A noiva

Dominique era uma linda estudante, jovem e decidida, a única em sua família a cursar o ensino superior. Seu objetivo era se formar e dar continuidade ao ramo imobiliário estabelecido por gerações de sua família. Inteligente e habilidosa, ela adorava lidar com os clientes mais difíceis da imobiliária, apostando em seu dom da oratória para resolver qualquer impasse ou conflito financeiro. Sua família já a incentivava a montar seu enxoval para o casamento, mas, apesar dos muitos pretendentes, Dominique acreditava não ter sorte no amor, pois nenhum relacionamento se firmava; sempre que parecia ficar sério, o rapaz desaparecia.

Até que um dia conheceu um rapaz, filho de um cliente. Ele era jovem, bonito e passou a se interessar por ela. Sempre a buscava em casa para irem ao cinema ou a parques, e Dominique acreditava que, dessa vez, iria dar certo, começando a fazer planos para o casamento. Contudo, um belo dia, recebeu uma ligação que não gostaria de ter recebido: seu namorado estava no hospital, gravemente ferido em um acidente e quase morrera. Dominique correu para visitá-lo e, ao chegar, encontrou-o cheio de faixas e hematomas. Quando ele abriu os olhos, sorriu e disse que algo muito estranho havia acontecido.

— Estava dirigindo o carro do meu pai. A pista estava escura e dentro do carro havia um breu. Decidi ligar a luz interna porque me sentia observado. Quando liguei a luz, vi uma mulher no banco de trás do carro, vestida de noiva, com um vestido antigo e um véu que cobria um corte de cabelo estranho. Seus olhos emanavam uma luz gélida e havia um sorriso diabólico em seus lábios. Ela colocou a mão sobre meu ombro e, no mesmo instante, perdi completamente o controle do volante. Derrapei violentamente na pista e bati de frente com uma grande árvore. Acordei aqui, sem saber como cheguei!

Ele então abriu a mão e mostrou uma caixa clara. Dentro, havia um lindo anel com uma pedra azul extremamente brilhante. Ele estava a caminho da casa de Dominique para pedi-la em noivado. Em choque, Dominique não sabia o que dizer; queria abraçá-lo, mas se contentou em dar um beijo em sua testa e dizer:

— Sim, eu aceito!

Após receber alta, Roberto continuou sua recuperação na casa de sua mãe, com Dominique visitando-o diariamente. No entanto, ela percebia que seu noivo estava triste. Ao perguntar o motivo, ele explicou que não conseguia mais dormir devido a pesadelos recorrentes com a mesma jovem que vira no carro durante o acidente. Nos sonhos, ela aparecia sempre vestida de noiva, segurando um buquê de flores murchas, em um jardim, movendo-se lentamente para trás enquanto dizia uma frase, repetindo-a de trás para frente até desaparecer no ar.

— Ele é meu, uem é ele, uem é ele, uem é ele…

A mãe de Roberto, decidida a ajudar o filho, planejou levá-lo a uma vidente assim que ele melhorasse. Passaram-se algumas semanas até que ele pudesse andar e sair de casa. Finalmente, sua mãe o levou à casa de uma senhora conhecida por falar com os mortos. Ao chegarem, ela cumprimentou o rapaz e começou a falar alto, bravamente olhando fixamente para as costas de Roberto.

— Quem é você? Não, você precisa ir, precisa deixá-lo em paz, agora! Sua vida já se foi, você não pode culpá-lo, precisa seguir a luz, precisa ter paz!

Um cheiro forte de algo mofado preencheu o ambiente, e um vento forte apagou todas as velas enquanto a médium, em plenos pulmões, dizia:

— Em nome de tudo o que é mais sagrado, esta vida não é sua. Siga para a luz, perdoe, perdoe-se, siga a luz, siga a luz!

Com os olhos fechados, a médium, com as mãos abertas no ar, empurrava algo invisível enquanto repetia a mesma frase. Tudo se silenciou, e o cheiro que agora penetrava as narinas era de rosas. Uma imensa paz tomou conta do ambiente, tudo parecia calmo e sereno. A médium abaixou os braços, levantou a cabeça e disse que agora tudo estava em paz, que o espírito tinha seguido para a luz. Explicou que a moça que Roberto tinha visto no carro e que assombrava seus pesadelos havia sido noiva de Dominique em uma vida passada. Naquela vida, Dominique tinha sido um homem que prometeu casamento àquele espírito, mas acabou deixando-a por outra mulher. A noiva, incapaz de suportar a traição, cometeu suicídio, morrendo com tanto ódio e sede de vingança que prometeu que seu noivo jamais seria feliz, jamais se casaria. Esse rancor a fez perseguir o espírito do noivo mesmo em sua nova encarnação, sem perceber que era Dominique, e não o antigo noivo, que ela estava assombrando.

Hoje, fazem 50 anos que Roberto se casou com Dominique e 10 anos desde o falecimento dela. Apesar de tudo, nunca se envolveu com outra mulher. Seu amor por Dominique continua, mesmo sem tê-la ao seu lado. Contou essa história ao filho mais velho, que acredita que ele está ficando senil. O tempo pode afetar a memória, mas não a história. Roberto espera encontrar sua Dominique quando sua hora chegar, e torce para que o destino os una novamente.

V T Milan
Enviado por V T Milan em 17/06/2024
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