompanhado da mãe se dirigia para a missa, na igreja que ficava a duas quadras de sua casa. Era um compromisso que não podia faltar, assim sua mãe o educara, temente a Deus e cumpridor dos mandamentos divinos. Mas esse era um dia especial, obtivera a autorização da mãe para ir a esse encontro tão desejado, tão falado, o que a deixou bastante gratificada, afinal o filho merecia uma mudança de hábitos, merecia ter uma vida mais independente, precisava conhecer o verdadeiro sentido do amor e essa moça, que ela ainda não conhecia, poderia até fazê-lo feliz, poderia fazê-lo ver o mundo de uma forma mais clara, mais objetiva. Já quase beirando os trinta anos de idade não havia conhecido alguém que o tirasse de uma tristeza interior, que o fizesse esquecer de vez uma desilusão ocorrida há cerca de oito anos, quando amou uma garota sem ser correspondido, causando um grande sofrimento que o deixara abatido, sem forças para encarar a vida. Quando ela foi embora foi como se o mundo tivesse acabado para ele.
Marcos seguiu a passos firmes pela rua pouco movimentada. Segurava com muito cuidado o buquê de flores que ofertaria a namorada, que conhecera há poucos dias, que demonstrara ter afeição por ele, apesar do pouco tempo. Assim ele imaginou que seria o seu relacionamento com Lucy, um amor que estava nascendo, que estava matando aquele sentimento ruim que ainda existia dentro dele e que o faria um novo homem.
Lucy já estava no portão quando ele chegou em sua casa, esboçando um leve sorriso, não aquele sorriso que ele esperava, com mais entusiasmo, mas que deu para fazê-lo sorrir também. Entregou para ela o buquê e fez menção de beijá-la, mas esse gesto não se concretizou. Lucy, com aparência mais séria, educadamente virou o rosto e baixou a cabeça, deixando Marcos completamente estupefato. Foi como se o mundo tivesse desabado sobre ele ou se uma grande ferida se abrisse fazendo-o sentir dor. Não queria acreditar, seus olhos se negavam a aceitar essa situação. Um pesadelo parecia assustá-lo outra vez.
Mara era uma garota alegre quando enamorou Marcos, curtia a vida com bastante alegria, mas no fundo não gostava dele, queria apenas dar vazão aos seus desejos, talvez precisasse só de uma companhia que ele interpretou como um romance, apesar de se beijarem, de se abraçarem, de saírem juntos, o que marcou muito a sua vida. Esse tempo passou, mas ficaram as lembranças que não foram esquecidas totalmente.
Lucy enfim levantou a cabeça, fixou bem o olhar sério em Marcos e falou secamente, sem se importar com os seus sentimentos:
- Não posso mais ficar com você.
Aquilo foi como um tiro de misericórdia, já que Marcos tinha esperança dela recuar, de mudar seu pensamento. Compreendeu então que Lucy tomara aquela decisão movida por um sentimento antigo de amor por um ex-namorado que tinha entrado novamente em sua vida. Gostava dele, apesar de ter sumido depois de uma briguinha simples e uma ausência de alguns meses. Voltava agora, arrependido, caindo nos braços de Lucy, que muitas vezes sonhara com isso. Conheceu Marcos e se dedicou a ele para fugir, talvez, do desprezo, da solidão.
Marcos agora estava ciente de que não adiantava insistir, de tentar rever a garota, que na realidade amava outro homem. Mais uma vez chorou copiosamente, sentiu um grande impulso para não mais querer viver.
Em casa, aos prantos no quarto, reviveu aqueles momentos tristes quando Mara o deixara, quando sua vida se tornara um inferno e que só o tempo amenizou. Conheceu Lucy e tudo se repetiu, deixando ele no desespero, numa situação que só quem sente é quem sabe dizer.
O destino se mostra aparentemente muito duro com as pessoas, mas ninguém sabe o motivo para isso. Todos nós temos os nossos momentos de tristezas, de desilusões, mas o tempo é soberano para consertar os erros do presente e quem sabe essa não seja a forma de fazer Marcos procurar o caminho certo que o levará para a felicidade?
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(Publicado em 28/07/2012)