Êxodo dos seres internos
Só podia respirar fundo, fundo curto, soltar expirar - suas pernas rasas, vinha de uma família de nem tanta estatura, vibravam vermelhas como que de energia acumulada e dormência. Seu estômago remexia-se de fome doentia que pedia todos os alimentos deglutidos e regurgitados e deitada à cama do estômago residindo monstros, dentro de nós existem os monstros e o somos, alimentamo-nos de nós mesmos, um completo boi de couro e carne produzida não susteria. A mãe cozinhava para todos desgostosa de roupas lisas em fino tecido gigantemente estampadas de bichos ou flores-plantas que em quantidades das quantidades formavam a um olho inseguro e desatencioso rostos e imagens de animais selvagens ou qualquer formato que lembrasse rosto de criatura qualquer, invisíveis agora, à parte com as mulheres que vão se materializando em um tipo de bruxa ressequida, maltratada, suorenta de suor e vapor que vasa dos caldeirões e que não pôde mais atravessar a barreira da porta, e todos quantos, seriam quatro? Ele o mais velho parecia que continuamente nascia da mãe florida ou criaturescas, e são quantas mulheres numa mulher ele se perguntava, são quantas já que todas são tão cheias de tantas e ele também inúmeros na própria solidão; a solidão vinha do afastamento da mãe com a própria mãe e os irmãos, foi jogada e amarrada nela todas as doenças ancestrais da família para que esta sobrevivesse, amarraram a ela o que todos deveriam ser e fugiram, pintaram-se todos de virtudes e pintaram-na com os trovões do medo e da dor, tolos guardavam a incompreensão para ela, ele cansou-se logo de surgir diente de tal e tal resposta pois mesmo não sentia desejo de mastigar o arroz tão rápido e engolir caroços inteiros e alguns que ficariam presos ao vizinhos com cavidades da glote e logo vinha uma fome e quantas quantas nela que eu quero em mim tantas delas mas ela sua mãe foi jogada há muito ao desalento de prisão interna e se olhava seu corpo belo de beleza escondida em roupas de dormir e sentia uma paixão por sua existência, o amor logo se dissipava com a impotência que escapava da mulher, o olhar longínquo que não podia também não lhe pertencer, bagunçava-se as estruturas nervosas do corpo em tremores de arrepio ao lembrar tantos tortuosos comentários que se professavam dela e ela não é não é não é não é doida, não é não é não é incapaz e ela ainda jogada aos sentimentos reles vazios lixos, fugida, fugitiva, dos espelhos e de si própria. Ultimamente era tal e tal atormentado por visões de afogamento enquanto também mastigar e mastigar o arroz e uma pasta, então, os caroços batidos de dentes e a mãe para o irmão pode parar de falatório pois o irmão dissociava-se tão logo que nasceu e criava os próprios monólogos e sorria-se em gargalhadas de poderoso ser que se consagra adulto ao banimento qualquer que lhe infligissem pois só poderia existir ele em contrapartida do outro e nunca o contrário, por isso os monólogos que existiam, mas vinha se perdendo para o vírus do discurso ao outro, não se podia mais gritar sem lembrar que outro ouviria, silenciava-se silencioso diariamente, crescia como fumaça de incêndio o perigo de se render ao brilho sem cor ou qual brilho resplandecente do que escapulia a experiência de dentro do si. Um solavanco no corpo da mãe de tanto em excesso a rejeição e o desamor, e quantas que nela habitavam? [sussurrante pergunta mental] Geralmente três visto que pois Deus óh em três e nós semelhantes dele imag-e-m-e-semelhança e ele estava se afogando nela ou afogaria no afogamento, imersa em um grito que sobe como que oxigênio ao ar e a matéria ao chão, sobre o quê que não o alento de um choro inúmero infindo compartilhado de um desespero que só explode pois tem tanto se