TERROR PARALISANTE: O URRO E SERPENTES

Godofredo Ramirez nunca havia sofrido de um único episódio de terror noturno sequer em toda a sua vida. Será que poderia-se considerar "sortudo"? Pois, para ele, os relatos sobre paralisia do sono, projeções astrais e outros besteiróis dessa natureza não passavam de um amontoado de baboseiras ridículas, inventadas por pessoas igualmente patéticas.

Isso até um dia acordar (ou, acreditar que estava acordando), espantadíssimo, ao ouvir um forte urro repentino e horripilante trovejando dentro de seu quarto. Quando abriu os olhos em assombro, as luzes da rua iluminaram ninguém menos que o rei dos ogros: Shrek, grunhindo feito um animal, grudado no teto do quarto, encarando-o com olhos característicos de um homicida. Ele parecia tão irado lá no alto do teto, que isto, perturbou profundamente Godofredo. O que diabos era aquilo? Era um pesadelo?! Ele se questionava enquanto o ogro esverdeado gravitava no teto acima dele semelhante à alguém possuído pelo capiroto. A impressão era a de que Shrek adoraria apertar as mãos em volta de seu pescoço e sufocar ele até a morte. E depois de matá-lo, fazer de seu corpo o jantar. Godofredo temeu pela vida naquele momento, imaginando tão horrenda cena.

Logo, outro fato se assomou ao seu desespero: Godofredo não conseguia se mexer, mesmo que enviasse comandos urgentes ao cérebro para correr dali às pressas. Parecia colado à cama, sem escapatória, tendo que encarar os olhos sanguinários de Shrek; tão diferente do ogro carismático ao qual estamos acostumados.

Como se não bastasse, ele parecia não ser o único elemento intruso no quarto. Pelo campo de visão periférica Godofredo avistou o vulto de um bicho grande e esquisito. O coração bateu em disparada quando notou enormes orelhas no bicho estranho. “Por favor, Deus, que não seja quem eu estou pensando que é… POR FAVOR, DEUS, QUE NÃO SEJA O QUE EU TÔ ACHANDO QUE É!!!!!!”, seus pensamentos gritavam ao mesmo tempo em que seu coração parecia querer sofrer um ataque cardíaco. O bichão estranho se esgueirou para mais perto: uma ratazana gigante, que num salto, parou bem em cima dele. Godofredo provavelmente se molharia inteiro, em vias normais, porém, paralisado como estava, cada músculo encontrava-se petrificado. A urina ficou presa na uretra, querendo se ver livre a todo custo, mas não saia de jeito nenhum; seu bilau parecia obstruído, o que causou uma agonia horrível!

A ratazana gigante era Mickey Mouse versão crackudo da Dark Web. E vendo a vilanesca criatura em cima de si, Godofredo tentou gritar apavorado, mas a voz não saiu. Cada célula de seu corpo congelada de medo; Mickey Mouse era seu pesadelo na terra. Não conseguia compreender como uma ABERRAÇÃO daquela fazia tanto sucesso entre o público infantil.

Como não poderiam saber que aquela ratazana asquerosa de esgoto era um dos comandantes do submundo junto do reptiliano Mark Zuckerberg?! E que as crianças sumidas nos parques da Walt Disney eram levadas para serem ritualizadas a fim de que mantivessem o status de sucesso e império que a empresa detinha à anos?!

Todas essas perguntas vieram à tona junto com os traumas das férias passadas com a família em Orlando, em sua infância.

— Olá, amiguinho — disse Mickey crackudo com a voz dublada pelo Guilherme Briggs. Os olhões desvairados para cima de Godofredo, parecendo uma besta amalucada e chapada.

Olhar no interior daqueles olhos despirocados fez Godofredo recordar do evento traumático experienciado em Orlando: Mickey e sua turma de demônios cantantes e sorridentes tentando raptar ele em meio às atrações da Walt Disney World. Mickey e sua corja de personagens filhos do cão não saindo da cola dele até conseguirem levá-lo para o castelo da Cinderela, obrigando-o a ir até as masmorras subterrâneas escondidas do público.

