Apagão dos Abraçados
— Abracem-se – disse a voz ecoando pela grande sala – agrupados dois a dois.
Começou o momento de euforia. Corriam para todos os lados, se abraçando e se desabraçando. Era possível ouvir pedidos desesperados de abraço.
— Estejam abraçados antes das luzes apagarem. Além disso, você ficará abraçado para sempre com a pessoa que escolher.
Ficaram desesperados. Buscavam loucamente alguém para ser seu par. Eu apenas observava de longe, enquanto eles fingiam não me ver.
— Falta um minuto – disse a voz – juntem-se logo, o apagão está próximo.
Cada vez ficavam mais desesperados. Corriam para buscar alguém, corriam para trocar de par, e eu ficava estático no canto da sala.
Foi passando o minuto com as pessoas correndo em pânico, e quando a voz anunciou os últimos três segundos vi uma pessoa que resolveu se abraçar com um par, formando um trio.
Então as luzes se apagaram. O silêncio era ensurdecedor. Não era possível ouvir nem uma respiração, um bater de pés ou um cochicho.
As luzes então se acenderam, e magicamente estavam todos os abraçados caídos no chão, mesmo sem ter feito barulho de gente caindo.
— Aparentemente sobrou você, sozinho e vivo. Pode sair pela porta, você está livre.
Caminhei pela sala, me desviando dos corpos caídos. Passei pela porta aberta e logo senti um calor infernal. Era tudo um deserto, sem um sinal de vida.
Pensei se deveria me esforçar para abraçar alguém, mas cheguei a conclusão que ninguém me abraçaria.
O apagão e a voz foram misteriosos, mas o deserto morto e árido me trazia mais dúvidas.