A FOTO QUE NUNCA FOI TIRADA

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A FOTO QUE NUNCA FOI TIRADA

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Era 12 de outubro de 1993. A capela de palha, banhada pelo sol forte, estava repleta de pessoas. Era dia de festa, com batizado e primeira eucaristia. Aureliano estava na fila para fazer a primeira comunhão, vestindo uma túnica branca com uma fita vermelha presa à cintura, um símbolo da importância do momento. O cheiro das flores campestres misturava-se ao aroma do incenso, enchendo o ambiente de uma atmosfera solene.

O jovem Aureliano, com seus pensamentos inquietos, sentia-se indigno de receber Cristo na hóstia consagrada. Considerava-se pecador, ainda que seus pecados fossem pequenos palavrões que escapavam vez ou outra. A catequese o havia preparado, mas ele sentia que algo faltava para aquele encontro tão sagrado. Curioso, ele se perguntava sobre o sabor Daquele que, a partir daquele dia, faria parte dele por completo. Seus pensamentos, embora ingênuos, estavam carregados de grande significado. Aureliano queria registrar aquele momento para sempre.

— Ei, Aureliano! — chamou Marisa, sua amiga de catequese, sorrindo enquanto ajeitava a fita azul em seu cabelo. — Está ansioso?

— Um pouco — respondeu ele, tentando parecer mais confiante do que realmente estava.

No meio da multidão, seus olhos avistaram uma pessoa com uma máquina fotográfica, daquelas que usavam bobinas de filme. Numa época em que a tecnologia não era tão presente, essas máquinas eram raras. Aureliano, tomado por um impulso, pediu à pessoa que registrasse o encontro mais esperado de sua vida.

— Por favor, o senhor poderia tirar uma foto minha durante a comunhão? — pediu Aureliano, os olhos brilhando de esperança.

A resposta foi negativa. A cota de fotos na bobina era restrita e não havia espaço para mais uma. Aureliano compreendeu e agradeceu, resignado. Talvez, pensou, se aquele momento fosse registrado, ele se perdesse no tempo, consumido pela umidade, manchas e mofo.

— Tudo bem, Aureliano — disse Marisa, colocando a mão em seu ombro. — O mais importante é o que você vai sentir. Isso ninguém pode tirar de você.

No entanto, a memória de Aureliano foi muito além do clique da máquina. Ele registrou cada detalhe do encontro com uma clareza que só a mente pode proporcionar. Os símbolos daquele dia – a túnica branca, a fita vermelha, a capela de palha – permaneceram vivos em sua lembrança. E, guardado com carinho, um simples cartão de recordação com a imagem do Anjo da Guarda e a data do encontro também mantinha viva a memória daquele dia.

Décadas depois, Aureliano refletia sobre como a tecnologia moderna permite registrar a riqueza e o sabor de momentos que nunca se apagam. No entanto, ele sabia que nenhum avanço tecnológico poderia substituir o valor das memórias que ele guardava no coração.

— Papai, esse é o cartão da sua primeira comunhão? — perguntou seu filho, apontando para o cartão envelhecido na mesa.

— Sim, querido — respondeu Aureliano, sorrindo. — Esse cartão e minhas memórias são tudo o que tenho daquele dia. E é o suficiente.

E assim, o encontro sagrado de 12 de outubro de 1993, celebrado sem um registro fotográfico, continuava a brilhar intensamente na alma de Aureliano, um testemunho eterno de sua fé e devoção.

Vicente Fialho
Enviado por Vicente Fialho em 27/06/2024
Código do texto: T8095177
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