Quanto mais encarava o fundo dos olhos do Mickey cheirador de pedra, mais se lembrava: das masmorras, dos personagens transfigurados em potestades malignas, dos políticos envolvidos no pizzagate, do Tom Hanks, do próprio Mickey rato de porão segurando seu braço com força, e Mark Zuckerberg. Esse último, assentado num trono feito de ossada humana, transformado em sua verdadeira natureza: uma lagartona verde diabólica e gigante surgida há milênios; um reptiliano. Godofredo se lembrou do idioma arcaico no qual Mark lagartixa do Paraguai conversava com Barack Obama, enrolando seu lingueirão de réptil dentro da boca de uma forma bastante exótica e nojenta. Ao canto, Xuxa Meneghel, Luciano Huck e Anitta, recebendo instruções de como implantar ideias para destruir o Brasil.

Somente mais tarde Godofredo foi compreender o que se passava nas masmorras da Disneylândia: reuniões onde se discutiam as pautas da agenda satânica para escravizar os terráqueos. Claro que, só depois de adulto que foi entender isto.

Já que com onze anos de idade, o que testemunhou, na sua cabeça não passava apenas de uma situação bizarra cheia de gente estranha nos subsolos do castelo da Cinderela. E ele só não presenciou mais nada porque danou-se a correr, se soltando do Mickey e dando uma rasteira coreografada de capoeira no mesmo. Branca de neve versão acompanhante de luxo de quinta, tentou pegá-lo, seguida das outras princesas prostituídas. Tom Hanks tentou convencê-lo de que nenhum deles lhe faria mal, dizendo que para eles, Godofredo era como a bola Wilson de basquete a quem ele contracenou ao lado em Náufrago. Mas o papinho furado de Tom Hanks não funcionou, e Godofredo mostrou o dedo do meio para ele. Foi um verdadeiro fuzuê, ao qual o garoto pensou que não escaparia, porque todo mundo estava tentando pegá-lo para sacrificá-lo no altar repleto de serpentes venenosas de Mark Zuckerberg. Ainda bem que conhecia alguns movimentos de capoeira, pois foi isto que o salvou por um tempo, antes de um clarão repentino se fazer presente no meio do cômodo. Todos haviam ficado boquiabertos vendo o anjo loiro aparecer por ali de repente. Era He Man em toda a sua glória, exibindo seu impressionante porte físico, e outras coisas à mais. He man, que meteu a porrada e o cacete em todo mundo, dando tempo para Godofredo escapulir pelos corredores, e sair das masmorras, do castelo. Minutos depois, tinha voltado para os pais fingindo que nada de bizarro tinha acabado de acontecer, tentando não transparecer que minutos atrás tinha sido raptado por um grupo satânico prestes a fazer dele um sacrifício.

Naquele terrível e estranho dia ainda tentou se divertir nos brinquedos. Mas sempre de olho, pronto pra gritar e correr caso notasse alguém estranho se aproximando novamente. Ele soube que ninguém jamais poderia ficar sabendo daquela situação, ou o taxariam de doido. Então decidiu guardar aquela bizarrice toda às sete chaves.

— Querido amiguinho do peito… — Mickey falou apertando as bochechas de Godofredo com as mãos enluvadas sujas de uma mancha escura, que só poderia ser sangue. Ou outra substância repugnante. — Você escapuliu de nós naquele dia por pura sorte. Mas hoje, ninguém te ajudará.

Dizendo isso, os olhos esbugalhados e despirocados de Mickey ratazana desviaram-se de Godofredo e foram parar na porta fechada do quarto. Havia alguém, ou alguma coisa se aproximando do quarto pelo corredor, com passos firmes.

— O mestre está chegando… — Shrek disse acima deles, numa voz de devoção.

Godofredo não sabia o que esperar. Tudo o que tinha ao seu alcance era permanecer parado, desejando que aquele pesadelo acabasse o mais rápido possível. A iluminação da rua fez com que uma sombra aparecesse na fresta da porta ao chão. O silêncio era inquietante. De repente, a porta foi escancarada brutalmente, revelando o fundador do Facebook em sua forma aterrorizante de lagartona demoníaca. Zuckerberg estava acompanhado de várias mambas negras serpenteando o chão do quarto procurando por alguém para fazer de vítima. De trás de Mark lagartixa, surgiu Tom Hanks com sua amada companheira, a bola Wilson. O ator se aproximou e sorriu simpático para Godofredo, mas em seguida jogou Wilson contra a face dele com tanta fúria que acabou quebrando o nariz de Godofredo. Mickey gargalhou como se estivesse num episódio super divertido da Disney Channel.

