MISSÃO: MATAR
Georgina voltava do supermercado e acabara de entrar em casa quando sentiu-se mal e quase desfaleceu, foi amparada por Mauro, seu marido, que a colocou no sofá e ofereceu-lhe um pouco d'água. Era a primeira vez que isso acontecia e ela ficou incrédula com o que momentaneamente seu cérebro captou, imagens meio distorcidas chegaram aos seus olhos, vultos que tentavam segurá-la com força e em seguida um homem se aproximou. Depois tudo apagou. Ela olhou para o marido e por alguns instantes sentiu raiva dele, porém depois se acalmou e tudo voltou ao normal.
Sem entender o que aconteceu Georgina abraçou o marido e beijou-lhe a face, queria esquecer aquela cena que aparentemente vira ou se foi fruto de sua imaginação. Estavam casados há cerca de seis anos e ele era vinte anos mais velho que ela, mas se amavam. Não tinham filhos.
Alguns dias depois Georgina teve o mesmo comportamento, dessa segunda vez ela estava sozinha em casa, preparava o almoço, Mauro chegaria dentro de poucas horas do trabalho. Imagens lhe vinham à mente e dava a impressão de se materializar, ela viu pessoas apavoradas tentando segurá-la e uma figura masculina se aproximando com alguma coisa na mão que não conseguia ver o que era. Aquilo foi se apagando e ela sentiu-se como se estivesse desfalecendo. De imediato sentiu um ódio estranho de Mauro e não sabia porque. Aos poucos foi se restabelecendo e novamente sentiu-se bem.
Quando Mauro chegou já encontrou a esposa restabelecida, em seu comportamento natural, apenas notou discretamente uma inquietação nela, que não o beijou como de costume, assim que entrava em casa vindo do trabalho. Mas ele a beijou e esqueceu o que se passou depois que foi informado do novo fato com a esposa.
Agora, com mais freqüência, aquelas imagens surgiam na mente de Georgina e se materializavam, as pessoas já mostravam seus rostos, eram homens e mulheres que a seguravam, aos gritos ela implorava para que a soltassem, porém não era atendida. Um homem vestindo uma capa preta se aproximava, tinha algo na mão. Nessa noite ela estava preparando o jantar do marido, ele estava prestes a chegar. As imagens se tornaram mais nítidas ela apavorou-se quando viu o rosto do homem que vinha em sua direção, usava um chapéu mas dava perfeitamente para identificar que era Mauro, seu marido. Na mão ele tinha uma faca e cravou-a com força em seu tórax. Ela sentiu a dor mas manteve-se firme ali junto da mesa. Ele a encarava com ódio, ela mais ainda. Sobre a mesa tinha uma faca, ela pegou-a discretamente quando ele se posicionou por trás dela, foi o momento de se voltar e cravar a arma branca em seu peito. O agressor gemeu de dor, ela forçou com mais violência a faca até perder as forças e ver o sangue jorrar em abundância. Em seguida caiu sem sentidos.
Pouco tempo depois ela despertou, em sua casa viu algumas pessoas e a Polícia, que a algemou. No chão da cozinha o corpo inerte e ensangüentado do marido Mauro. Estava morto. O profundo golpe desferido por ela ceifou sua vida. Presa, foi levada para um presídio enquanto o cadáver de Mauro era retirado sob o olhar atônito das pessoas, ninguém acreditava no que acabara de acontecer, já que o casal se dava bem e se amavam.
Anos se passaram e Georgina finalmente deixou a prisão por bom comportamento, mas sofreu muito durante esse período, nem ela sabia explicar porque tinha matado o homem que amava e era seu marido. Teve alucinações, em algunas noites as mesmas visões lhe assombravam, só que nessas ocasiões não a maltratavam mais e o corpo do homem que sempre ia em sua direção ela via caído ao chão, inerte. Orientada por pessoas do seu relacionamento ela procurou um centro espírita para tentar uma ajuda através de uma regressão no tempo. Ela aceitou, se prontificou a fazer e descobriu o que realmente aconteceu no passado. No ano de 1836 ela foi casada com um grande empresário chamado Eufrásio, com quem teve dois filhos, porém, como ele viajava muito, ela, cujo nome era Somália, traía-o com um dos funcionários de uma empresa dele. Descoberta a traição, as pessoas que admiravam Eufrásio se juntaram para castigá-la e depois entrega-la para o marido. Multas pessoas a seguraram e a espancaram, foi nesse momento que Eufrásio, já sabendo do caso, se aproximou dela com uma faca e a golpeou mortalmente. Antes de morrer Somália prometeu voltar para se vingar. Somália voltou como Georgina e Eufrásio como Mauro. E o desfecho da história foi esse.