Cinema

Revisito o sótão e de lá recupero o contrabaixo acústico 3/4. Assopro a poeira e entre partituras comidas pelas traças acho até o arco.

Às oito o cuco do relógio interrompe o sonho e abro os olhos encarando as teias de aranha no teto esperando a alma voltar ao corpo. Tenho sede de sangue ao lembrar de dois espécimes elétricos, um com cinco cordas, roubados por um filho de chocadeira que igual à um rato que invade a cozinha na madrugada foge na surdina e se refugia em algum cano de esgoto fétido.

Resmungo sozinho pensando em vingança.

Alguém mandou um e-mail cobrando um roteiro de uma peça que nunca terminarei. Nem as revistas sobre cães e gatos me pagam, não vou confiar em diretores de teatro e seus caprichos.

Acabou a folia, continuam as manias e os vícios que preenchem as horas e a angústia da existência. Um outro cronista cita o divã, o álcool ou a religião. Cada um escolhe sua panaceia ou veneno pra driblar o tédio e o vazio. Não julgo.

Prefiro os filmes, ouvi dizer que nesta semana que começa os ingressos estarão mais baratos.

Coloco um pacote de amendoim no bolso da bermuda e saio a pé ansioso para assistir aquela película de Costa-Gavras.

Rodrigo Margini
Enviado por Rodrigo Margini em 18/02/2024
Código do texto: T8001997
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