Cinema
Revisito o sótão e de lá recupero o contrabaixo acústico 3/4. Assopro a poeira e entre partituras comidas pelas traças acho até o arco.
Às oito o cuco do relógio interrompe o sonho e abro os olhos encarando as teias de aranha no teto esperando a alma voltar ao corpo. Tenho sede de sangue ao lembrar de dois espécimes elétricos, um com cinco cordas, roubados por um filho de chocadeira que igual à um rato que invade a cozinha na madrugada foge na surdina e se refugia em algum cano de esgoto fétido.
Resmungo sozinho pensando em vingança.
Alguém mandou um e-mail cobrando um roteiro de uma peça que nunca terminarei. Nem as revistas sobre cães e gatos me pagam, não vou confiar em diretores de teatro e seus caprichos.
Acabou a folia, continuam as manias e os vícios que preenchem as horas e a angústia da existência. Um outro cronista cita o divã, o álcool ou a religião. Cada um escolhe sua panaceia ou veneno pra driblar o tédio e o vazio. Não julgo.
Prefiro os filmes, ouvi dizer que nesta semana que começa os ingressos estarão mais baratos.
Coloco um pacote de amendoim no bolso da bermuda e saio a pé ansioso para assistir aquela película de Costa-Gavras.