aguentado em silêncio; a mãe ainda não sabe que nela existem três para salvá-la, ainda não sabe procurar pelo próprio altar em si, ele não pode dizer o segredo de todos os homens, de todas as mulheres, não pode dizer e vem o terror de e se ela não descobrir a tempo o grande segredo que Deus deixou para se revelar no dia a dia, em casa de pau-a-pique, num dia de ancestrais em caça. Afogaremo-nos onde mais que não seria em nós, em nós, imergimos, morremos ali, solavanco e tremor, emergimos. Talvez que a dor fosse - sim - o amor inerente dissimulado e dissuadido de existência pelo ódio exterior. Ele estava virando um flamingo, todo rosa em cor e aérea banhado em águas que lhe produziam óleo e cristal, e pensava a mãe uma águia impedida de voar branca ou negra quando quisesse, disseram-lhe que suas asas curtas não alcançariam presas e altas altitudes, deve mesmo que as suas três lhe surjam já. Ele faria uma oração, decidiu por fim, uma oração para que as que nela habitavam finalmente, finalmente, as que nela existiam emergissem. Elas dançariam uma dança criada e jamais conquistada e sem nenhum pudor ou moral, não saberiam o que seriam tais que não fosse pela via do desprezo. Ele flamingo e pescoço reto ao céu receberia o sol claro e veria a águia que em si tinha três outras terrorosas águias-deus e saberia pelas suas asas abertas que também seria um em um momento em formato múltiplo de seu flamingo.
O corpo parecia apenas conhecer a brusca tomada de decisão de raiva, tremia em medo, sussurro, ódio, revolta, revolução, diáspora, êxodo, muralha, tremia em razão, constância, ardor, carcaça, luz, raiva, medo; e era como que uma lição, vinha-lhe o ódio, a mãe solteira e divorciada de seu pai morando na avó, discussões à porta da cozinha para a garagem, o irmão mais novo mais forte
- essa mulher é o Satanás, manda ela embora, vai embora
e ela de vestido preto é jogada no portão também preto e chega chega, o pai fala, e ele havia decidido que vendo isso tinha uma bailarina dentro dele e lhe quebrava as costelas e dizia que delicadeza para o público mesmerizado, olhe, a delicadeza pura não vem antes da dureza, sempre depois. A mãe escondida num quarto lavada em lágrimas, salina, nariz que derrete em águas da terra, uma aproximação e logo a ilusão se perderia, ela era um mar, um oceano solitário largado à própria enormidade éons infinitos, peixes e monstros nadavam em suas águas salgadas. Disse a bailarina alguma coisa com as pontas dos pés. E nela três mesmo, quantas nela seriam nesse olhar vago que um dia se enxugará ou se molhará de amor, e mãe seria algo que nunca se pararia de escrever, a mulher nunca findaria, os seios encheriam de esperança, vida desceria em sangue hemorrágico e seria um formato integrante e génese e a ponta dos pés diziam que não eram três mas quantidades fora do contar possível e nele também, estradas distantes de pessoas, deixe só que a tribulação venha do corpo e deixe a água cobrir tudo, elas te virão…o dedo queimado de tua mãe é o sinal de fumaça para que a multidão dela sempre a encontre, vocês jamais estiveram perdidos, não se perde nada só porque o escuro vem, nós somos também o escuro. Do mergulho na lama sobra a água doce para se lavar e a lama seca que tanto e tanto e tal machuca, se dissolve, tão logo percebida. Dos buracos das estradas cinzentas e mortas sobram as brechas e beiradas, dança de ponta de pés sobre os precipícios, o cair nem sempre vem antes da morte, e se de cair não se morre, então de se não morrer não se vive, ou não se vive de si não morrer. Escuta bem, lá não existe nada, tudo é qualquer coisa e coisa nenhuma, é um cansaço, mas há de sermos águas, latrinas, fuzilamento, destruição, terror, assombro, criação, beleza [dança de bailarina].