O menino preso na caixa
Mãe! Mãe! Tem um menino preso na caixa do correio!” Lembro-me de entrar correndo enquanto gritava pelos corredores da casa. Minha mãe tentou me explicar mil vezes que não era possível alguém ficar preso em uma caixa de correio, e que aquilo devia ser apenas coisa da minha imaginação. Mas eu tinha certeza de que o tinha visto lá, espiando pela pequena fenda retangular onde as pessoas socavam envelopes enquanto passavam sempre apressadas, mesmo nos domingos em que não tinham para onde ir.
O menino não conseguia me ver completamente, pois sua visão era limitada pela fresta estreita, então ele só enxergava as melhores partes de mim porque era o que eu permitia que ele visse. Quando se aproximava da fresta para me olhar, eu tratava logo de deixar à mostra apenas o que eu tinha de mais bonito, e assim era bem fácil fazê-lo gostar de mim, ou das poucas partes que eu também gostava.
Um dia, ele me perguntou se eu poderia descrever o céu, a rua e as pessoas que passavam. Comecei a contar-lhe tudo o que estava vendo: o vendedor de cachorro-quente, o cachorrinho com a pata machucada, os prédios e o céu azul. Disse a ele que uma senhora estava cuidando do cachorrinho ferido, mas era uma mentira. Eu só não queria que o menino soubesse que aqui fora as coisas também podem ser tristes.
A partir desse dia, todos os dias depois da escola, eu o visitava. Ele me pedia para falar sobre o meu dia. Às vezes, ele ficava sério e me encarava por um tempo, mas depois sorria. Nunca soube o que aquilo significava. Não sabia se ele estava feliz por ouvir minhas aventuras pela vida ou triste por não ter as suas próprias.
Um dia, eu disse que ia arrebentar aquela caixa e tirá-lo de lá à força. Mas o menino me respondeu que a caixa era inquebrável e só podia ser aberta por dentro. Ele tinha construído uma tranca há muito tempo, mas se esquecera onde guardou a chave. Foram tantas tentativas para abrir que ele se cansou, e um dia ele simplesmente desistiu...
Eu disse a ele que voltaria todos os dias. Quem sabe, com o tempo, ele pudesse se lembrar de onde guardou a chave? Às vezes, as lembranças aparecem assim, do nada, como quando passamos o dia tentando lembrar a letra de uma canção e não conseguimos, mas à noite, quase adormecendo, as palavras aparecem magicamente. De onde elas vêm? Se estavam escondidas na minha mente o tempo todo, por que não apareceram quando eu as chamei? Será que eu não estaria no controle da minha própria mente? Compreender os enigmas da psique humana, sempre me roubou noites de sono e quase custou fragmentos da pouca sanidade que me resta.
O menino me perguntou o que aconteceria se ele nunca se lembrasse e tivesse que passar o resto da vida no escuro. Mas eu não respondi. Em vez disso, abaixei a cabeça e fui embora. No entanto, continuei voltando, dia após dia. Essa foi a única resposta que dei ao menino. O menino que encontrei preso em uma caixa que ele mesmo construiu e da qual não podia se libertar, o menino que era meu amigo."