Com um comando de Mark, as mambas subiram pelas paredes e pela cama de Godofredo Ramirez, que nada podia fazer, além de se manter imovel sentindo o nariz arder em dor. As mambas negras entraram por debaixo dos cobertores. E Godofredo nem tentou rezar, porque nem adiantaria mesmo. As serpentes lhe desferiram várias picadas por todo o corpo, impiedosamente, enquanto Shrek capiroto, Mickey ratazana, Tom Hanks e Mark lagartixa faziam troça dele às gargalhadas e urros. Não tardou para Godofredo começar a inflar parecendo um balão, sem parar. Mickey rato de porão teve até de sair de cima dele, pois a cada segundo, ele ficava maior e mais inchado.

A sensação de estar inflando, assomado a dor do nariz e do veneno em seu organismo era o próprio inferno na terra. Godofredo estava se sentindo como um peixe baiacu, com a diferença de que não parava de crescer; um baiacu, um balão, uma bola de chiclete expandindo cada vez mais. E o pior é que nada podia fazer, apenas vislumbrar sua iminente morte. Mais pior ainda, em algum canto, alguém colocou Darude - Sandstorm para tocar como se seu inchaço anormal fosse uma espécie de piada ou algo a quê se divertir; foi Zuckerberg que colocou a música para tocar em sua caixinha de som da JBL enquanto ria de Godofredo.

Godofredo sentiu os olhos lacrimejando de vergonha e dor enquanto continuava a inflar assustadoramente, ouvindo as chacotas que Shrek, Mickey, Hanks e Zuckerberg faziam dele. Era como se estivesse novamente no ensino médio sendo vítima de bullying.

— Oh, não, acho que ele vai explodir, galerinha! — disse Mickey, fingindo surpresa, gargalhando junto dos demais.

Era como se Godofredo estivesse se tornando uma bola gigante, ambulante e flutuante - a bola Wilson de Tom Hanks. E quando ele percebeu que estava se aproximando ao limite dos limites da expansão corporal, fechou os olhos, amedrontado, pois sabia que ia morrer. Até as traiçoeiras mambas negras se afastaram assustadas pelo que estava prestes a acontecer.

Um clima de tensão se acumulou no quarto. E daí o grupo de debochados se calou ao notar que a hora do ápice se aproximava. Godofredo fez um barulho estranho com a boca, tentando pedir ajuda ou misericórdia, não se sabe. O que se sabe é que o corpo dele atingiu o limite de expansão, e num som indescritível, Godofredo explodiu igual a um balão espetado por uma agulha; porém, ao contrário dum balão que só libera ar, o corpo extraordinariamente volumoso de Godofredo espalhou sangue e vísceras por todo o quarto.

Nesse momento houve um lampejo claro e rápido.

— AAAAAAAAA!!!! MEU DEUS QUÊ É QUE FOI ISSO? CACETADAS… — Godofredo acordou exasperado e ofegante, remexendo-se tresloucado em cima de sua cama. De tanto susto, a urina retida em seu bilau, se soltou, molhando ele, os lençóis e a cama.

Olhou atordoado ao redor procurando por Shrek, Tom, Mickey ou Mark. Mas, não havia ninguém além dele no quarto. Respirou fundo, recuperando o fôlego aos poucos, e relaxando de alívio ao perceber que tudo aquilo não tinha passado de um pesadelo incrivelmente real. Ainda suava e sentia o corpo estranho e molenga, mas nada que o fizesse perceber algo fora do comum. Ficou lá deitado em sua própria urina, sentindo-se extremamente cansado. Sabia que em algum momento teria que levantar e limpar aquela bagunça. Mas ainda precisava de um momento para se recuperar do pesadelo, e acalmar os tremores de seu corpo. Nunca havia tido um pesadelo tão bizarro quanto aquele… E enquanto tentava recobrar as forças, uma sombra paralisada na fresta da porta se afastou lentamente arrastando-se pelo corredor. O que passou totalmente despercebido por Godofredo, ainda impressionado com o que acabara de sonhar.

Ansyel Violet
Enviado por Ansyel Violet em 12/11/2023
Reeditado em 12/11/2023
Código do texto: T7930416
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