A gosto da casa

À primeira vista, a casa me pareceu perfeitamente normal, embora estivesse fechada a tanto tempo que a placa de "aluga-se" na fachada já houvesse desbotado.

- O proprietário é exigente - explicou o corretor com um sorriso simpático. - Ele prefere manter a casa fechada do que alugar para qualquer pessoa.

Agradeci mentalmente por não ser considerado "qualquer pessoa".

- E ele só aluga por um período mínimo de um ano? - Indaguei.

- Sim... também para evitar que alguém resolva alugar por temporada - redarguiu. - Residentes temporários geralmente tendem a cuidar menos do local onde moram.

Foram exigidos dois meses de depósito, mas felizmente eu podia pagar. Assinei a papelada, recebi as chaves, e no dia seguinte fiz a mudança. Quando cheguei pela manhã para receber o caminhão da transportadora, o vizinho da casa ao lado, que estava regando o jardim, acenou:

- Oi! Você é o novo inquilino do Burns?

Aproximei-me da cerca baixa que separava as duas propriedades e estendi a mão.

- Sim, Rio Lane...

- Joel Parker.

Trocamos um cumprimento e Parker foi logo me dando algumas informações que eu não recebera do corretor:

- Burns não gosta muito de alugar a casa, devem ter lhe informado. Mas talvez não tenham dito o motivo.

- Algo a ver com inquilinos desleixados?

- Não exatamente - Parker baixou a voz, e me disse em tom de confidência: - A casa é temperamental.

Ergui os sobrolhos.

- Como assim... temperamental? Assombrada ou coisa que o valha?

- Não, até onde eu saiba. Um tipo que morou aí faz uns dois anos, me disse que a luz da sala costumava piscar à noite. Ele pensou que fosse um problema elétrico, ou da lâmpada; mas aí, percebeu que isso só acontecia quando ele estava assistindo futebol na TV, nunca enquanto lia um livro ou revista, ou recebia visitas.

- A casa não gosta de jogos de futebol pela TV? - Questionei intrigado.

Parker abriu as mãos.

- Vai saber.

Naquela noite, depois de terminar de arrumar meus pertences, parei no meio da sala e olhei para o teto, onde a lâmpada estava acesa e sem dar o menor sinal de que iria falhar.

- Oi, eu seu novo aqui, - declarei em voz alta - e não sei quanto tempo vou ficar. Imagino que você goste de sossego e eu também, portanto acredito que poderemos ter uma convivência tranquila.

Para deixar bem claro quais eram as minhas intenções, coloquei um headphone Bluetooth e só então liguei a TV, num jogo de futebol. Acomodei-me no sofá para assistir a partida, e duas horas depois, quando tudo já havia acabado, desliguei a TV pelo controle remoto e ergui-me para ir dormir. A lâmpada não havia piscado sequer uma vez.

- Obrigado - eu disse, antes de apagar a luz.